Três filhos deixaram o lar, trabalharam por conta própria e prosperaram. Reunindo-se novamente, eles discutiram os presente que podiam dar à mãe idosa.
O primeiro disse: “Eu construí uma casa enorme para nossa mãe.”
O segundo declarou: “Enviei a ela um Mercedes com motorista.”
O terceiro sorriu e disse: “Ganhei de vocês dois. Vocês sabem como mamãe aprecia a Torá, e como ela não enxerga bem. Enviei a ela um papagaio que pode recitar a Torá inteira de cor. Foram precisos 12 anos para ensiná-lo. Tive de gastar cem mil por ano durante dez anos, mas valeu a pena. Mamãe apenas precisa dar o nome do capítulo e do versículo, e o papagaio o recita.”
Pouco tempo depois, a mãe enviou suas cartas de agradecimento.
“Milton [o primeiro filho], a casa que você construiu é tão grande que uso apenas um quarto, mas preciso limpar a casa inteira.”
“Marvin,” escreveu ela ao segundo. “Estou velha demais para viajar. Fico em casa o tempo todo, portanto nunca uso o Mercedes. E o motorista é tão entediante!”
“Querido Melvin,” ela escreveu ao terceiro filho. “Você foi o único a ter o bom senso de saber do que sua mãe gosta. Aquele frango estava delicioso.”
Anatomia de uma Sucá
No decorrer dos últimos 3275 anos, durante os sete dias da alegre Festa de Sucot, nós comemos, bebemos, festejamos, relaxamos, lemos e dormimos numa estrutura temporária, ou cabana, conhecida como sucá. Esta estrutura consiste de paredes e um teto composto de material que cresce na terra, como bambu, palha ou ramos.
Quantas paredes uma sucá precisa?
Segundo a Lei Judaica, uma sucá deve ter duas paredes completas mais uma terceira que pode ter até um palmo de comprimento1.Se a sua sucá tem três ou quatro paredes completas, ótimo; porém a exigência mínima são duas paredes e um pedaço pequeno de uma terceira parede.
Por que a Lei dita2 esta exigência exata para as paredes da sucá? E qual é realmente o significado espiritual e psicológico de passar sete dias numa cabana na sua varanda ou no seu quintal?
Anatomia de um Abraço
Dois dos mais extraordinários pensadores judeus, Rabi Isaac Luria 3 e Rabi Shneur Zalman de Liadi 4 chamam nossa atenção para as carinhosas palavras pronunciadas pela Noiva no Shir HaShirim, Cântico dos Cânticos 5: “Seu braço esquerdo está sob minha cabeça e Seu braço direito me abraça.”
Estes dois místicos entenderam 6 estas palavras como mencionando, em prosa metafórica, dois momentos distintos no relacionamento entre D’us, o Noivo, e Seu povo, a noiva. Durante estes “dias de reverência,” Rosh Hashaná e Yom Kipur, o “braço esquerdo” de D’us, por assim dizer, está sob a cabeça do povo judeu. O lado esquerdo representa na Cabalá introspecção, disciplina e integridade, e este é o tema fundamental dos dias de reverência. Sucot, por outro lado, descrito na Torá como “a época da nossa alegria,” constitui o ponto durante o ano em que “o braço direito de D’us me abraça.”
Examine seu braço, diz Rabi Isaac Luria, e perceberá sua divisão em três partes distintas, cada uma estendendo-se numa direção diferente. A primeira é o braço em si, do ombro ao cotovelo; o segundo é o antebraço, do cotovelo ao pulso; e o terceiro é, obviamente, do pulso até a ponta dos dedos. Agora dê uma boa olhada à sua sucá e notará um “abraço com o braço direito.” A primeira parede completa representa um abraço Divino do “ombro” ao “cotovelo”; a segunda parede reflete o abraço do “antebraço” e a terceira parede minúscula simboliza o abraço da palma.
Rabi Isaac Luria vai um pouco além. Ele explica que estas três dimensões do abraço de um braço abrangem três partes distintas do corpo sendo abraçadas. Quando você abraça outra pessoa, explica Rabi Chaim Vital 7 citando seu professor Rabi Isaac Luria, a parte mais alta do braço envolve toda a cintura esquerda daquele que está sendo abraçado. A parte média do braço da pessoa, o antebraço, se expande sobre toda a largura das costas da pessoa abraçada. Finalmente, a palma e os dedos se estendem ainda mais e cobrem apenas uma pequena parte da face do abraçado, um palmo da face.
O mesmo se aplica ao “abraço” da sucá. As primeiras duas paredes representam a luz de D’us abraçando a cintura esquerda e as costas do ser humano que está habitando a sucá. A terceira parede da sucá simboliza a energia Divina abraçando uma pequena parte do rosto do judeu. (Se você tem uma sucá de três ou quatro paredes completas o abraço é, obviamente, todo abrangente, circundando suas costas e seu rosto.)
