Igrot Kodesh

O estado de saúde do corpo depende dp fluxo constante de “sangue da vida”, que é bombeado do coração pra todos os membros. Quando a circulação deste “espírito da vida” está como deveria ser, a pessoa está perfeitamente saudável, pois seus membros são conectados e recebem a vitalidade apropriada do coração. No entanto, se houver um bloqueio que restrinja, reduza ou atrapalhe a circulação do sangue e o espírito da vida que ele contém, então o vínculo entre os membros e o coração é rompido, e a pessoa fica doente ou morre (D'us não o permita).

Metaforicamente falando, todas as almas do povo judeu são como membros da Shechiná,1 a morada para a luz Divina que dá vida a toda a criação. A Shechiná também é mencionada como o coração. Isso nos ensina que quando as almas estão conectadas e expressam preocupação umas pelas outras, a circulação e o fluxo da energia divina revigorante “fica circulando, vai e volta”.

Nossos Sábios2 relatam que a destruição do Segundo Templo deveu-se ao pecado do ódio infundado e à desunião. Da mesma forma, a cura dessa “doença” virá através do amor ilimitado e da aceitação de uns pelos outros, assim pavimentando o caminho para a construção do Terceiro, e eterno, Templo.

Tanya, Igueret HaKodesh, Epístola 31


Doença

Alguns negativos são mais preponderantes hoje do que nunca, mas novas terapias também estão sendo descobertas

É declarado nas obras do Rambam que assim como há doenças e remédios para o corpo, também há doenças e remédios para a alma. Observando condições que afetam o corpo, podemos fazer algumas inferências a respeito do seu efeito sobre a alma.

Um estado de doença geralmente sugere uma deficiência ou fraqueza em alguma parte do corpo. Há, no entanto, uma determinada doença na qual o corpo não está carecendo de nada; pelo contrário, algo novo é acrescentado (como um crescimento). À primeira vista, parece que esse pedaço novo de carne não deveria causar qualquer dano, mesmo assim, é uma condição que pode ser ainda mais problemática do que quando algo esta faltando. A protuberância extra é prejudicial ao órgão no qual ela cresce, e pode até se espalhar e prejudicar outras partes do corpo.

O tratamento para essa doença difere muito dos remédios usados para curar outras doenças. Enquanto a maioria dos tratamentos acrescenta algo ao corpo, o remédio para essa doença em particular é remover o crescimento supérfluo, permitindo que a pessoa fique saudável novamente.

No passado, esta doença não era tão comum como é hoje. Portanto, uma cura não foi buscada com tanto empenho. Infelizmente, apesar dos enormes avanços em muitas áreas da Medicina, esse mal ocorre com frequência alarmante nos dias de hoje. Como resultado, muitos tratamentos novos foram criados para combatê-la.

Nos âmbitos espirituais, estamos agora vivendo numa era em que “os passos de Mashiach” podem ser ouvidos, trazendo um fim à escuridão que é sintomática do período de exílio. Antecipando a erradicação do mal, há um irromper de último minuto em algumas coisas negativas, especialmente na arrogância e intolerância. Essas aflições refletem seu equivalente no âmbito físico, onde crescimentos cancerosos que dominam o corpo podem dar a impressão de que a pessoa afligida existe apenas em prol do tecido doente! Embora essas características negativas existissem antes, hoje estão prevalecendo mais do que nunca.

D'us nos fornece novas terapias na forma da Chassidut, revelada apenas nos dois últimos séculos. O estudo da Chassidut nos ensina como retirar a porção doente, que se manifesta como arrogância. Por esse motivo, o estudo da Chassidut é mais importante agora do que nunca. Embora sua disseminação não fosse necessária em tempos anteriores, a crescente escuridão no mundo hoje exige um aumento correspondente em luz. No entanto, a analogia não é perfeita. No âmbito físico, se a pessoa continua com o tratamento por um período longo, pode haver um efeito prejudicial sobre as partes saudáveis do corpo. No âmbito espiritual, porém, a pessoa pode engajar-se no estudo da Chassidut durante a vida toda sem prejuízo. Na verdade, este estudo constante terá um resultado positivo; o prolongado refinamento das características benéficas.

Licutê Sichot, vol. I pág. 150 ff.
Igrot Kodesh do Rebe, vol. 18, pág. 332.


Cirurgião

Se tivéssemos os olhos, poderíamos ver bondade nos eventos mais cruéis.

