Durante os últimos 45 anos, tenho dirigido a Campanha Chabad de Acendimento de Velas, que o Rebe iniciou em 1974.

Era muito importante para o Rebe que todas as mulheres judias – incluindo meninas – acendessem velas do Shabat para iluminar este mundo escuro no qual vivemos. E ele devotava bastante tempo e energia para que todos os aspectos da campanha tivessem o máximo impacto.

O quanto isso era importante para ele ficou totalmente claro para mim quando a esposa do Rebe, Rebetsin Chaya Mushka, faleceu. Isso foi em 1988 – numa quarta-feira, 10 de fevereiro – com mais de doze anos da campanha.

Naquele ano, nosso principal evento de arrecadação de fundos – u m jantar de Melave Malka - era para ocorrer na noite do sábado, 13 de fevereiro, quando o Rebe estava sentado em shivá de luto pela sua esposa. Obviamente, tínhamos planejado aquilo meses antes, não sabendo o que iria acontecer. Pensamos em cancelar, mas então decidimos ir em frente e dedicar tudo em sua memória. Então publicamos um anúncio de que iríamos criar um fundo especial em mérito da Rebetsin para promover mais a campanha.

Embora eu informasse regularmente ao Rebe sobre tudo sobre a campanha de acendimentos das velas, não tive coragem de invadir seu luto durante a semana de shivá.

Assim que terminou o período de luto, fiz uma ligação para ir à casa do Rebe com meu pai, Rabi Shneur Zalman Gurary, que dirigia muitas iniciativas do Rebe e era o principal arrecadador de recursos para a Campanha de Acendimento das Velas de Shabat. Meu pai estava tão nervoso – pensando como ele poderia encarar o Rebe num momento tão difícil – que ele estava realmente tremendo de emoção e aquilo me fez tremer também. Fomos para lá de mãos dadas para criar coragem.

O Rebe nos recebeu no segundo andar da sua casa, em seu escritório pessoal, que era uma linda sala grande repleta de livros. Quando entramos, ele pegou o convite para o evento que tínhamos enviado semanas antes. Disse que estava ciente sobre o fundo que criamos em honra de sua esposa, mas ele não podia nos dar sua bênção antes que acabasse a shivá.

“Agora eu quero dar minha contribuição a este fundo na quantia de 470 dólares que é o valor numérico equivalente ao nome da Rebetsin. Além disso, eu gostaria de acrescentar um dólar como minha contribuição pessoal para seu sucesso.”

O Rebe então abençoou a nós e a campanha, e ele foi tão efusivo que meu pai e eu estávamos surpresos. O Rebe disse que a boa sorte iria sorrir para as pessoas envolvidas na campanha e isso iria iluminar as vidas de todos aqueles que estão tentando influenciar outros a acender velas de Shabat e todos que forem cumprir essa mitsvá como resultado. Em resumo, o Rebe transformou o falecimento da Rebetsin numa bênção para a campanha.

Relatei tudo isso ao nosso gerente de publicidade, Sr. J. J.Gross e ele sugeriu que usássemos o dinheiro do Rebe para comprar um pequeno espaço na primeira página do New York Times para promover o acendimento de velas. Ele disse: “Vamos chamar de Projeto 470.”

A primeira página do The New York Times corre o mundo inteiro, enquanto o restante do jornal varia por região. É claro, comprar um espaço na primeira página é muito caro, eles cobram pelo anúncio contando cada letra, incluindo os espaços em branco, mas ele conseguiu criar uma mensagem breve e sucinta, que dizia;

MULHERES/MENINAS JUDIAS ACENDAM VELAS DE SHABAT
às 5h15 da tarde

Esse pequeno anúncio teve uma tremenda reação. As pessoas estavam gratas por termos feito esse serviço, e muitos fizeram perguntas sobre Yidishkeit. Recebi todos os chamados porque o número para informação era o meu telefone. Lembro de uma mulher ligando para perguntar onde podia comprar comida casher para seu bebê porque tinha se tornado religiosa e não queria alimentar o filho com alimento não-casher. Esse era apenas um exemplo das muitas perguntas que nada tinham a ver com acendimento de velas que vinham das pessoas que precisavam de ajuda para cumprir mais mitsvot. Obviamente, relatei tudo ao Rebe e isso o deixou muito feliz.

No decorrer dos dez anos seguintes, continuamos a fazer o anúncio toda semana, embora aumentássemos um pouco o texto. E, para tornar mais fácil para as mulheres saberem o horário para acender velas, também colocamos um número de telefone com mensagem gravada que permitia pelo CEP a pessoa ouvir o horário de acendimento para a sua cidade.

Somente paramos de comprar o anúncio quando o custo, que subia a cada ano, ficou exorbitante.

Mas no dia em que o novo milênio chegou, o ano 2000, o anúncio de repente reapareceu de forma muito misteriosa.

O dia do ano novo caiu no Shabat. E assim que o Shabat terminou recebi um chamado do Sr. J.J. Gross perguntando-me se eu tinha visto o The New York Times naquele dia. Eu não tinha.

“Bem, então você deve conseguir um jornal.’
“Por quê” perguntei.
“Não vou dizer por que – apenas saia e compre um.”

Corri e pedi emprestado o exemplar do jornal a um vizinho, e então vi o que o tinha deixado tão empolgado.

No primeiro dia de janeiro de 2000, o New York Times criou em sua primeira página uma brincadeira: publicou as notícias do ano 2100. Manipulação do clima, robôs exigindo igualdade, esportes sendo jogados com tacos voadores,e todos outros tipos de coisas futuristas apareceram. O leitor deveria “tocar” na página para ver o artigo inteiro. E então, na parte de baixo – no local onde geralmente estava o horário de acendimento de velas, aparecia a seguinte mensagem:

MULHERES E MENINAS JUDIAS ACENDAM
Velas do Shabat hoje 18 minutos antes do pôr do sol.
Em Nova York às 4h39 da tarde.
Para outros locais, ligue para informação.

Ora, não tínhamos pago a eles para publicar o horário correto para acender velas na sexta-feira, 1 de janeiro de 2100. Não sabíamos nada sobre isso antes. Então Sr. Gross ligou ao Times para perguntar como isso ocorrerá.

Eles disseram:
”Trabalhamos um bom tempo bolando essa brincadeira, e passamos um longo período pensando em qual poderia ser a notícia que ocorreria daqui a cem anos. Uma coisa que sabíamos com toda a certeza – mulheres e meninas judias estavam acendendo velas de Shabat.”

Você pode imaginar qual foi o efeito... todos que olharam aquela página – e milhões de pessoas viram porque era tão interessante imaginar o que poderia estar acontecendo daqui a cem anos – aprenderam o que significa para as mulheres judias acender velas de Shabat. E isso tudo foi graças ao Projeto 470, que começou com a contribuição do Rebe em honra à sua esposa.