Esta é a linguagem da Cabalá, escrita em códigos e metáforas. Agora a questão é: como podemos aplicar estas descrições antropomórficas a nossa vida comum? Como o cumprimento da mitsvá da sucá pode se tornar uma experiência significativa e inspiradora, mesmo que o clima resolva discordar da festa?
Como você expressa amor?
Para entender isto devemos examinar quatro formas universalmente aceitas de expressar amor a outro ser humano 8.
O primeiro é através de palavras de afeição. As três palavras simples, “Eu te amo”, podem ter um impacto transformador na vida das pessoas. As palavras sempre serviram como ferramentas básicas para expressar nossas experiências emotivas interiores.
Uma segunda expressão de amor, mais poderosa, é o beijo. Um beijo sincero contém uma extraordinária energia e serve como meio para comunicar um profundo sentimento de interesse que não pode ser explicado com palavras. As palavras podem declarar “Eu te amo”, ao passo que um beijo declara “Eu te amo mais do que jamais serei capaz de dizer o quanto te amo.”
Uma terceira expressão, ainda mais poderosa, vem na forma do olhar. Duas pessoas apaixonadas podem se contemplar durante longo tempo sem pronunciar um som sequer. O som de um olhar silencioso às vezes é mais alto que um grito forte transmitindo afeição. Os olhos carregam dentro deles profundos segredos da alma (é por isso que as pessoas se sentem pouco à vontade quando alguém olha em seus olhos por mais que alguns poucos segundos). Existe algo em sua alma que você pode comunicar a outro ser humano exclusivamente através dos seus olhos 9.
Um quarto método universalmente aceito de expressar amor é através de um abraço. Um “abração”, quando é autêntico e não apenas por demonstração, afirma um vínculo sólido e profundo existente entre duas pessoas que se abraçam.
Dissecando o abraço
Qual dessas quatro formas de amor as crianças mais gostam?
Crianças gostam de conversar (conversar, não de serem mandadas o quê fazer). Elas certamente têm prazer ao serem beijadas e olhadas com carinho. Porém, mais do que qualquer outra coisa, as crianças, especialmente bebês, adoram ser abraçadas. Quando nossos filhos se machucam ou destroem alguma coisa e começam a chorar, vêm correndo em busca dos pais para um grande e longo abraço, que os acalma e restaura sua confiança. Qual é o segredo do abraço? Qual é o seu poder?
Dois aspectos
Dois aspectos importantes separam um abraço de outras formas de “comunicar amor”.
Todas as formas acima mencionadas são dirigidas basicamente para o rosto do ser amado. Você fala olhando para o rosto da pessoa, beija sua face e olha nos seus olhos. Um abraço define como alvo a nuca e as costas da pessoa sendo abraçada.
Um outro aspecto que distingue um abraço de outras formas de comunicar amor é a ligação física que caracteriza um delicioso abraço. Quando pronuncio palavras de amor para você, quando olho ou beijo você, não estou me segurando em você; se você quiser afastar-se, a escolha é sua. Porém quando eu o abraço, mesmo que você deseje escapar, fica “preso” nos meus braços.
Ora, depois que entendermos a energia espiritual que há por trás de um abraço, veremos como estas duas singulares características – seu alvo sendo as costas e seu apego a quem é abraçado – são interdependentes um do outro.
Duas formas de amar
Há duas formas de amar – o amor recíproco e o amor incondicional. O primeiro é dirigido para o rosto do ser amado; o segundo é dirigido para as costas do ser amado.
Talvez eu ame você por causa daquilo que recebo em troca pelo meu relacionamento com você. Talvez você seja inteligente, profundo, sensível, bondoso, belo, amoroso, desafiante, etc. – qualidades expressas através do seu rosto, seus olhos, ouvidos e boca e aspecto geral – e eu amo você por causa dessas ou outras enormes qualidades que enriquecem minha vida.
Este é o tipo de amor comunicado em palavras de afeição, num beijo ou num olhar silente, romântico, todos eles dirigidos para o rosto do ente querido.
Quando eu expresso meu apego a você nestas três ou quatro formas, estou essencialmente declarando que gosto de você por causa do seu rosto, suas qualidades e virtudes que enriquecem minha vida. Sem você, a vida para mim é mais vazia, sem graça e sem rumo.
Este amor não é uma ilusão ou um mito. Pode ser profundo e poderoso, e pode derramar sobre você uma vida de bênçãos e realização. Porém ele está condicionado à reciprocidade do ser amado. Enquanto você estiver aqui para mim, estou aqui para você. Em essência, eu amo você porque amo a mim mesmo, e você torna meu “ser” muito mais profundo e feliz.
