Meus pais eram chassidim Guerer da Polônia que imigraram para Williamsburg, no Brooklyn. Foi ali que meu pai, Rabi Chanoch Henech Rosenfeld, tornou-se amigo do nosso vizinho, Rabi Mordechai Groner, que era um Lubavitcher. E isso levou todos da nossa família inteira a se tornarem chassidim Lubavitcher.

Chegou o final da década de 1940 quando eu estava trabalhando para o Comitê de Expansão da Educação Judaica, que era liderado por Rabi J. J. Hecht, um proeminente rabino Chabad. E ele decidiu que eu seria uma boa esposa para seu irmão Peretz.

Nós nos casamos em 1949, e pouco antes do casamento fomos receber uma bênção do Rebe – era o Rebe Anterior, Rabi Yosef Yitzchak Schneersohn, que estava limitado à cadeira de rodas por causa dos ferimentos que sofrera numa prisão soviética. Lembro-me que ele me disse em yidishe: “Uma noiva pode pedir todas as boas coisas sob a chupá [canópia nupcial], portanto D'us dará a você a sabedoria de saber o que pedir, e tudo aquilo que pedir será concedido.” Lembro-me que, devido à sua condição de saúde, ele mal conseguia falar. Tinha de se esforçar para se expressar e aquilo partiu meu coração, portanto fiquei ali chorando sem parar.

Aquele foi meu encontro com o Rebe Anterior, que faleceu um ano depois, e em 1951, Rabi Menachem Mendel Schneerson, seu genro, assumiu a liderança de Chabad como Rebe.

Após estar casada por quatro anos, ainda não tínhamos filhos, e fui pedir uma bênção ao Rebe. Ele me disse: “Meu sogro soube dessa situação?” Eu respondi que ele sabia. “Então faça o que ele aconselhou.”

O Rebe Anterior thavia me recomendado que eu fosse a um hospital e fizesse vários testes para descobrir por que eu não podia conceber. Nunca cumpri com seu conselho, mas agora decidi que deveria fazê-lo. E fiquei grávida - notícia que meu marido alegremente relatou ao Rebe.

“Como ela está passando?” o Rebe quis saber. “Ela está indo bem,” respondeu meu marido. “Está fazendo compras, lava o chão da casa, viaja de ônibus,... leva uma vida com suas tarefas diárias normalmente.”

O Rebe ouviu cuidadosamente ao meu marido e então falou para seu secretário me ligar para dizer: “O Rebe não quer que você viaje mais de ônibus. E não quer que lave mais o chão.” Ele estava tão preocupado comigo, pela minha saúde, agora que eu finalmente estava grávida. Na verdade, ele fazia o secretário ligar várias vezes para assegurar que eu estava me cuidando.

Isso mostra o quanto o Rebe se preocupava com todo pequeno detalhe nas vidas de seus chassidim, e que ele era como um pai para todos nós.

Mais tarde, quando eu estava grávida novamente, os médicos disseram que eu não estava bem e que o parto teria de ser induzido. Eu não estava certa se essa era a atitude correta, portanto perguntei ao Rebe: Ele disse: “Qual é o problema? D'us ainda está esperando!”

O bebê nasceu normalmente um mês após a devida data, e entendi que às vezes é melhor não ouvir aos médicos mas ouvir ao Rebe. Portanto se o bebê estava esperando seu tempo – aquilo apenas significava que D'us estava esperando, portanto tínhamos de esperar também.

Quando eu já era mãe de várias crianças pequenas, lembro dele me perguntando: “Você reza todo dia?” Respondi que recito o Shemá todo dia e também as Bênçãos Matinais, mas não recito o serviço de prece inteiro porque estou ocupada cuidando dos meus filhos. “Eu preciso estar atenta a eles portanto não tenho tempo para me concentrar adequadamente nas preces.”

Ele disse: “Se você me perguntasse se deveria rezar, então eu lhe diria que sim, você deveria rezar todo dia, do começo ao fim. A melhor maneira é fazer isso um pouco por vez, e acrescentar mais a cada dia até conseguir terminar todas as preces. Faça isso todo dia. Não fique preocupada com as crianças enquanto está rezando – encontre alguém para cuidá-las durante esse tempo.”

Ao ouvir suas palavras, eu disse a mim mesma: “Essa vai ser minha nova vida e minha nova maneira de ser.” E, a partir de então, rezei todo dia. E isso teve um forte impacto na minha vida.

O Rebe também teve um forte impacto na vida de meu marido.

Você precisa entender que meu marido era um chassid leal – estava próximo do Rebe numa maneira espiritual – mas nunca queria incomodar o Rebe com questões mundanas. Ele sempre dizia: “O Rebe é ocupado demais; ele tem assuntos maiores para se preocupar. Não se dirija a ele com pequenos detalhes sobre isso ou aquilo.”

Ele trabalhava parte do dia como professor na yeshivá Tomchei Temimim, mas precisávamos de mais renda e então, finalmente, ele perguntou ao Rebe se era bom para ele aprender como ser um tipógrafo.

O Rebe aprovou e meu marido foi aprender todos os detalhes da impressão. Ele era bom nisso e lhe foi oferecida uma parceria numa empresa de tipografia. Novamente, o Rebe aprovou. Mas então a sociedade se rompeu. Meu marido perguntou ao Rebe: “Então, o que faço agora?” O Rebe disse: “Compre a parte do outro sócio. Agora você vai ser o dono da sociedade.”

Aquilo era algo grande para meu marido – ser o dono e tomar conta de tudo – mas ele conseguiu. E em todos os anos em que ele estava no negócio, dizia: “Posso sentir o Rebe comigo todo dia em que estou no trabalho. Posso vê-lo enviando-me clientes. Posso senti-lo trabalhando junto comigo.”

Mesmo depois que se aposentou, ele nunca deixou de ficar espantado. “De onde veio a ideia de que eu deveria me tornar um tipógrafo? O que eu sabia a respeito disso? E mesmo assim me tornei bom nisso e adorei. Tive um contrato com uma das maiores empresas e eles ficaram impressionados com o meu trabalho. Mas eu senti que foi a bênção do Rebe que me manteve seguindo no decorrer de todos os anos em que estive no negócio.”

Eu podia dizer o mesmo. Senti que o Rebe sempre me tinha em mente. Ele assegurou que eu estava me cuidando física e espiritualmente, quando me disse para rezar todo dia e ficar conectada com Hashem. Ele colocou minha vida à minha frente. E aquilo me manteve seguindo através de todos os anos em que estou nessa terra. Jamais esquecerei as vezes em que tive o privilégio de falar com ele. Nada daquilo me deixou. Até o dia de hoje.