Como estudante numa yeshivá Chabad, meu “trabalho” na sexta-feira era colocar tefilin com as pessoas, distribuir velas de Shabat, e acender as chamas do Judaísmo. Meus colegas e eu raramente éramos privados dos efeitos de nossos esforços para fazer contatos, mas tudo bem, porque sabemos que toda mitsvá, toda interação positiva, contém valor infinito, independentemente até onde levou ou não levou.
Porém, não podíamos deixar de nos perguntar: Eles gostaram de colocar tefilin? Tem algum significado para eles? Eles esqueceram da nossa interação no momento em que foram embora? Pensaram sobre isso mais tarde? Ficaram comovidos? Comovidos o suficiente para fazer alguma coisa?
Recentemente recebi uma resposta para essa eterna pergunta.
Há cerca de 23 anos trabalhei durante dois anos na yeshivá Chabad na África do Sul. Nas sextas-feiras, eu trabalhava junto com Yossi Pels para divulgar a observância judaica na cidade de Johannesburgo. Não era o local mais seguro na época, mas o trabalho tinha de ser feito. Ali, conhecemos um simpático rapaz chamado Mike, que dirigia uma loja de pneus junto com sua esposa.
Visitávamos Mike semanalmente, e logo começamos a colocar tefilin com ele. Fomos nos aproximando um do outro e comprei um Sidur para ele como presente, mas veja, meu tempo no país chegou ao fim, e num mundo antes do Facebook, nosso relacionamento diminuiu. (Yossi permaneceu em contato com Mike durante mais algum tempo, mas quando ele se casou e mudou-se para os Estados Unidos, suas visitas se tornaram menos frequentes.) Para ser totalmente honesto, eu basicamente me esqueci de Mike, ou seja, até muito recentemente.
Agora, na África do Sul, não é incomum para um judeu “muito secular” auto-descrito frequentar regularmente a sinagoga. Independentemente do seu nível de observância, eles são muito tradicionais. Nosso amigo Mike ia (e ainda vai) à Sinagoga Sydenham Hishlands do Norte, onde Rabino Yossi Goldman atua como ministro sênior.
Recentemente encontrei com Rabino Goldman quando ambos fomos ao mesmo casamento. Embora ele seja várias décadas mais velho que eu, conversamos sobre os bons dias passados na África do Sul. Ele então mencionou Mike e uma carta especial que recebera dele. (Esta carta, embora quase com 23 anos, somente chamou minha atenção agora.)
“Caro Rabino,
Fui criado num ramo menos observante do Judaísmo, e mais tarde tentei outra congregação que era mais próximo do serviço ortodoxo, mas descobri que não me importava muito nem com aquela sinagoga. Portanto finalmente comecei a frequentar sua sinagoga – Sydecham Highlands North. Demorou algum tempo, mas consegui me encaixar e até apreciar aquilo.
Há cerca de dois anos (agora 22 anos, por volta de 1998), alguns “sujeitos estranhos” entraram no meu comércio em Johannesburgo numa tarde de sexta-feira e perguntaram se alguém era judeu. Respondi que sim. Eles me perguntaram se eu tinha colocado tefilin naquele dia e confirmei que não tinha.
Fiquei constrangido, não por causa da pergunta em si, mas porque eu nunca tinha colocado tefilin antes e senti que me faria de tolo se fizesse mais perguntas. Os cavalheiros perguntaram se eu gostaria de colocar tefilin ali e por medo do constrangimento, recusei e eles foram embora.
Mas eles persistiram, visitando-me novamente na próxima sexta-feira, e fazendo a mesma pergunta, quando revelei minha hesitação e falta de experiência. Levei-os escada acima onde eles colocaram o tefilin ao redor do meu braço e da cabeça e me pediram para ler a porção relevante (que fiquei surpreso ao descobrir que já conhecia).
Jamais vou me esquecer da sensação que tive naquele momento. Era quase como se eu fosse de repente envolvido num casulo morno. Foi uma sensação que eu nunca tivera antes.
Durante este período, meu comércio estava passando por uma fase ruim. O banco tinha puxado o tapete e eu estava com grandes problemas, não sabendo para onde me voltar ou onde conseguir ajuda. Nunca disse aos meninos da yeshivá como as coisas estavam ruins; simplesmente mencionava “o negócio não estava tão bom.”
Após mais algumas visitas às sextas-feiras, decidi encomendar meus próprios tefilin e os tenho colocado desde então. Acredito realmente que isso mudou minha vida. Fiquei mais calmo e parecia ter uma mente mais clara. Embora meu negócio ainda estivesse indo pesadamente a uma queda, eu me sentia seguro e até consegui juntar algum dinheiro para investir no mercado de ações.
Há várias semanas, tudo deu certo! Acordei numa manhã, e após abrir meu comércio para o dia, de repente chamei meu corretor e o instruí a vender o portfólio completo que eu tinha juntado. O corretor pensou que eu estava louco e tentou convencer-me a não vender. Mas eu tinha outras ideias e disse a ele, para seu desgosto, que vendesse. Pouco depois, o mercado teve uma queda, mas eu tinha meu dinheiro. Telefonei ao gerente do meu banco, marquei um horário para vê-lo, e tirei meu negócio fora de um saque que excedia R$ 500.000!
Rabino, não é minha intenção me vangloriar que fui tão bem e vendi na hora exata na bolsa de valores. Meu desejo é informar a todos que desejem ouvir que acredito firmemente que foram as visitas de sexta-feira dos rapazes da yeshivá, que me introduziram na colocação de tefilin, que me ajudaram a sair da dívida. (Na verdade, meu gerente de banco pensa que sou um gênio e me cita como exemplo para outros clientes!) Meu negócio ainda está um pouco fraco, mas sei que eu, junto com meu tefilin, vou abrir caminho para melhorar e, acredite ou não, isso já está começando a acontecer...”
Desde então me reconectei com Mike via WhatsApp e Yossi ainda o visita sempre que volta à África do Sul.
Descobri ainda que Mike ainda coloca tefilin diariamente, passados 20 anos. Além disso, Mike se tornou um acendedor de lamparinas. Quando judeus entram em sua loja para conseguir novos pneus, ou um alinhamento, ele os lembra de que precisam de um “alinhamento espiritual” também e oferece a eles a oportunidade de colocar tefilin.
Porém há mais ainda!
Há cerca de seis meses Mike começou a fechar sua loja no Shabat, embora seja o dia mais ocupado da sua semana de trabalho. Sua fé é tão firme que ele se sente confiante de que D'us vai prover para ele em outras maneiras ou em outros dias.
Essa história ainda está se desenrolando, mas certamente é o cumprimento de uma visão que o Rebe teve quando lançou a campanha de tefilin em 1967.
Onde quer que você esteja no planeta, há um membro Chabad esperando para colocar tefilin em você. Faça uma tentativa: o que você tem a perder?
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