Quando criança, eu gostava de ler livros. Na verdade, abri minha própria biblioteca em casa aos sete anos. E foi quando tudo começou.

Uma manhã, acordei e não conseguia abrir os olhos. Em pânico, corri até o banheiro e tentei colocar alguma água sobre os olhos, mas isso não ajudou. Minhas pálpebras estavam grudadas.

Meu pai – que era um médico no Centro Médico Hadassa em Jerusalem – levou-me ao pronto socorro e, após uma série de testes, eles descobriram que eu estava sofrendo de uma doença ocular muito rara – em resumo, eu era alérgico ao sol.

A partir dali, durante muitos anos, quando eu acordava toda manhã meus olhos estavam grudados, fechados. Eu tinha de aplicar vários cremes e soluções para abri-los novamente. Isso durou muito tempo. Eu tinha de levantar às 6 da manhã para abrir meus olhos às 7h30, quando tinha de ir para a escola. Tinha de fazer isso todas as manhãs.

Meu pai levou-me a todos os especialista que conhecia. Mas nada que eles tentassem me ajudava. Minha alergia ao sol significava que qualquer exposição ao sol faria meus olhos incharem, e eu iria sentir uma forte dor como alguém me espetando com agulhas. Além disso, meus olhos estavam sempre coçando e com lágrimas.

Eu tinha de usar óculos escuros especiais prescritos especialmente para mim e, onde quer que eu fosse, as cortinas tinham de ser baixadas o tempo todo em que eu ficava no aposento. Na escola, estive sujeito a zombaria durante muito tempo, embora após algum tempo as crianças se acostumassem com minha aparência não usual.

Mas meu problema deteriorou, até que finalmente fui informado de que provavelmente ficaria cego. Meu pai tinha me levado a outro especialista em Jerusalém, Professor David Ben Ezra, que disse a ele: “A boa notícia é que há um novo tratamento que irei tentar, mas a má notícia é que, se não funcionar, seu filho provavelmente vai perder a visão.”

O novo tratamento não funcionou. E assim, aos onze anos, eu estava encarando a possibilidade de jamais conseguir ler novamente – e esta era a minha paixão. Além disso, eu estava encarando a chance de jamais poder enxergar minha família ou meus amigos ou qualquer outra coisa ao redor. O médico disse que eu poderia andar com um cão para cegos, o que somente me apavorou ainda mais porque eu tinha fobia de cães. Tudo isso me afetou muito – não apenas eu estava com dor física mas o sofrimento emocional era intenso.

Enquanto isso, meu pai recebeu uma oferta de emprego nos Estados Unidos e, em maio de 1989, imigramos para lá. Ao chegar, passamos o primeiro mês na casa de um amigo de meu pai, Meir Rhodes, que morava em Crown Heights na época.

Lembro-me de Meir dizendo ao meu pai: “Seu filho precisa ir ver o Rebe na manhã de domingo.” Era quando o Rebe recebia as pessoas e entregava notas de dólar para caridade.

Meu pai estava relutante. Ele tinha me levado a muitos rabinos em Israel, e suas bênçãos não tinham ajudado. Portanto, ele não queria novamente me dar esperanças para que elas fossem apagadas. Mas Meir insistiu de que não havia nada a perder.

No Shabat antes daquele domingo, Meir nos levou ao farbrenguen do Rebe. E lembro-me claramente do respeito que senti e da eletricidade no ar. Eu podia ver bem dentro da sala porque não havia sol – a luz fluorescente era mais fácil para mim.

Durante o farbrenguen alguém me deu um pequeno copo de vinho ou suco de uva e me disse para dizer l’chaim ao Rebe. Ergui o copo e disse: “L’chaim, Rebe! L’chaim, Rebe!” Mas o Rebe não me notou. Lembro-me de pensar em minha mente infantil; “Que tipo de Rebe é esse que ignora um menino pequeno?”

E logo então o Rebe voltou-se para mim, olhou nos meus olhos e com um grande sorriso, disse: “L’chaim!”

O que senti naquele momento é impossível de descrever.

Na manhã seguinte, fiquei na fila por um longo tempo na Eastern Parkway, como Meir tinha me instruído a fazer, esperando para receber um dólar do Rebe junto com sua bênção. Quando finalmente cheguei ao Rebe, falei com ele em russo, um idioma que eu aprendera com meus pais. Naquela época, eu ainda não falava inglês, e não sabia se o Rebe falava hebraico. Mas sabia que ele viera da Rússia.

Pedi uma bênção para que meus olhos não doessem, que eu crescesse para ser um erudito de Torá, e ser saudável e bem sucedido. “Amén”, o Rebe respondeu e então me abençoou: “Que D'us lhe conceda sucesso em tudo que precisar. E você deveria se tornar um chassid, um judeu temente a D'us, e um erudito. Bênção e sucesso.”

Saí dali feliz mas sem expectativas. E nada mais aconteceu durante uma semana – eu ainda tinha problemas ao abrir meus olhos, ainda tinha de aplicar cremes e soluções para descolá-los toda manhã, e ainda sentia forte dor quando exposto ao sol.

Mas então, na manhã do domingo seguinte, levantei e pela primeira vez em anos, abri meus olhos na mesma hora, fiquei chocado. Corri até o banheiro e olhei no espelho. Meus olhos tinham aberto e eu não estava cego. Lembro-me de sentir uma limpeza, como se tivesse tomado uma longa ducha. E então saí, e tirei meus óculos escuros e olhei para o sol. Não senti dor! Estava curado!

A única explicação para essa súbita mudança na minha situação era a bênção do Rebe. É uma história incrível, mas ainda há mais. O Rebe não apenas abriu meus olhos físicos, ele abriu meus olhos espirituais. Fui exposto à beleza dos ensinamentos de Chabad e, aos vinte e três anos, tornei-me um chassid Lubavitch.

Então, todas as bênçãos do Rebe foram cumpridas – tive minha saúde de volta, cresci para estudar Torá e ser um bom chassid, e ter sucesso na vida como cineasta espalhando a mensagem do Judaísmo.