Cresci em Sidney, Austrália, num lar religioso. Após o ensino médio, fui para Israel estudar numa yeshivá durante alguns anos, retornando à Austrália para me matricular na Faculdade de Medicina da Universidade de Sidney. Após graduar-me e completar minha residência médica, casei-me com uma moça de Melbourne.

No decorrer do tempo, me vi atraído para a filosofia Chabad, que me agradava intelectualmente, e me tornei envolvido na comunidade Lubavitch, que era a força religiosa dominante em Melbourne.

Na verdade, foi o Rebe que me ajudou a decidir instalar-me naquela cidade. Quando nos casamos, minha esposa e eu precisávamos decidir onde morar em Melbourne onde ela nascera, ou em Sidney, de onde eu vinha. Escrevemos ao Rebe pedindo seu conselho e recebemos a resposta: “Makom dirah kirtzon akeres habayis – seu local de residência deve ser onde a mulher da casa deseja.” E então fomos para Melbourne.

Após algum tempo, eu não estava certo sobre qual direção minha vida deveria tomar, portanto novamente escrevi ao Rebe pedindo seu conselho, e listando quatro opções possíveis que eu estava considerando. A primeira opção era retornar ao estudo de Torá e aprender num Colel para homens casados: a segunda era me tornar um médico de clínica geral; a terceira era me especializar em alguma área da medicina; e a quarta opção era me especializar em psiquiatria.

Na sua resposta, o Rebe destacou psiquiatria e acrescentou as palavras “kdima l’efsharut zu – esta opção deveria ter precedência.” Segui o conselho do Rebe e me matriculei em treinamento psiquiátrico. E tenho atuado em prática psiquiátrica agora por quarenta anos.

Quando me formei, o modo de tratamento proeminente era psicanálise. Esta escola de pensamento tende a ver os problemas psicológicos das pessoas como enraizados nos traumas e experiências do passado. O papel do terapeuta é facilitar uma exploração daquelas experiências, a ideia sendo de que compreender as raízes de seus problemas vai ajudar os pacientes a se curar. Essa técnica envolve muitas sessões por semana durante vários anos.

Achei esse método problemático pois muitos pacientes se tornam deprimidos ao serem forçados a revisitar seu passado. Além disso, eles podem se tornar inseguros quando aquilo que percebem como “bom comportamento” é interpretado como um mero mecanismo de defesa contra partes inaceitáveis das suas próprias personalidades.

Tenho estudado os ensinamentos do Alter Rebe, o fundador no Movimento Chabad no Século 18, que em sua obra, o Tanya, descreve a dualidade dentro do homem (a alma animalesca e a alma divina). Isso me ajudou a entender que o bom comportamento é legítimo por si mesmo, e não deve ser visto como uma defesa neurótica. O Tanya também demonstra como promover pensamento positivo como um aspecto genuíno e legítimo da realidade. Isso teve um efeito poderoso sobre mim. Descobri a metapsicologia chassídica como uma fonte multi- facetada e rica para entender o funcionamento das pessoas.

Em novembro de 1975, tive uma chance de ir a Nova York e discutir esses assuntos pessoalmente com o Rebe. Queria pedir seu conselho sobre se era aconselhável eu próprio passar por psicanálise.

Naquela época, era uma crença comum que os psiquiatras deveriam fazê-lo, para entenderem melhor a si mesmos e aos seus pacientes.

Abordei isso com o Rebe durante a audiência, mas ele disse: “Ich veis nicht vos Du vest hoben defun – Não sei o que você conseguiria com isso.”

Então perguntei se talvez eu devesse fazer um curso de psicoterapia, que é muito menos intensivo e consome menos tempo. O Rebe respondeu: “Kenst geyen fir, finef mol – você pode ir quatro ou cinco vezes.”

“O terapeuta deve ser um judeu?” perguntei, ao que o Rebe respondeu: “Es macht ois tzi er iz a Yid oder a goy, ober er darf zayn a baal maamin – não importa se ele é judeu ou não-judeu, desde que acredite em D'us.”

Quando retornei à Austrália após meu encontro com o Rebe, tentei encontrar um psicanalista que acreditasse em D'us, mas não consegui, então nunca adotei aquela opção. Porém, a audiência com o Rebe teve um enorme impacto sobre mim e minha abordagem profissional e, na verdade, mudou totalmente meu modo de pensar. Entre outras coisas, o Rebe tinha sugerido que há uma validade às sessões a curto prazo, com metas orientadas, enquanto uma exploração demorada, para a vida toda, não é exigida. Isso me abriu a possibilidade de opções de tratamento alternativo (que atualmente dominam a psiquiatria, enquanto a psicanálise tem saído um pouco do quadro), e levou-me a me tornar cético de verdades recebidas em minha profissão.

Além disso, eu gostaria de mencionar muitas outras interações que tive com o Rebe.

Certa vez deixei meu carro no estacionamento, com minha carteira no banco da frente. Fiquei fora apenas por pouco tempo, mas quando voltei, vi que meu carro tinha sido arrombado e a carteira roubada. Obviamente, fiquei aborrecido por perder o conteúdo – mais especialmente, os dólares que tinha recebido do Rebe.

Meu irmão estava morando em Crown Heights na época, e perguntei a ele se poderia fazer o favor de ir no domingo, quando o Rebe distribuía dólares para serem doados à caridade, e pedisse ao Rebe um dólar para mim.

Meu irmão foi, embora estivesse constrangido demais para pedir dois dólares: um para ele e um para mim. Mas, quando ele estava saindo, o Rebe o chamou de volta e disse: “Aqui está um dólar para o seu irmão.”

No decorrer dos anos escrevi várias vezes ao Rebe quando as coisas estavam me incomodando e, a cada vez, recebi orientação pessoal que foi muito importante. Em uma ocasião, escrevi sobre certas questões profissionais e recebi a resposta: “Hanhoga yamis al pi Shulchan Aruch – Sua conduta diária deveria ser de acordo com o Código da Lei Judaica.” Meu mentor espiritual na época, Reb Zalman Serebryanski, disse-me que isso significava que eu deveria estudar o Código da Lei Judaica, juntamente com o comentário do Misgueret Hashulchan.

Em outra ocasião, escrevi sobre algumas áreas onde eu me sentia insatisfeito com minhas realizações pessoais. O Rebe colocou um círculo ao redor das minhas falhas notadas e escreveu: “Lekayem bepoel mah shene’emar: Ivdu es Hashem besimcha – Realize na prática o versículo: ‘Sirva a D'us com alegria.’”

Este e outros conselhos do Rebe têm me ajudado muito, e no decorrer dos anos tenho partilhado sua sabedoria com muitos dos meus clientes e amigos.