Porém há um amor ainda mais profundo – o amor demonstrado num abraço, no qual meus braços circundam suas costas. O abraço representa um amor absoluto, incondicional. Não se trata do seu rosto, e sim das suas costas, um espaço carente da oportunidade para a reciprocidade significativa. Eu não amo você por causa de mim; mas por causa de você. Talvez você não me dê nada em troca pelo meu amor, talvez até me queira fora da sua vida, mas eu ainda amo você com todo o meu coração, porque minha alma ama a sua alma.
Você abraça seus filhos?
É por isso que as crianças, talvez mais do que qualquer outra coisa, precisam que os pais as abracem. Quando as crianças contraem um “dodói” ou destroem algo na casa, estão procurando mais do que qualquer outra coisa a afirmacão de que a validade de sua existência não foi comprometida. Elas estão ansiando para ouvir a mensagem de que seu valor não depende do fato de serem perfeitas e impecáveis, mas que sua dignidade é absoluta e eterna.
“Ensina-me”, diz a criança, “que você me ama incondicionalmente por quem sou e não por causa daquilo que consigo fazer.”
Quando seu filho chora porque o dedo está sangrando, e você simplesmente coloca um band-aid e sai de perto, você pode estar perdendo a oportunidade mais insubstituível de ensinar uma lição importante ao se filho: a sua dignidade brota de seu próprio ser. Mesmo se você cair na vida e sangrar muito, seu próprio ser e sua identidade são sagrados.
Quando você não está interessado em D’us
Nosso relacionamento com D’us também funciona nestes dois níveis. Durante todo o ano, a luz de D’us é comunicada a nós como resultado das escolhas que fazemos em nossa vida. Quanto mais sintonizamos nosso corpo e psique com a verdade mais elevada da realidade, mais conseguimos ouvir os ecos da voz silente de D’us, ressoando nas profundezas de nossa alma.
Durante o ano inteiro, sentimos a presença de D’us apenas através dos nossos esforços e trabalho interminável para refinar nosso comportamento e espiritualizar nossos dias. Quando meditamos, rezamos, refletimos, estudamos e vivemos de maneira moral e sagrada, podemos ter um vislumbre do amor de D’us para conosco. Quando declaro uma guerra contra minhas tentações morais e anseios maus, posso às vezes sentir um beijo recíproco de D’us.
No decorrer do ano, desfrutamos um relacionamento recíproco com D’us. Talvez Ele fale com você, talvez até o beije ou olhe para você, mas com uma condição: você deve mostrar a Ele sua face. Se você não voltar as costas a Ele, Ele estará lá para você em maneiras que você jamais imaginou.
Em Sucot, as “regras” são suspensas por sete dias. Durante esta festa singular, D’us abraça você. Ele partilha Sua luz e amor incondicionalmente com você.
Padrões da Sucá
Esta é a essência da experiência da sucá. O que você faz na sucá? Come, bebe, conversa, relaxa, passa tempo – todas as coisas mundanas feitas por seres humanos comuns. Não há uma sugestão de espiritualidade ou religiosidade em muitas atividades que fazemos na sucá. Porém quando estes atos são realizados numa sucá durante a Festa de Sucot, eles são definidos por D’us como uma mitsvá, um meio através do qual forjamos um relacionamento com Ele.
Esta é e mensagem mostrada pelas paredes da sucá: Eu teu amo e te prezo não por causa daquilo que você faz por Mim ou por causa daquilo que ganho de você. Sou apegado a você não por causa da sua sofisticação espiritual ou seus objetivos nobres. Eu amo você por que amo você. Sou Um com você, estou apaixonado pelo seu próprio âmago.
Portanto se você precisa de um grande abraço em sua vida, neste Sucot passe algum tempo numa sucá.
Sustentando o abraço
O propósito de cada Festa Judaica é nos deixar uma mensagem e uma energia que pode nos causar impacto durante todo o ano vindouro, até que o mesmo feriado chegue novamente. Isto também se aplica a Sucot: Este “abraço” mostrado a nós por D’us até mesmo enquanto estamos mum estado bastante físico, possibilita e nos inspira a devolver e transformar todos os nossos esforços físicos e mundanos, durante o ano inteiro, em ferramentas através das quais servimos a D’us e trazemos Sua luz ao mundo. Esta pode ser uma das razões para a declaração do Midrash10 de que o cumprimento da mitsvá da sucá atualmente garante um lugar na sucá que abrangerá o mundo durante a Era de Mashiach. Durante este tempo, o ser humano se sentirá rodeado e abraçado pela energia Divina, e a preparação para isso é passar tempo na sucá que construímos em nossos dias.11
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