Minha história começa quando minha mãe estava grávida de mim. Ela logo começou a sentir dores terríveis. Essa não era a primeira gravidez, mas isso estava além do normal, portanto ela sentiu que algo estava terrivelmente errado.
Obviamente, ela foi ao médico, que após examiná-la, disse: “A gravidez não é o que está lhe causando essa dor. Você tem um tumor crescendo lá dentro, e precisa abortar este bebê e retirar o tumor.” Ele seguiu dizendo a ela que não havia outra opção pois este bebê em crescimento iria colocar a vida dela em risco, e mesmo se ela continuasse com a gravidez, o bebê não nasceria normal. Portanto a total remoção tanto do bebê quanto do tumor era absolutamente necessária.
Imagine qualquer mulher escutando isso!
Mas minha mãe não era qualquer mulher. Ela era muito forte – como sempre digo, ela era um verbo, não um substantivo. Após discutir a terrível notícia com meu pai, ela ligou para o escritório do Rebe, e falou com Rabino Hodakov, secretário do Rebe. Ele se comunicou com o Rebe e relatou a ela que, em primeiro lugar, ela não deveria fazer um aborto, e em segundo, não precisava se preocupar. Na verdade,o Rebe disse que ela teria este filho, e que ela veria o filho se casar sob a chupá. Isso obviamente significava que o bebê viveria e que ela iria viver!
Minha mãe sentiu-se aliviada, mas obviamente não conseguia tirar o pensamento do tumor de sua mente. (Quando ela contou essa história ao meu sobrinho uma semana antes que ela tivesse um AVC que lhe causou a morte, ela falou: “Embora o Rebe dissesse para eu não me preocupar, não era tão simples. É claro, ouvi o Rebe, mas não foi fácil.” Ela soluçava enquanto dizia: “Oif dem darf men hubben emuná in a Rebbin- Por isto você precisa ter fé no Rebe.”)
Enquanto isso, ela sentia a dor ficando cada vez mais forte. O tumor era palpável à medida que continuava a crescer e colocava em risco a vida dela e a do bebê. Nesse ínterim, o médico continuava a lhe dizer: “Você perdeu a razão – o que está fazendo? Quer deixar seu marido viúvo? Quer deixar seus filhos órfãos? O que está esperando?!”
Isso aconteceu há muito tempo, quando um médico era como um deus. Naqueles dias, um paciente nunca questionava um médico, que estava dizendo: “Isso é sério! Sua vida está em risco. O que um Rebe sabe sobre medicina?!”
Ela estava muito abalada pela incessante pressão do médico, portanto marcou uma visita ao Rebe. Quando ela entrou no escritório do Rebe, começou a chorar na frente dele. O Rebe a escutou, mas então levantou a mão pois esse era seu costume, e disse: “Não tenho nada para dizer a você exceto aquilo que já disse a Rabi Hodakov.” Porém, ele recomendou um outro médico – Dr. Halpern – que, após examiná-la, disse a mesma coisa que o médico anterior. Porém, quando minha mãe ficou desolada e gritou: “Mas Rabi Schneerson disse!” ele se reverteu. “Rabi Schneerson? Oh, isso é diferente.” E passou a tratá-la.
Minha mãe levou a gravidez até o fim, e enquanto me dava à luz, o tumor foi tirado do seu corpo. Ela me deu o nome de Chana como sua mãe, porque antes que ela entrasse em trabalho de parto, sua mãe apareceu para ela em sonho e disse que ela teria uma menina saudável, mas que este bebê teria um crescimento no nariz.
Eu não nasci com um crescimento no nariz, mas no lábio. Ainda tenho uma cicatriz de onde foi removido. Mas não sofri outras consequências. Levei uma vida normal – cresci, me casei, e tive filhos.
Isso me traz outra história que gostaria de partilhar – como aquilo que o Rebe me disse realmente mudou o foco da minha vida.
Em 1990, tivemos um incêndio em nossa casa na noite de sexta-feira, Zot Chanucá, a última noite de Chanucá. Eu costumava acender velas do Shabat e então contar uma história para meus filhos. Meu filho mais novo na época, Yankel, adormeceu no chão, e lembro-me de pensar comigo mesma: “Eu deveria pegá-lo e o levar escada acima até seu berço.”
Mas decidi não interromper e continuei a história. E então ouvi um barulho lá em cima. E quando subi para checar, vi um enorme fogo. Todos corremos para fora da casa, fomos salvos, mas a casa foi bastante queimada. O teto desabou e a neve caia dentro de casa.
Naquele domingo, toda nossa família foi receber a bênção do Rebe, quando ele estava entregando dólares a serem doados para tsedacá. Esperando na fila, eu ficava pensando: Por que D'us nos enviou um fogo? O que isso significa? Que mudanças devo fazer na minha vida? Estou fazendo algo de errado para merecer isso?
Meu marido era o primeiro da fila. O Rebe deu-lhe uma bênção e disse: “Nos ensinamentos chassídicos está escrito que depois de um incêndio você se torna rico.” Então o Rebe acrescentou: “Zolst dos mekayim zayn, un mit a hiddur – Você deveria cumprir isso ao máximo.”
Então chegou minha vez. Para mim, o Rebe disse: “Eu já disse ao seu marido que depois de um incêndio a pessoa se torna rica.” Eu respondi: “Bgashmius ubiruchnius – Materialmente e espiritualmente.” Mas embora eu dissesse “materialmente”, eu estava me concentrando no espiritual, e era para isso que eu realmente queria uma bênção.
Eu senti que o Rebe deve ter lido minha mente porque ele disse: “Começando com o material.” Então ele levantou a mão e disse: “Du gayst glaich un fun ruchnius un ich hoib un fun gashmius – Você se concentra no espiritual, mas eu começo com o material.”
Aquelas palavras mudaram completamente minha visão de vida. Percebi que a vida é toda sobre o material, que deve ser elevado e usado para servir a D'us. Nada deve ser considerado mau ou feio, ser zombado ou evitado. Tudo deveria ser usado como uma ferramenta para se aproximar mais de D'us.
Isso eu aprendi com o Rebe. Ele era uma força para o positivo. E essa simples sentença que ele endereçou a mim se tornou muito importante para a maneira pela qual eu vejo o mundo, a maneira que olho para os estresses e desafios na vida, a maneira pela qual eu transcendo coisas que são dolorosas e as pressões do exílio (galut). Por causa daquilo que o Rebe disse, sempre me pergunto: Como tudo que encontro pode ser usado para o bem, ou como uma oportunidade para crescer?
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