Shalom uBracha,

Após o intervalo muito longo, fiquei contente ao receber sua carta, com as boas notícias sobre a benevolência de D'us sobre você. Creio que já tive ocasião de mencionar o dito dos nossos Sábios ao efeito de que quando alguém recebe os favores de D'us, mais Irão surgir. É também para lembrar o ensinamentos dos nossos Rabinos e Nesiim, “Pense bem, e tudo sairá bem,” como é explicado também no Zohar (II, 184D), introduzido pelas palavras To Chazi (“Venha e veja”), notadas ali.

Agora para referir à pergunta da necessidade de aprender Chassidut que você aborda em sua carta. Você não menciona quais Shiurim você tem de Chassidut, embora eu tenha lhe sugerido as seguintes fontes: Kuntres UMaayan; Igueres haTeshuvo (parte III do Tanya), Shaar HaYuchud VehaEmuno (parte II do Tanya), seguidos por Derech Mitzvosecho do Tzemach Tzedek.

Você me cita como tendo escrito a você que há muitos que aprenderam e conhecem muito da Guemore, porém carecem em conhecimento dos dinim (leis) práticas. Você responde que conhece pessoas que sabem grande parte da Chassidut e carecem de conhecimento dos dinim. Mas como lembro, não fiz essa declaração como um argumento em favor de aprender Chassidut. Eu apenas destaquei a necessidade de dinim prático separado de todos os outros estudos. Pois infelizmente é um fato de que na maioria de Yeshivot a necessidade de estudar dinim não recebe atenção suficiente. Portanto, sua tentativa de desafiar minha declaração é bastante irrelevante, ve’ito hase lichah.

Quanto a necessidade geral de aprender Chassidut, isso é amplamente explicado em Kuntres Etz há Chayim, pelo pai do meu sogro de sagrada memória, e em outros locais. Acima de tudo, está baseado na própria Haloche, que vê a prova de uma teoria em sua aplicabilidade e em seus reais resultados na prática, maasseh rav.

Deixe-me dar a você uma ilustração, que confio que não irá deixar de lado, especialmente porque pode verificar através de outras fontes. Não preciso dizer a você sob quais terríveis condições os judeus viveram na Rússia Soviética sob o regime comunista, e como isso afetou a vida religiosa judaica, especialmente da geração mais jovem que não teve oportunidade de se ancorar firmemente em Yiddishkeit.

Quando a Cortina de Ferro ergueu-se temporariamente após a guerra e muitos judeus conseguiram sair da Rússia Soviética, ficou claro que das várias classes e tipos de judeus russos somente aqueles que tinham estudado em Yeshivot Chabad e foram criados em lares chassídicos e no estilo de vida chassídico puderam sobreviver àqueles terríveis desafios e permanecer judeus fiéis e praticantes, não apenas eles mas também seus filhos e filhas com eles. Isso deveria convencer até o mais cético sobre o poder e eficácia da Chassidut como força viva e meios práticos de preservação de Yiddishkeit, mesmo sob as maiores dificuldades.

Mas como você questiona a necessidade de aprender Chassidut segundo a autoridade do Shulchan Aruch, vou responder, o mais brevemente possível, sobre a base de seus próprios critérios.

Como você sabe, há vários tipos de mitsvot. Há, por exemplo, mitsvot compulsórias, e há mitsvot que se tornam praticáveis somente sob certas condições, e a realização delas se torna compulsória quando prevalecem as condições específicas; e a pessoa não está obrigada a criar aquelas condições (ex. Maake [uma cerca ao redor do seu telhado)] (Rambam, Berachot). Entre as mitsvot chamadas de compulsórias, há, novamente, mitsvot que dependem do elemento tempo, e elas podem ser ocasionadas uma vez ao ano, ou uma vez por semana, ou diariamente, conforme o caso.

Existem portanto seis mitsvot que não são apenas obrigadas de uma maneira ou outra, como as outras mitsvot, mas sua incumbência (Chiyuv) é constante, e elas são obrigatórias sobre todos os judeus sem exceção, ou, para citar: “Elas são mencionadas em Sefer HaChinuch, na Introdução (Igueret): (1) Acreditar em [em Rambam, para conhecer] D'us, [2] Não acreditar em qualquer outra coisa, [3] Afirmar Sua Unidade, [4] Amar a Ele, [5] Temer a Ele, e [6] Não se afastar após a tentação do coração e a visão dos olhos.

As primeiras cinco das citadas acima exigem preparação intelectual. Até a sexta pode ser adequadamente cumprida somente após a aquisição de certas doutrinas e conhecimento.

É óbvio que para obter o conhecimento essencial (sem o qual essas seis mitsvot constantes não poderiam ser cumpridas adequadamente) por um esforço para vê-las de fontes diferentes, iria exigir uma enorme quantidade de tempo e esforço, e até então a pessoa não poderia estar certa se as fontes foram ou não corretamente entendidas, e as opiniões e crenças certas foram formuladas.

Por outro lado, a Chassidut tem feito exatamente isto. Tem vislumbrado e coletado de várias fontes o conhecimento necessário, e o apresenta numa forma pura e concisa a todos que desejam aproveitar dele.

Considere aquelas seis mitsvot. O que significa, Acreditar em D'us?