Um estranho desinformado que entrar numa sala de operações verá uma pessoa indefesa sobre uma mesa, cercada por homens mascarados erguendo facas e outros instrumentos. Os homens mascarados cortam, mutilam e provocam sangramento, silenciando os gemidos de dor da “vítima”, que está drogada e impedida de se mover.

A reação natural do estranho é gritar por ajuda. Pelo que ele pode ver, um grupo de sádicos está torturando uma pessoa indefesa.

Se o estranho percebe que a atividade que observou era na verdade um procedimento essencial ao bem-estar do paciente, ele com certeza entenderia que as poucas horas de sofrimento na mesa de cirurgia eram necessárias. De fato, ele provavelmente diria que os “vilões” mascarados são pessoas humanitárias que estão realizando um serviço vital. Essa impressão irá permanecer mesmo que o médico não possa garantir a cura, ou prever quanto tempo o paciente irá viver, mesmo que a cirurgia seja bem sucedida.

Por este exemplo, você pode entender que a vida de uma pessoa às vezes envolve elementos de dor e sofrimento. Quando somos apanhados no meio de uma situação difícil, não é fácil apreciar os grandes benefícios que resultam do desconforto temporário.

O conceito da Divina Providência enfatiza que não há ocorrências ao acaso no mundo; até os episódios dolorosos são parte do plano Divino, um sistema todo abrangente que inclui o indivíduo, sua família e todas as outras pessoas, coisas ou eventos que ocorrem.

Igrot Kodesh do Rebe, vol. 13. pág. 171


Bactérias Resistentes

Se for persistente muitas vezes, pode tomar uma forma inteiramente nova.

A Medicina começou a perceber que o uso repetido de penicilina e outros antibióticos podem levar a uma situação perigosa, onde as bactérias podem se modificar para novas formas resistentes que não podem ser tratadas pelas terapias atuais.

Esse fenômeno nos lembra da declaração no Talmud,3 de que não há comparação entre aquele que revisa um capítulo 100 vezes e aquele que revisa 101 vezes. No positivo, assim como no negativo, a repetição constante pode levar não somente a uma quantidade maior, como a uma mudança qualitativa nos efeitos de uma atividade específica.

No tempo do Talmud, quando era costume estudar cada capítulo 100 vezes, a adição de apenas um extra além do número habitual fazia a diferença. Esse benefício é derivado por todos nós sempre que nos estendemos um pouco além daquilo que estamos acostumados a fazer.

De uma carta do Rebe, Erev Lag Baomer 5729, impressa em Heichal Menachem, vol. 2, pág. 65 ff.


Farmácia

Quando se trata de substâncias perigosas, certifique-se de seguir as instruções.

Numa farmácia bem estocada, pode-se ver uma variedade impressionante de remédios usados para tratar todos os tipos de doenças. O farmacêutico informa ao visitante que somente um especialista qualificado tem permissão de prescrever medicamentos. Além disso, se um paciente quer se recuperar da doença, deve tomar o remédio exatamente como foi instruído pelo seu médico.

Essa situação tem uma analogia no âmbito espiritual. Cada um de nós foi enviado a este mundo pelo Todo Poderoso pra “curar” ou refinar a si mesmo com os remédios que Ele forneceu: a Torá e as mitsvot. No entanto, precisaremos dos serviços de um “farmacêutico”, um professor para nos aconselhar e orientar sobre a medicação correta. Sem o julgamento abalizado de uma pessoa assim, podemos escolher a “cura” essada e arriscar seriamente a nossa saúde.

É importante ter em mente que quando o remédio está em nossa posse e sabemos a dose correta, não devemos procrastinar nem inventar desculpas para não tomá-lo. Obviamente, a pessoa somente pode se recuperar e tomar o remédio na maneira prescrita. Da mesma forma, somente podemos cumprir nossa missão na terra se “tomarmos o remédio receitado” (completar as tarefas espirituais que nos foram designadas).

As operações de uma farmácia proporcionam mais uma ideia interessante. A pessoa pode até encontrar frascos restritos de pretas nas prateleiras de uma farmácia, para uso restrito. O farmacêutico nos informa que mesmo medicamentos que parecem alarmantes [se lermos a bula] com venda somente com prescrição médica pois prejudicariam uma pessoa sadia, em quantidades mínimas podem na verdade ajudar na cura de certas doenças.

No âmbito espiritual, por exemplo, embora tenhamos aprendido a jamais insultar ou constranger outra pessoa, mesmo assim devemos recusar um convite para um jantar se soubermos que a comida nnao é casher. Além disso, há vezes em que uma pessoa deve admoestar gentilmente um amigo que está violando os ditames da Torá (especialmente se acredita que o amigo vai considerar suas palavras).

