A primeira vez que fui informado sobre o Lubavitcher Rebe foi durante a Guerra dos Seis Dias em 1967. Eu tinha seis anos de idade, e minha mãe me disse com empolgação: “Recebemos bolo e vinho do Rebe!”

Esses presentes foram acompanhados por uma carta, que ainda tenho, abençoando e cumprimentando meu pai, General Chaim Herzog, pelas suas ações naquela época. Meu pai ficou muito famoso, antes e durante a guerra, como o comentarista nacional, falando três vezes ao dia na rádio israelense para acalmar as pessoas e explicar a situação que a nação enfrentava.

Quando o bolo e a carta do Rebe chegaram, perguntei à minha mãe: “Quem é o Rebe de Lubavitch?” e ela me contou. Em seguida, passei a ouvir frequentemente o nome do Rebe, pois recebíamos cartas dele com bons votos antes de várias festas judaicas.

Eu o encontrei pela primeira vez em 1977, dois anos após meu pai ser nomeado embaixador de Israel para as Nações Unidas, quando fomos convidados para nos juntarmos a Chabad para as celebrações de Simchat Torá.

Naquela época meu pai era mundialmente famoso por sua defesa do Sionismo durante o debate da ONU que terminou com a ONU adotando a infame resolução nomeando o Sionismo como “uma forma de racismo e discriminação racial.”

Meu pai registrou a veemente oposição de Israel e essa resolução ficando perante a Assembleia Geral, rasgando o documento pela metade e declarando: “Para nós, o povo judeu, essa resolução baseada em ódio, falsidade e arrogância, não tem qualquer valor moral ou legal. Para nós, o povo judeu, isso nada mais é que um pedaço de papel e devemos tratá-lo como tal.”

Eu era um adolescente na época em que ocorreram esses eventos, mas quando tive a oportunidade de acompanhar meu pai e um grupo de diplomatas israelenses para celebrar Simchat Torá com o Rebe, decidi ir junto.

A sinagoga onde encontramos o Rebe era uma visão a ser contemplada. Estava lotada de pessoas, mas meu pai e eu tivemos o privilégio de sermos convidados a ficar junto do Rebe na frente.

Antes de começar a dança com a Torá, o Rebe teve uma longa conversa com meu pai sobre geopolítica e relações internacionais. Eles falaram sobre a luta do meu pai para defender Israel nas Nações Unidas, e o bloco de países que automaticamente votava contra Israel em cada instância. Eles falaram também sobre a luta contra o terror e sobre o problema em unir Jerusalém e estender a soberania israelense sobre Hebron, o local da Gruta dos Patriarcas (Me’arat Machpelá) – onde Avraham e Sarah, Yistchac e Rivka, e Yaacov e Lea estão enterrados.

Mais tarde eu soube que o Rebe insistiu para meu pai declarar perante a ONU que Hebron sem dúvida pertence ao povo judeu - afinal, Avraham a comprara por 400 moedas de prata, conforme a Torá declara. Meu pai respondeu que os palestinos poderiam então simplesmente se oferecer para devolver essa quantia. Mas o Rebe argumentou: Se isso ocorrer, nós poderíamos exigir os juros acumulados há milhares de anos. De frente com esse prospecto, eles certamente iriam desistir de seu pedido.

(Subsequentemente, meu pai submeteu ao registro da ONU o capítulo da Torá que descreve Avraham comprando aquela gruta em particular dos Hititas. Sua ação foi elogiada por muitos rabinos incluindo o Rebe, que escreveu uma carta para meu pai congratulando-o.)

Durante uma interrupção na dança com a Torá que se seguiu, o Rebe fez um breve discurso, que recordo claramente. Ele falou sobre o importante papel que os membros do exército israelense desempenham ao servirem como veículo para proteger o povo judeu, e homenageou todos aqueles que tinham qualquer conexão com o exército israelense na próxima dança.

Havia muitos participantes naquela hakafá, incluindo meu pai e outros diplomatas, portanto o organizador deu a mim, o membro mais jovem do grupo, o Rolo de Torá do Rebe, que era pequeno em comparação aos outros. Lembro-me que estava com uma capa branca e fiquei muito empolgado ao carregá-lo. Enquanto eu carregava, todos se aproximavam de mim para beijar essa Torá especial.

A pedido de meu pai, o Rebe me deu uma bênção – na verdade, ele abençoou-me duas vezes no decorrer daquela noite. Meu pai não era um homem que demonstrasse muita emoção, mas naquele dia ele ficou comovido. Creio que era muito importante para ele que seu filho recebesse uma bênção do Rebe.

De modo geral, foi uma experiência extraordinária e a lembrança daquele Simchat Torá vai permanecer comigo pelo resto da minha vida.

Em conclusão, gostaria de explicar algo que muitas pessoas não entendem sobre o Estado de Israel.

Os cidadãos de Israel têm um forte senso de tradição. Eles poderiam se ressentir do estabelecimento religioso como tal, porque é um estabelecimento que não sabe como transmitir a beleza do Judaísmo e não sabe como explicar a unicidade de sua conexão com Eretz Yisrael. Mas mesmo assim, os cidadãos de Israel têm um grande respeito pelos líderes religiosos que defendem e praticam uma forma de vida que atende aos necessitados, que está baseada na fé, e que expressa confiança naquilo que a nação representa. O Rebe era um líder religioso assim e é por isso que recebeu a admiração de toda a nação.

Durante sua vida, o Rebe foi uma fonte de força para pessoas que viviam com medo, que se lembravam claramente do Holocausto, e que sabiam que a qualquer momento a existência de Israel poderia ser questionada.

O Rebe era extremamente influente em toda esfera da vida nacional de Israel – entre o público israelense e a liderança israelense. E Chabad de hoje continua a promulgar sua visão, que por isso é admirada pelos israelenses como o Rebe era admirado – porque Chabad reflete o espírito do Rebe.