Numa bela manhã de outono em 1952, enquanto eu estava estudando na yeshivá Chabad no 770, um dos secretários do Rebe foi à sala de estudos perguntando se eu tinha carteira de motorista. Eu disse que tinha. Aos dezesseis anos tinha tirado a carteira seguindo o conselho da minha família enquanto estava em casa em Boston para o verão. “Oh, que bom,” disse o secretário. “O Rebe deseja ir ao Ohel [o local de descanso de seu sogro, o Rebe Anterior] assim que possível e precisa de alguém para levá-lo ali. Você pode ir?”
Foi assim que levei o Rebe ao Ohel pela primeira vez. Depois, tive o privilegio de levar o Rebe muitas centenas de vezes no decorrer dos quarenta anos em que trabalhei em seu escritório. Em muitas dessas ocasiões o Rebe conversava comigo sobre questões de trabalho e outros assuntos.
Vamos até a terça-feira 8 de maio de 1990, apenas cinco dias antes da parada de Lag BaOmer no bairro da sede mundial de Chabad-Lubavitch. Na rua, retornando do Ohel, o Rebe perguntou-me se seria possível cunhar uma moeda de prata – como um dólar de prata – que ele pudesse distribuir durante o desfile.
Naquele ano eram esperadas grandes multidões, porque quando Lag BaOmer caía num domingo muito mais crianças, especialmente crianças da escola pública de toda a região, podiam comparecer.Respondi à pergunta do Rebe dizendo que eu não sabia cunhar uma moeda, mas assim que voltássemos eu iria pesquisar.
Naquele dia, após terminarmos as preces da noite e eu levar o Rebe para casa, sentei-me com meu filho Hillel Dovid, e com meu enteado, Yosef Baruch Friedman para fazer perguntas. Já era noite e a maioria das empresas nos Estados Unidos estava fechada, portanto tentamos contatar casas da moeda ao redor do mundo. Logo aprendemos que cunhar uma moeda é um procedimento complicado e levaria um tempo considerável. Embora não fosse um projeto simples, encontramos duas empresas que estavam dispostas a tentar cunhar a moeda para nós dentro de poucos dias.

Portanto na quarta-feira escrevi um recado ao Rebe:
A respeito das moedas de prata para Lag BaOmer, após investigar o assunto hoje, descobrimos que embora geralmente dois meses sejam necessários para o processo, há duas casas de moeda dispostas a manufaturar as moedas: uma em Milão – cujo dono é um apoiador de Chabad – que está pronto para tentar cunhá-las em dois dias e enviá-las num voo no domingo, e o segundo está perto de Nova York, mas está em dúvidase conseguirácunhá-las antes de Lag BaOmer.
Com esse recado, anexei um desenho de como a moeda iria parecer – teria uma imagem do 770 da Eastern Parkway de um lado, e uma foto de uma fogueira de Lag BaOmer no outro.
O Rebe respondeu que ter as moedas cunhadas em Milão não iria resolver, pois elas iriam chegar somente depois do início da parada. O Rebe agradeceu-me pelo esforço e acrescentou: “É falta minha não ter pedido isso no tempo adequado.”
Quando vimos as palavras desapontadas, “É falta minha”, sabíamos que não poderíamos deixar daquele jeito. Tínhamos de encontrar uma maneira de ter as moedas para Lag BaOmer.
A essa altura já era a tarde da quarta-feira, então nós três nos sentamos e pensamos e rezamos, e fizemos muitos mais telefonemas. Mergulhamos nas dificuldades de cunhar uma moeda nova em folha, aprendendo o que era necessário – desde preparar o desenho até criar um molde para cunhar um metal, que então seria usado para estampar moedas com a imagem desejada.
Logo, com a ajuda do nosso impressor de longa data, Shaya Gansbourg, encontramos um local em Lower Manhattan onde faziam os moldes, e outro local que fazia as estampas, e também descobrimos uma pessoa em Connecticut que podia estampar as moedas depois que o molde estivesse pronto.

Apressamos nosso desenhista, Avrohom Weg, para ter o modelo preparado para ambos os lados da moeda, e no dia seguinte, quinta-feira, o enviamos para o local que fazia o molde pela manhã, e quando conseguimos o molde, levamos imediatamente para o local que cunhava à tarde. E, na manhã da sexta-feira, tivemos resposta do moldador em Connecticut: “Teremos onze mil moedas entregues a vocês na manhã do domingo, prontas.”
Eu disse a ele: “Garanta que o trabalho não seja feito no Shabat.” Ele concordou.
Na sexta-feira, notifiquei ao Rebe que as moedas estariam prontas e seriam entregues horas antes da parada. Ele respondeu com óbvia satisfação e acrescentou uma bênção muito especial: “Que você tenha paz de espírito em seus próprios trabalhos, assim como me proveu [com paz de espírito] sobre isso.”
Foi uma bênção extraordinária. Você encontra essa frase no Talmud, mas essa era uma coisa bastante incomum para o Rebe dizer.
O evento foi um enorme sucesso. Milhares de crianças participaram da parada. Além das crianças e adultos da área dos três estados, havia muitos outros que vieram de longe como Flórida e Califórnia, e um grande grupo que tinha até vindo de Israel.
Depois que a parada tinha terminado e todas as crianças marcharam seguindo o Rebe, os professores e supervisores foram convidados pelo Mestre de Cerimônias, Rabi J. J. Hecht, para a plataforma do Rebe onde o Rebe entregou a cada um deles um pacote dessas moedas especiais para distribuírem às crianças.
E então o Rebe liderou todos a cantarem as palavras do Salmo 133 que estavam gravadas nas moedas: “Quão bom e quão agradável é quando irmãos habitam juntos.”
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