Durante meu quarto ano de estudo no Technion, Instituto de Tecnologia de Israel, passei por um despertar espiritual que para mim foi difícil de definir na época. Procurei em todos os tipos de lugares antes de chegar à conclusão de que meu caminho está no Judaísmo. Como resultado de uma conexão que fiz com o Rabino Reuven Dunin de Haifa e com o Rabino Moshe Weber de Jerusalém, comecei a estudar na yeshivá Lubavitch em Kfar Chabad e, após um ano de estudo, fui trabalhar como professor na escola Chabad de comércio.
Minha primeira visita ao Rebe ocorreu em 1968, um ano após meu casamento, no mês de Tishrei, o mês de Rosh Hashaná, Yom Kipur e Sucot. Quando eu estava partindo para Nova York, meus amigos recomendaram que eu levasse meu violino comigo, e assim fiz.
Comecei a tocar violino ainda relativamente jovem, e tinha tido o privilégio de estudar com alguns dos melhores professores de Israel. Toquei em muitas orquestras, incluindo a Orquestra do Technion, portanto eu tinha um vasto passado musical que integrei ao mundo da música chassídica. E na verdade, durante o tempo em que eu estava estudando na yeshivá, tive o privilégio de tocar algumas vezes em farbrenguens e em vários eventos Chabad realizados em Kibutsim em Israel.
Durante minha visita ao Rebe em Nova York, toquei algumas vezes na sucá dos meus anfitriões, e então chegou Simchat Torá. Ao final da festa, o Rebe dirigiu um farbrenguen e, após conduzir a cerimônia de Havdala, distribuiu vinho do seu copo. Quando me aproximei para receber um pouco, perguntei ao Rebe se eu poderia tocar meu violino. Ele me olhou por um momento com um olhar penetrante e disse: “Ótimo, toque por favor.”
Peguei o violino que, a pedido de alguns chassidim eu tinha voltado para buscar após a Havdala e guardado debaixo do armário. Dois cantores famosos, Rabino Moshe Teleshevsky e Rabino Shamshon Charitonow estavam ao meu lado, e após uma breve consulta com o Rebe, eles me disseram para tocar Essen est zich. Esta canção lamenta como é fácil se conectar com prazeres físicos, porém como é difícil rezar, sua melodia comovente expressa um profundo anseio por Divindade.
A sala estava lotada quando comecei a tocar, enquanto o Rebe continuava a servir vinho para todas as pessoas que passavam por ele na fila. Quando terminei o nigun, o Rebe acenou que algo não estava certo e disse à multidão que eles deveriam cantar a canção para que eu pudesse aprendê-la.
Os dois cantores tentaram me explicar o que o Rebe queria dizer, que havia duas notas com nuances que eu tocara ligeiramente errado, e eles me demonstraram como eu deveria fazer.
Tentei algumas vezes até que consegui tocar certo. Após eu corrigir aquela parte, o Rebe pediu-me para tocar novamente algumas vezes, acrescentando: “Mais uma vez, mais uma vez,” e “pianíssimo”, usando o termo musical italiano que significa “muito suavemente”.
Na música, a dinâmica do volume dá ao som sua cor e seu sentimento. Sob uma perspectiva técnica seca, você pode tocar a mesma parte no mesmo volume algumas vezes, repetir e repetir, mas aquilo não faz justiça à melodia. O que o Rebe estava tentando me dizer era que essa parte do nigun estava expressando anseio, e portanto a suavidade do som tem importância. Repeti mais suavemente, e de repente o Rebe voltou para mim e disse: “Mas a última nota você deveria fazer uma tekia guedola,” referindo-se à nota longa obrigatória tocada com o shofar em Rosh Hashaná. E tentei fazer aquilo, tornando-a a mais longa que pude.
Continuei a tocar mais algumas canções terminando com a famosa Ufaratsta. Toquei-a entusiasticamente, como estava acostumado a tocar nos eventos Chabad em Israel. A certa altura o Rebe me disse: “Você tocou como eles tocam em Israel, agora toque como eles tocam na Babilônia,” referindo-se à Diáspora.
Achei isso interessante porque no farbrenguen o Rebe falou sobre Rabi Zeira que tinha vindo da Babilônia para Israel e que então jejuou cem vezes para esquecer o método de estudo da Babilônia para que pudesse aprender o método de Jerusalém.
Toquei a canção várias vezes, até que toquei na maneira que o Rebe tinha pedido.
Quando o Rebe começou a sair da sala, a multidão cantou Ki B’simcha Teitzeiu, e o Rebe olhou para mim, como se para assinalar que eu deveria participar. Comecei imediatamente a tocar com a multidão, e então o Rebe instruiu: “Faça um crescendo,” usando outra expressão italiana que descreve um som que cresce cada vez mais. Eu conhecia o termo, mas durante o canto, não podia ouvir exatamente o que o Rebe tinha dito, e me inclinei para perto do Rebe para perguntar o que ele queria dizer. “O oposto de pianíssimo,” ele disse.
É claro, toquei a canção novamente com força, e a multidão inteira cantava com entusiasmo. Foi um evento maravilhoso.
Alguns dias depois enquanto estávamos nos preparando para retornar a Israel, com o ônibus esperando para nos levar ao aeroporto, o Rebe saiu do 770 para dizer adeus a nós. Quando ele perguntou “Onde está Shmuel Katan?” as pessoas me disseram para pegar meu violino e começar a tocar.
Lembro-me desse momento único e comovente.
Foi à noite e estávamos caminhando para trás, nossas faces voltadas para o Rebe, e eu tocando. Toquei Essen est zich, como o Rebe tinha me ensinado, a última nota mais e mais “pianíssimo”, para expressar a emoção que todos estávamos sentindo.
Continuei a tocar enquanto caminhávamos para fora, mais longe do Rebe, e jamais vou esquecer o olhar paternal do Rebe nos seguindo com uma expressão de amor e saudade.
Clique aqui para comentar este artigo