Meus pais – Rabino Meir e Sima Itkin – fizeram parte de um grupo de chassidim Lubavitch que fugiram da União Soviética após a Segunda Guerra Mundial e vieram para os Estados Unidos sob orientação do Rebe Anterior.

Enquanto nossa família aguardava permissão para imigrar, ficamos em Paris. Eu era um bebê na época, mas me lembro da história sendo contada da visita pelo genro do Rebe Anterior – Rabi Menachem Mendel Schneerson, o futuro Rebe – que veio para acompanhar sua mãe aos Estados Unidos. Você pode imaginar a empolgação dos refugiados à sua chegada, com todos correndo para encontrá-lo.

Meu pai contou-me depois que Rabi Schneerson percebeu a necessidade dos chassidim de se conectarem com o Rebe através dele, e então ele pegou algo de mais pessoal que cada um possui – seu nome – e falou sobre isso.

Para meu pai ele disse: “Seu nome, Meir, vem de ohr, que significa luz. Você vai iluminar o mundo.”

Essa breve conversa foi a base para o apego e devoção da vida inteira de meu pai ao futuro Rebe.

Para meu pai e minha mãe, o Rebe era tudo. Ele representava a filosofia em que eles acreditavam, os valores que prezavam, e mais importante, o amor que unia todos os judeus. E tudo que ele dizia – ou até sugeria – era da maior importância para eles; seguiam suas diretivas ao pé da letra.

Portanto não foi ao acaso que eles compraram a casa no número 760 da Avenida Eastern Parkway, o mais perto possível do endereço do Rebe no 770. Meu pai tinha considerado outra propriedade a princípio, não na rua principal, mas a alguns quarteirões de distância onde moravam outras famílias religiosas, mas o Rebe perguntou a ele: “Você não gosta de mim como seu vizinho?” Então foi assim.

Devido a nossa localização, tínhamos um fluxo constante de visitantes. Nunca sabíamos quantas pessoas apareceriam em um determinado shabat após as preces enquanto elas aguardavam o início do farbrenguen do Rebe. Em certo sentido, nossa casa tornou-se uma extensão do 770, e cresci rodeada por muitos chassidim legendários, ouvindo as histórias que eles tinham para contar.

Um incidente que deixou uma duradoura impressão em mim ocorreu quando eu tinha treze anos. Eu estava para entrar no ensino médio e queria ir para a escola Beit Yaacov onde minha irmã mais velha estudava. Mas por sorte, Chabad tinha recentemente aberto uma nova escola para meninas, Beit Rivka, e meu pai disse que eu tinha que ir para lá. Eu contestei. Eu disse que eu não queria ir para uma escola que estava apenas começano a se estabelecer; e não queria ser testada. Então meu pai disse – como eu poderia ter previsto – “Escreva ao Rebe. Aquilo que ele disser você fará.”

Escrevi uma carta ao Rebe e a entreguei sem antes mostrá-la aos meus pais. Expliquei a ele por que não queria ir para Beit Rivka, e usei a expressão: “Não quero ser uma cobaia.” Definitivamente, não era a escolha certa de palavras.

Mas o Rebe sabia como me responder – uma adolescente que queria conquistar o mundo, ser especial, ser única. E ele o fez tão simplesmente. Ele riscou “cobaia” e escreveu “pioneira”.

E é claro, eu queria ser uma pioneira. Subiria uma montanha, atravessaria um rio, faria tudo! Ele apelou para meu senso de independência e orgulho. E é claro, fui para Beit Rivka.

Depois que me formei, eu queria fazer algo muito especial. Queria ser uma jornalista porque amava escrever. Com a aprovação dos meus pais, candidatei-me à Universidade Columbia, fui aceita, e até ganhei uma bolsa. E eu estava muito empolgada para ir.

Então o telefone tocou. Era o Rabino Mordechai Hodakov, o secretário do Rebe, pedindo ao meu pai para ir encontrar-se com ele. Meu pai foi e disseram: “Soubemos que sua filha deseja ir à universidade. Não pensamos que é a coisa certa para ela fazer agora.” A resposta imediata de meu pai foi: “Sem problemas.” Obviamente, para ele não havia problema, mas para mim era um grande problema.

Quando meu pai entrou em casa e disse: “Você não irá para a universidade”, fiquei desolada. Este era meu sonho, eu iria me tornar uma jornalista famosa que faria uma grande diferença no mundo. Agora eu não tinha esperança; não tinha futuro.

Porém, fiz como fui mandada e me matriculei no Seminário de Professoras da escola Beit Rivka, sentindo que todas as minhas esperanças, sonhos e aspirações estavam indo ralo abaixo.

Mas, novamente, o Rebe sabia o que era melhor para mim, o que não quer dizer que o Rebe ignorou minha angustia de adolescente na época.

O fato de que ele entendia minha necessidade de expandir meus horizontes foi demonstrado logo depois, quando propus fazer uma viagem a Israel com escalas na Europa para visitar alguns dos famosos centros culturais dali. Tive uma audiência particular com o Rebe perto de Purim, antes da qual eu enviara uma longa carta falando sobre minhas frustrações e infelicidade. “Se eu não posso ir à universidade e me tornar uma famosa jornalista,” eu escrevi, “então pelo menos quero viajar e conhecer o mundo.”

O Rebe realmente aprovou meu plano de viagem, que foi adiado até o verão seguinte porque eu precisava ganhar o dinheiro para pagar por ela. Isso eu fiz ensinando na escola elementar da Beit Rivka, uma experiência que apreciei. Na época, eu não sabia que terminaria feliz passando o resto da minha vida lá e por fim me tornando diretora da escola.

Eu estava ocupava guardando dinheiro e ansiosa pela minha viagem, quando um novo problema afetou meu plano. Meu pai não concordava com isso: “Uma moça com dezoito anos viajando sozinha pela Europa? Isso não é possível. Você deve ter entendido mal o Rebe.”

O impasse foi resolvido alguns meses mais tarde quando meu pai teve uma audiência com o Rebe por ocasião de seu aniversário. “Minha filha acha que o Rebe lhe deu permissão para ir a Israel com escalas na Europa,” meu pai começou a falar.

“Ela ainda não foi?” foi a resposta do Rebe.

Aquilo destruiu muitas objeções. Eu tive permissão para ir, e fui, passando um pouco de tempo em Israel. Eu mal precisava fazer essa viagem, como o Rebe entendia tão bem.

Ao voltar, continuei a ensinar na Beit Rivka e então conheci meu futuro marido. Embora eu sentisse que éramos muito compatíveis, uma preocupação me fazia hesitar antes de planejar um futuro juntos. Eu temia que a diferença cultural entre nós dois era muito grande. Eu citava Robert Frost e ele citava Yehuda Halevi. Cresci na América e ele em Israel.

Naturalmente, escrevi sobre isso ao Rebe. E o Rebe – embora fosse muito ocupado com suas incontáveis responsabilidades – entendeu-me mais uma vez. Ele respondeu às minhas perguntas sobre casar-me com um israelense com uma pergunta retórica: “Mas você já não estava em Israel?”

Acredito que quando o Rebe aprovara minha viagem então – quando não é normal para uma jovem de dezoito anos viajar sozinha mundo afora – ele previa que esse seria um fator decisivo em minha vida. E na verdade, foi. Minha visita a Israel fez toda a diferença.

Olhando para trás, fico impressionada pela sensibilidade do Rebe, seu carinho, seu amor, e sou muito grata por ele ter guiado minha vida.