Se vamos definir crença em D'us, teremos de admitir que a crença de uma criança em D'us é adequada para ela, embora imagine D'us como sendo um homem grande, forte, com poderosos braços, algo como seu pai, mas talvez mais ainda. Mas o que iríamos pensar de uma pessoa adulta que tem uma ideia assim sobre D'us? Pois isso é a própria contradição de um dos princípios básicos da nossa fé de que D'us não é um corpo, nem uma forma num corpo, etc.

Ou, considere a mitsvá de estar constantemente cônscio de que não há realidade fora Dele. Isso envolve o princípio de que “não há lugar sem Ele” (como declara o Zohar), pois se alguém fosse admitir que há um lugar sem Ele, iria admitir uma existência separada, independente, que novamente estaria em conflito direto com nossa fé, como é explicado também no Rambam, no início de Hilchot Yesodei hatorah.

Similarmente a respeito do mandamento de sempre ter em mente que D'us é um e imutável, uma crença que deve ir de mão em mão com a crença de que D'us criou o mundo mais de 5 mil anos atrás, e que antes dessa data nosso mundo era não existente, porém D'us permaneceu o mesmo após a Criação como Ele era antes da Criação, e que a pluralidade das coisas não implicam [D'us não o permita] uma pluralidade nele, e assim é.

Suponha que o Sr. A vai até o Sr. B e se oferece para dar a ele um entendimento mais profundo naqueles assuntos altamente obtusos que são tão remotos da mente comum, porém têm que surgir constantemente na mente, e o Sr. B não deseja ser incomodado, estando bem contente em permanecer com sua imagem infantil de D'us, etc., esse não seria o caso de meramente deixar passar um Hidur de uma mitsvá, mas de renunciar à mitsvá inteira. Por ter cérebro e a habilidade de adquirir o conhecimento necessário sobre D'us, porém recusando a fazer uso dele, é equivalente à recusa voluntária de concordar com a mitsvá.

Da mesma forma com respeito ao mandamento de amar e temer a Ele. Certamente é impossível realmente amar ou temer algo sem pelo menos ter algum conhecimento daquilo, como é também mencionado no Rambam, início de Hilchot Yesodei Hatorah Capítulo Dois. Note ali.

Finalmente, o mesmo é verdadeiro sobre o sexto mandamento – não se perder pelo coração e olhos. Por mais que uma pessoa madura [beruchniut] [espiritualmente] seja mencionada, o mandamento com certeza não se refere apenas a tentação carnal e crua idolatria, mas que a pessoa deveria ter um coração e olhos somente para aquilo que é verdadeiro e bom, para ver no mundo aquilo que é realmente para ser visto e refletir sobre aqueles que são bons pensamentos. Porém, para cultivar tal visão para ver o conteúdo interno e a realidade do mundo, e para treinar o coração a mergulhar somente no bom e no verdadeiro – este é um feito muito difícil que exige tremendo esforço, como é explicado em Kuntres Etz HaChayim,

Apesar disso todo mundo é ordenado a atingir tudo que é capaz de atingir, todo e cada um segundo sua capacidade mental e entendimento. E quando é dito “cada um segundo sua capacidade,” deveria ser lembrado que “um homem rico que leva uma oferenda a um homem pobre, não cumpriu sua obrigação,” e não há ‘riqueza’ e ‘pobreza’ exceto quando se refere à mente,” i.e., potencial inteligência.

Confio que você não vá se ofender, se eu lhe perguntar: Você realmente pensa que pode cumprir plenamente a mitsvá de “Deves amar a D'us, o teu D'us,” uma mitsvá que é para ser cumprida não pronunciando uma fórmula verbal, mas com sentimento sincero do coração, se você irá saber sobre D'us somente daquilo que aprendeu na Guemore, ou Yore Seah, etc.

Desnecessário dizer, tudo que foi escrito acima com tanto detalhe não é com o propósito de causar-lhe sofrimento, mas na esperança de que talvez possa afinal levar você ao entendimento de que e o Yetzer Hará que está inventando para você todo tipo de razões estranhas e peculiares para desencorajar você ao Estudo da Chassidut, assim não meramente impedindo você de saber o que está ocorrendo no Mundo de Atzilus, como você diz, mas impedindo você de cumprir verdadeiras mitsvot, ordenadas na Torá, Torat Chaim, para serem cumpridas todo dia.

Mas, é claro, o Yetser Hará faz seu trabalho “fielmente”, e não virá para dizer a você: “Não observe aquelas seis mitsvot que a pessoa é obrigada a cumprir todo dia”... ele é “esperto” demais para isso; em vez disso, ele dirá a você, “Que bem fará a você saber o que está acontecendo em Atzilus!”

Incidentalmente, deixe-me acrescentar que o Gaon de Vilner (não somente o Baal HaTanya, saiba você), escreve que aqueles que não aprendem Pnimiut HaTorah prolongam a Galut e retardam a Gueulá, e que sem conhecimento de Pnimiut HaTorah é impossível saber adequadamente Nigle da Torá.

Que D'us conceda que você tenha boas notícias para relatar sobre tudo que foi escrito acima, e que seja em breve.

Com bênção.
[Assinatura do Rebe]