Cresci em Nashville, Tennessee, em meio à Grande Depressão, num ambiente judaico que era predominantemente Reformista. Mas, quando meu pai faleceu em 1943, pouco depois do meu Bar Mitsvá, comecei a frequentar a sinagoga ortodoxa local para recitar Cadish por ele. Então, quando terminou o ano de luto, continuei a participar do minyan, E também comecei a guardar o Shabat – que foi um desafio, quando tive de perder o jogo com meu time num campeonato de basquete, mas perseverei.

Em 1949, Rabi Zalman Posner, emissário Chabad, veio à cidade e despertou dentro de mim um interesse em estudar seriamente textos da Torá. Naquela época, eu estava frequentando a Universidade Vanderbilt, onde também estudava seriamente filosofia.

E é aí que minha história começa.

Pela intercessão de meu mentor em Vanderbilt, Professor Arthur Smallion, fui aceito na Universidade de Harvard para estudos graduados em filosofia. Mas eu não estava certo de que deveria ir para lá – uma universidade em Edimburgo, Escócia, também tinha me aceitado e aquele local exótico apelava mais para mim. Enquanto isso, decidi passar minhas férias de verão de 1952 na yeshivá Chabad em Nova York.

Enquanto estava ali, tive minha primeira audiência com o Rebe.

Lembro-me de falar com ele sobre Platão, cuja filosofia era de grande interesse para mim na época. Mas o Rebe o chamava de “Platon”, que é a maneira pela qual os eruditos gregos se referem a ele, e isso mostrou-me que o Rebe devia ter um profundo conhecimento sobre o assunto.

Ele disse que a filosofia de Platão era muito cruel. Eu nunca tinha ouvido alguém dizer aquilo sobre Platão antes e fiquei chocado. Presumi que ele estava se referindo à crença de Platão de que você tinha de afastar os filhos dos pais e treiná-los para serem subservientes ao estado, o que, tinha de admitir, é cruel. Mais tarde abandonei o estudo de Platão e me tornei um estudante de Aristóteles.

Ao final do verão na yeshivá Chabad, chegou a hora de partir. Mas para onde eu iria? Escrevi ao Rebe perguntando se eu deveria ir para Harvard ou Edimburgo. Ele respondeu que deveria ser Harvard, e sublinhou a palavra para enfatizar. Então foi isso que fiz.

Estudar em Harvard era difícil. Eu seguia pensando que conhecia filosofia, mas imediatamente vi que não sabia nada. Em Harvard havia estudantes graduados que sabiam mais que meus professores em Vanderbilt, e isso não é exagero. Eu estudava dez horas por dia, e estava me sentindo totalmente fora do grupo.

Comecei a querer voltar para a yeshivá, e um dia peguei o ônibus e retornei para o bairro Chabad. Meus colegas da yeshivá ficaram todos contentes ao me ver, e me senti bem com isso. Ou seja, até que vi o Rebe.

Eu disse a ele: “Decidi voltar à yeshivá.”

Ele respondeu: “Acho que você vai se arrepender por ter desistido da sua profissão.”

Ele deve ter visto a expressão desanimada na minha face, porque sorriu e disse: “Você precisa ter coragem.”

Saí dali abalado, mas voltei para o ônibus e retornei a Harvard. Foi muito difícil, eu estava deprimido às vezes, mas tirei um Mestrado, embora falhasse nos exames para um Doutorado.

Escrevi ao Rebe, novamente dizendo a ele que eu queria voltar à yeshivá porque tinha falhado em meus exames, mas o Rebe não concordou com isso. Ele respondeu: “Faça novamente, você é inteligente, e não há razão para não passar.”

E com certeza, passei na segunda vez e escrevi minha dissertação sobre Aristóteles. Mas isso também era difícil para mim e eu poderia não terminar se não fosse pelo Rebe me incentivando o tempo todo: “Termine… termine sua dissertação.”

Então, finalmente, eu fiz – em 1958. O nome era “Teoria da Percepção de Aristóteles”, e provou ser uma dissertação original em muitas maneiras. Na verdade, era tão original que foi contra o pensamento aceito dos filósofos aristotelianos e nenhum jornal acadêmico o queria publicar. Relatei meu problema ao Rebe que fez uma nova sugestão: “Peça para um dos seus professores de Harvard intervir.”

Eu jamais teria pensado em fazer aquilo na minha imaginação, porque sabia que tinha escrito uma dissertação controversa e era absurdo pensar que algum professor iria me apoiar. Mas como o Rebe me aconselhara, eu pedi. Como resultado, meu artigo foi publicado no Journal of Greek Theology, e recebeu muita atenção. Na verdade, fiquei famoso por causa disso e pude publicar muitas obras mais. Isso tudo foi por causa da visão do Rebe. Eu era um ninguém, e o Rebe me transformou num erudito bem respeitado. Mas só mais tarde eu descobri por que ele fez isso.

Tendo terminado meu Ph. D. retornei à yeshivá com o intuito de receber ordenação rabínica. O Rebe permitiu-me ficar por algum tempo, mas não me deixou tirar a ordenação rabínica. Quando lhe falei sobre meu plano, ele respondeu: “Lo mit an Aleph! - Sob nenhuma circunstância, seja qual for!” Ele não queria que eu tivesse o título “Rabino”, ele queria que eu tivesse o título “Professor”.

Somente comecei a entender seu raciocínio quando passei a ensinar. Quando meus alunos me viram usando um yarmulke [kipá], muitos deles foram discutir dúvidas sobre religião que os estavam incomodando. Eu era o endereço certo para suas perguntas sobre fé porque tinha obtido um Ph.D. de Harvard, porém tinha permanecido observante de Torá.

E agora finalmente entendi aquilo que o Rebe sabia o tempo todo – que com meu grau e minha reputação como erudito aristoteliano, eu estava numa posição de ter uma maior influência sobre outros judeus. Na verdade, eu nem sequer precisava abrir a boca – apenas ser quem eu era, um respeitado filósofo que era religioso, já dizia muito.

O Rebe sabia que era assim que deveria ser. Ele queria que eu me tornasse importante no mundo da filosofia pois possivelmente poderia ser muito relevante. Ter mais influência sobre meus alunos. Era isso que ele tinha em mente o tempo todo. E é por isso que ele constantemente me encorajava a escrever sobre filosofia, ir a conferências e fazer palestras. Sem o seu incentivo, eu não teria feito isso, portanto fica claro para mim que ele é inteiramente responsável pela minha carreira.

Desde o momento em que coloquei o pé em Lubavitch, o Rebe estava trabalhando o tempo todo para que eu não me tornasse um rabino, mas sim um famoso professor. E ele fez isso contra a minha vontade, por assim dizer. Como ele fez isso, não tenho certeza. Mas aqui estou eu como uma prova. E, como ele incentivou isso, centenas de pessoas que olharam para mim como um modelo são observantes de Torá atualmente – algumas plenamente, algumas com algum nível de observância. Assim como o Rebe havia previsto.