Talvez essa pequena dose de “veneno” seja o remédio para a cura da pessoa.

Igrot Kodesh do Rebe, vol. 3, pág. 145


Seringa

Para absorver boas coisas, primeiro devemos criar um vácuo.

Uma agulha hipodérmica extrai sangue com o objetivo de diagnóstico e tratamento. No entanto, não é a agulha que tira o sangue das veias. É o vácuo da seringa.

A lição do valor de um vácuo pode ser extremamente relevante a uma pessoa que se considera “vazia”, indigna de ser bem sucedida em seu serviço Divino. Um recipiente vazio pode extrair com maior intensidade do que aquele que está cheio. Assim também a pessoa que é consciente da própria incompetência será mais motivada a estudar e fazer coisas positivas.

Similarmente, quando alguém se encontra numa situação na qual uma ausência ou perda é sentida profundamente, não precisa ficar melancólica. Podemos usar o próprio vazio como um impulso para uma realização ainda maior.

Adaptado de uma mensagem do Rebe, Simchat Torá 5738, citado em “Toward a Meaningful Life”, pág. 265.


Injeção

Devemos nos livrar dde nossas próprias impurezas antes de ‘perfurar’ nosso próximo.

Todo princípio que se aplica à cura do corpo tem sua contrapartida na cura da alma. O corpo e a alma são cada qual um componente do ser humano inteiro, que por sua vez é um universo em microcosmo. Para ilustrar esse conceito do Rebe Anterior, tomemos um exemplo do campo da Medicina, quando ele recebeu uma injeção de um médico.

Naquela época, antes de aplicar uma injeção, os praticantes eram muito meticulosos para assegurar a higiene de seus instrumentos. O médico e seus assistentes usavam roupas brancas. Lavavam as mãos com muito cuidado e examinavam as unhas, para que não houvesse qualquer acúmulo de sujeira. Finalmente, derramavam álcool sobre as pontas dos dedos para remover qualquer traço de impureza. Após esses preparativos, a equipe médica limpava a área a ser tratada, removendo qualquer bactéria presente. Embora o paciente estivesse limpo, eles seguiam o procedimento de que, antes de furar a carne, a pele ao redor tinha de ser esfregada com uma fórmula limpante para assegurar que nenhuma bactéria entraria junto com a medicação.

Entre os chassidim há uma prática conhecida como “farbrenguen”, onde as pessoas se reúnem para ouvir e partilhar palavras de inspiração e cantar melodias que expressam os sentimentos profundos do coração. Sua meta é que os oradores inspirem os participanes a refinar o próprio comportamento e melhorem a saúde espiritual. O foco com frequência é dado à importância de designar horários fixos para o estudo de Torá, e aplicar os princípios derivados desse estudo para o auto-refinamento.

O propósito das reuniões, como a injeção, é o bem-estar de outra pessoa. Na verdade o calor das ideias e a beleza das melodias têm enorme efeito positivo sobre os participantes. Apesar disso, às vezes é necessário usar palavras mais duras e fortes para penetrar suas defesas e ter o efeito desejado.

Como ocorre com a injeção, muitas precauções devem ser tomada pelos oradores para assegurar a limpeza de seus motivos e a pureza de seus métodos. A pessoa que recebe a “injeção” espiritual deve estar plenamente preparada. Tudo isso é essencial para assegurar que nenhuma impureza penetre quando a pele da pessoa está aberta e vulnerável.

Igrot Kodesh do Rebe Anterior, vol. 3, pág. 291 ff.


Vacina

Uma pequena dose de oposição pode nos preparar para as batalhas maiores à frente.

Há muitas décadas, no campo da Medicina, foi descoberto que o corpo pode evitar determinadas doenças se a pessoa for vacinada, i.e., inoculada com uma variedade radicalmente enfraquecida daquelas doenças. Através desse processo, o corpo produz anticorpos, armas customizadas para proteger contra a doença.

Os princípios de curar o corpo, segundo Maimônides, aplicam-se igualmente aos remédios da alma.4 Isso pode nos dar uma maneira positiva de encarar as pequenas dificuldades na execução de um projeto importante. Uma dose fraca de oposição num empreendimento pode servir como “vacina” contra adversidade mais severa e mais difícil no futuro.

Igrot Kodesh do Rebe. vol. 11, pág. 58