Enquanto atuava como oficial religioso na FDI (Forças de Defesa Israelenses) nos anos de 1970, tive o privilégio de encontrar Rabino Yisroel Glitzenstein, um dos emissários Chabad em Israel. Entre suas muitas funções, Rabino Glitzenstein era encarregado de organizar serviços religiosos para soldados e ele se ofereceu para levar chassidim Chabad para as bases da FDI que estavam sob a minha responsabilidade. Obviamente, aceitei alegremente sua oferta.
E então a cada duas ou três semanas Rabino Glitzenstein enviava grupos de estudantes da yeshivá Torat Emet Chabad em Jerusalém, para conduzir os serviços de Shabat nas bases da FDI onde eu os colocava. Eles ensinavam Tora, cantavam e dançavam entusiasticamente com os soldados. Nós gostávamos especialmente de suas visitas após a Guerra de Yom Kipur, quando o exército não deixava os soldados irem para casa com frequência por causa de preocupações com segurança, e os estudantes de Chabad tornavam o Shabat muito especial para todos.
A certa altura, Rabino Glitzenstein pediu-me para enviar um relato ao Rebe, pouco antes de Purim de 1975, e escrevi uma carta descrevendo essas atividades e dizendo que elas deixavam uma impressão indelével nos soldados. Também expressei, em prol de todos os oficiais, nossa gratidão aos chassidim Chabad que nos visitavam regularmente e nossa profunda apreciação pela dedicação deles.
Duas semanas depois recebi a resposta do Rebe:
“Como isso diz respeito ao pessoal militar… que aprecia o poder da ação, como disseram nossos sábios, ‘Ação é o principal’, estou certo de que as impressões e sentimentos descritos em sua carta serão transformados em ação e irão inspirar... o amor a D'us, o amor à Torá, e o amor aos irmãos judeus na vida diária, em ações práticas, em mitsvot, e em bons atos.”
O Rebe continuou:
“Numa época de perigo... devemos ter forças de defesa organizadas e preparadas com armas em suas mãos, e elas deveriam aprender estratégias de guerra, etc., mas a base das bases é... a fé inabalável em D'us, ‘pois a salvação pertence ao Senhor,’ como declara a Torá: ‘Pois o Eterno nosso D'us segue no meio de nosso campo, para resgatar você e entregar seus inimigos perante você.’”
O Rebe terminou sua carta desejando um feliz Purim, e me agradeceu antecipadamente pela minha “ajuda e assistência” em encontrar as palavras adequadas para transmitir essa mensagem aos meus amigos no exército.
Nos últimos anos, quando eu servia na reserva e fui colocado no Sinai, trabalhei novamente com Rabino Glitzenstein para levar chassidim Chabad aos soldados nas linhas de frente. Arranjamos para um grupo voar antes do Shabat, e depois do voo nós os levamos de caminhão para os vários postos das FDI, o caminho todo até o Passo Mitla perto do Canal de Suez. Esses homens jovens tinham de suportar as areias do deserto e dormir em tendas, ainda assim eles competiam para a atribuição.
Depois que fui dispensado do exército aos vinte e dois anos, Rabino Glitzenstein convidou-me para ir a Nova York visitar o Rebe durante Tishrei, o mês das Grandes Festas e Sucot.
Durante minha estadia, tive o privilégio de receber um dólar do Rebe bem como vinho do seu copo durante a cerimônia kos shel brachá no encerramento de Simchat Torá. Mas o auge veio ao final da minha visita, quando me foi concedida uma audiência privada.
Fiquei muito empolgado e pensei muito sobre qual presente eu deveria dar ao Rebe. Como sou descendente do Judaísmo Iemenita, decidi dar ao Rebe uma cópia de Diwan, uma compilação de canções e poemas litúrgicos de Rabino Shalom Shabazi, o notável erudito e poeta iemenita do Século Dezessete.
O Rebe agradeceu-me pelo presente, e depois que ele o folheou, perguntou qual das canções era mais cantada pelos Levitas no Templo Sagrado. Eu não sabia a resposta, mas prometi encontrá-la. Depois aprendi que, segundo o falecido Rabino Amram Korach, um proeminente Rabino iemenita do Século 20, há realmente essa canção no Diwan, mas não pude determinar exatamente qual delas.
O Rebe também me pediu para enviar a ele a biografia de Rabino Shalom Shabazi, e prometi cuidar disso no meu retorno a Israel. Quando cheguei em casa, fui pesquisar e fui levado a uma das edições do Diwan que incluíam em seu prefácio uma revisão da vida do autor. E também, na mesma época, uma biografia de Rabino Shalom Shabazi foi publicada, e assegurei de enviar estes dois livros ao Rebe.
Durante minha audiência, o Rebe perguntou-me o que eu planejava fazer após retornar a Israel, e eu respondi que tinha me matriculado na Universidade Bar-Ilan para estudar lei. Mas o Rebe tinha outra ideia: “Seria melhor para você estudar numa yeshivá e se tornar ‘um ministro da Torá.’” Essas foram as palavras que ele usou.
Fiquei um pouco surpreso por essa virada nos eventos porque imediatamente antes da minha audiência um amigo meu tinha visto o Rebe, que deu a ele sua bênção para estudar agricultura na universidade. Porém, eu tinha decidido antecipadamente que faria o que o Rebe me dissesse para fazer, portanto aceitei seu conselho e perguntei a ele qual yeshivá ele recomendava, mas ele não tinha uma específica em mente para mim. Então eu disse a ele que meu cunhado tinha estudado na Yeshivá HaNegav em Netivot antes de ter sido morto na Guerra de Yom KIpur. Pensei que talvez essa yeshivá seria adequada para mim, e o Rebe aprovou.
No meu retorno a Israel, visitei a Yeshivá HaNegev, e quando disse ao Rosh Yeshivá, Rabino Yissachar Meir, que desejava me matricular por conselho do Rebe, ele me recebeu de braços abertos.
Aquela única audiência com o Rebe mudou completamente a trajetória da minha vida. Em vez de me tornar um advogado, tornei-me um professor; como resultado, tive o privilégio de instilar ensinamentos de Torá nas mentes de crianças pequenas. E sinto que o Rebe me deu toda a energia necessária para me dedicar a este trabalho sagrado.
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