Quando me tornei pela primeira vez observante de Torá, meu marido me criticou. Ele não entendia por que eu de repente estava mudando o modo de fazer as coisas – para ele parecia que eu estava me tornando uma pessoa diferente daquela com quem ele tinha se casado – e ele não gostava disso.
Então escrevi uma carta ao Rebe, reclamando: “Decidi manter Torá e meu marido não vai cooperar. Mas não é verdade que eu devo cumprir ela, apesar daquilo que ele me diz?”
Eu realmente esperava que o Rebe respondesse: “Sim, você tem de fazer o que a Torá ordena, não importa o que seu marido deseja.” Mas ele não disse isso. Mas sim, deu-me uma resposta dupla que basicamente dizia: “Não lute com seu marido sobre religião, e encontre alguém para influenciá-lo, alguém a quem ele vai respeitar.”
Foi um aviso realmente sábio, e mantinha plenamente a abordagem do Rebe para encontrar uma solução positiva para todo problema. E eu desejava ter feito imediatamente aquilo que ele disse, mas demorou um pouco para aceitar que a harmonia no lar – que o Judaísmo chama de Shalom Bayit – tinha de ter precedência.
Geralmente, o que acontece quando uma esposa briga com seu marido sobre religião? Não importa se ele concorda ou não, não vai gostar dela e ele não irá gostar da religião, que ele verá como uma força divisória em seu casamento. Além disso, os filhos serão afetados adversamente quando virem seus pais brigando e eles também irão identificar a religião como a causa de tensão no lar.
Sobre a segunda parte do conselho do Rebe, eu tinha de aceitar que ele não deveria ser o rabino de meu marido – eu era sua esposa. Ele era sefaradita portanto a maneira de atingir a ele era através de um rabino sefaradita, que entendia sua origem e sabia como falar com ele sobre questões religiosas. Quando encontrei essa pessoa e dei um passo para trás, as coisas começaram a melhorar.
Havia mais questões para resolver – algumas bem dolorosas. Na verdade, chegou um tempo em que pensei em divórcio. Numa situação estressante, escrevi ao Rebe dizendo que eu não conseguia mais suportar. Eu queria um marido que iria me acompanhar na minha jornada para tornar-me plenamente observante de Torá, e não um que continuava lutando contra mim a cada passo do caminho. Se nos divorciássemos, eu afirmava, todo esse conflito iria terminar e poderíamos ambos levar vidas mais felizes um longe do outro.
A resposta do Rebe foi uma nota muito forte na qual ele me dizia que eu tinha me casado numa cerimônia religiosa, santificada com o nome de D'us. Não somente isso, eu tinha sido abençoada com filhos, e portanto tinha o dever de criá-los num lar completo, não partido.
“Esta é sua verdadeira fortuna… e sua missão como um papel de modelo a todos seus conhecidos e todas as mulheres judias,” o Rebe escreveu, referindo-se ao fato de que eu estava ensinando as Leis da Pureza Familiar a mulheres recém-religiosas na minha comunidade no Queens. “Portanto é impossível que você vai se sentir contente (ou até mesmo ter uma simples paz de espírito) se separar-se do seu marido.”
O Rebe concluiu dizendo que se eu ainda estivesse infeliz depois que meu último filho tivesse crescido e saído de casa, então poderíamos abordar novamente esse assunto. Enquanto isso, ele iria rezar por mim no túmulo do Rebe Anterior.
Embora na minha visão eu entendesse que o Rebe sabia que não iríamos jamais nos divorciar, ele executou uma brilhante manobra psicológica deixando-me pensar que meu pedido não estava sendo totalmente rejeitado, apenas adiado.
É exatamente assim que o Rebe destacava todo ponto positivo do caminho. Quando escrevi a ele uma carta muito deprimida dizendo que eu não sabia para onde meu casamento estava indo, pois eu não estava conseguindo ajudar meu marido a segui comigo no caminho da Torá, o Rebe na verdade rasgou toda a parte da carta onde eu estava me denegrindo e escreveu: “Você teve sucesso nas áreas mais essenciais – dirigir uma família segundo a Torá… e até seu marido está aumentando [sua observância] da Torá e as mitsvot de tempos em tempos…”
Sempre que eu ia vê-lo, reclamando sobre meu marido, ele me colocava de volta no rumo. E me assegurava: “Não se preocupe – seu marido chegará lá. Apenas não empurre e não discuta.”
O Rebe entendia que mais cedo ou mais tarde, meu marido iria se tornar observante, mas eu deveria deixá-lo fazer por si mesmo. Eu tinha de me relacionar com ele com paciência e compreensão, não com discordância ou reclamações.
Num verão, eu tive de decidir o que fazer. Eu deveria ir sozinha de férias para Israel, onde roupa modesta e comida casher não seriam um problema? Ou deveria acompanhar meu marido numa viagem de negócios a Bangkok, onde todas essas coisas seriam um problema? Quando escrevi ao Rebe sobre isso, recebi uma resposta de seu secretário para ir imediatamente à sinagoga no andar de baixo onde o Rebe estava recebendo pessoas e entregando livretos de ensinamentos chassídicos.
Fui correndo para ficar na fila e quando chegou a minha vez, o Rebe olhou-me seriamente e disse: “Bangkok com seu marido.”
As pessoas ao redor me perguntaram: “Sobre o quê o Rebe está falando?”
Mas eu apenas disse: “Eu entendi.” E fui a Bangkok com meu marido, que ficou muito feliz por eu ir. Mas quando ele me disse: “Suponho que não irei ver você por mais um ano.”
Foi quando entendi o quanto tinha negligenciado meu marido. Eu tinha me dedicado a ajudar outros a se aproximarem da Torá, o que me tinha mantido longe de casa por muito tempo. Mas a caridade começa em casa!
“Dedique mais tempo ao seu marido” foi o que o Rebe tinha tentado me dizer quando falou-me para ir a Bangkok, apesar dos problemas de observância religiosa que isso iria trazer.
Quando finalmente implementei com plenitude todo o conselho do Rebe, sua promessa de que “tudo no fim iria dar certo” foi realizada.
Meu marido acabou se tornando ainda mais religioso que eu. Mas seu progresso veio somente após eu parar de discutir com ele sobre religião e me relacionar com amor e paciência, como o Rebe havia me orientado a fazer.
Hoje, dou a outras pessoas o conselho que recebi do Rebe, e também digo a elas o que aprendi por tentativa e erro. Se você decide ser observante, pode ser difícil para seu cônjuge. De repente você é uma pessoa diferente daquela com quem ele ou ela se casou. Aquilo os assusta. E possivelmente, eles vão achar que você agora os está desprezando. Mas não importa o que: você não pode se tornar um homem ou uma mulher religiosa a custo de seu Shalom Bait, Paz no Lar.
Muitas vezes, quando as coisas estavam difíceis e eu pedia ajuda ao Rebe, ele me dizia para fazer tudo a fim de preservar a harmonia no lar, fazer as coisas de “uma maneira diplomática”. Você pode dizer a mesma coisa num tom agradável e com bons argumentos, de uma maneira gentil. Foi isso que o Rebe me ensinou.
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