Quando trabalhei nas Forças de Defesa de Israel, era somente um dos doze recrutas observantes de Torá na Brigada Guivati que, na época, somava três mil soldados.

Tínhamos comida casher – porque, pela lei israelense, toda comida em instituições nacionais deve ser casher – mas não tínhamos nada mais. Não havia nenhuma sinagoga na qual rezarmos [como eles têm hoje em toda base), nem um Rolo de Torá para ler. Mas tentávamos fazer o melhor possível.

Numa sexta-feira, como o Shabat estava se aproximando, fui até os outros rapazes observantes e disse a eles: “Venham à minha tenda esta noite e rezaremos juntos. Vamos ter nossa própria refeição de Shabat; podemos cantar e celebrar, e vai ser como um verdadeiro Shabat.”

Eles acharam que era uma boa ideia e portanto foi o que fizemos. Pegamos a comida da sala de jantar e a levamos para minha tenda, onde fizemos o Shabat – apenas doze de nós. Rezamos, cantamos, comemos e foi lindo. E ninguém nos incomodou.

Mas então um novo comandante foi nomeado para dirigir nossa base – o famoso General Brigadeiro Abrashah Tamir. Ele seguia em volta inspecionando tudo e, numa noite de sexta-feira, ele foi até minha tenda e nos encontrou sentados ali e cantando.

“O que está acontecendo aqui?” ele perguntou. “Por que não estão comendo junto com os outros rapazes na sala de jantar?”

Expliquei a ele que estávamos observando o Shabat, e era por este motivo que estávamos separados.

Ele não disse nada então, mas duas semanas depois, assim que o Shabat estava chegando, fui chamado e informado que o General Tamir queria que comêssemos com os outros e – não apenas aquilo – ele estava me pedindo para recitar o Kidush, a bênção que inicia a refeição do Shabat, para todos os soldados.

Fiquei contente e me senti importante. “É uma ótima ideia!” Mas quando eu estava me aproximando da sala de jantar, ouvi uma banda tocando lá dentro. Essa era uma violação do Shabat e parei – não poderia entrar. Então disse ao meu oficial acompanhante, “Esqueça isso.”

Poucos minutos depois, o oficial voltou dizendo-me que havia agora uma ordem oficial do General Tamir de que eu e os outros deveríamos comparecer. Recusei-me a obedecer a ordem, eu disse: “Tenho ordens de uma Autoridade Maior. Não vou violar o Shabat e não vou entrar.” Os outros concordaram comigo e ficamos onde estávamos.

O auge daquela conversa foi que meus colegas foram presos e eu fui levado ao escritório do General Tamir. Quando entrei, ele tirou sua jaqueta com a insígnia de comandante e me disse: “Fale comigo como seu eu não fosse seu comandante. E por favor, explique por que fez isso! Por que me envergonhou na frente de todos os soldados?”

Eu não sabia aonde ele queria chegar. Disse: “O que eu fiz ao senhor? Poderia fazer kidush por si mesmo, por que eu tenho de fazê-lo?”

E então ele me contou o que tinha acontecido:

Depois que ele nos viu na tenda naquela primeira vez – quando estávamos cantando e celebrando o Shabat – ele decidiu que essa experiência seria boa para todo o campo. E ele trouxe a banda para tornar tudo ainda mais alegre. Ele não tinha ideia de que tocar instrumentos musicais era proibido no Shabat. Ele simplesmente não sabia!

Quando entendi tudo isso, eu disse: “Se você apenas mandar a banda parar de tocar, iremos. Será ótimo.”

Ele concordou e cinco minutos depois, nos juntamos aos outros – recitei o Kidush e todo mundo estava feliz.

Alguns dias depois, fui convocado pelo comandante da divisão do quartel que – para meu profundo espanto – pediu-me desculpas. Ele disse: “Peço desculpas a você em nome de todo o quartel pelo que aconteceu. Ninguém tem o direito de fazer você violar o Shabat.” Essas foram exatamente suas palavras.

E então ele me perguntou: “O que você precisa?”

“Precisamos de uma sinagoga, um local adequado para rezar,” eu disse, “e um Rolo de Torá.”

“Não se preocupe, ele disse, “será providenciado.”

Certamente, um espaço foi designado para nós rezarmos e um Rolo de Torá foi trazido com uma escolta militar e uma banda do exército marchando.

Eu fiquei surpreso, e relatei toda essa história numa carta que enviei ao Rebe.

Logo em seguida, recebi uma resposta – e foi uma resposta que mudou a minha vida.

A carta do Rebe estava datada no 16º dia do mês hebraico de Elul, 5711 – ou 17 de setembro de 1951 – apenas duas semanas antes de Rosh Hashaná, e dizia:

“Apreciei muito a sua carta… na qual você descreve seu serviço no exército e suas atividades para fortalecer o Judaísmo entre seus colegas… A grandeza daquilo que você está fazendo não pode ser descrita em palavras… mas posso afirmar que se você entrou no exército somente para isso, já teria sido suficiente.”

Isso significou muito para mim. E então o Rebe pediu-me para fazer algo a ele:

“Meu sincero pedido é para você dar minha bênção a cada soldado, não apenas os ‘soldados religiosos’ como você se refere a eles em sua carta.”

Ele seguiu explicando: “O adágio do meu sogro, o Rebe [Anterior}, é conhecido: ‘Um judeu nem quer nem é capaz de ser separado da Divindade,’ e portanto, todos os seus colegas são religiosos.”

Eu tinha comentado na carta de que havia doze soldados religiosos numa brigada de três mil homens. Mas, para o Rebe, todos os três mil eram religiosos – eles apenas não sabiam disso ainda. Como ele escreveu:

“É simplesmente que alguns deles carecem de conhecimento do Judaísmo. Mas eles não vão permanecer distantes e entenderão que eles, também, acreditam em D'us e em Sua Torá. Por favor, transmita a eles todos a minha bênção – que eles sejam inscritos e selados para um ano bom e doce.”

Ele disse-me para ir e dizer a cada soldado a quem eu encontrasse – cada um deles – que o Rebe de Lubavitch abençoa você para um ano bom e doce!

Sua mensagem foi uma ideia inteiramente diferente sobre como olhar para um judeu. Até então, eu colocava as pessoas em categorias – religiosas e não-religiosas – e obviamente me considerava um membro do grupo religioso. Mas o Rebe ensinou-me o quanto eu estava errado, porque todos os judeus são religiosos – alguns deles apenas ainda não sabem disso.