Quando eu tinha três anos caí enquanto descia as escadas depressa demais e me machuquei. Mas demorou algum tempo para meus pais perceberem que a queda tinha prejudicado minha audição. Quando eles souberam, levaram-me aos melhores médicos que puderam encontrar em Jerusalém, onde estávamos morando, e os vários testes confirmaram que eu tinha sofrido um dano no interior do ouvido. Para conseguir ouvir adequadamente, eu teria de usar aparelhos de audição.

Devido à minha pouca idade, o problema também prejudicou o desenvolvimento da fala. Tive de ir a uma terapeuta para aprender a pronúncia correta das palavras. Mas aquela terapeuta somente falava hebraico, e minha primeira língua era yidishe – o idioma que meus pais falavam em casa, e que era o principal na escola que eu frequentava. Então, ela disse aos meus pais que ela precisava falar hebraico e que eles deveriam falar hebraico comigo em casa. Meu pai não gostou da ideia, porque seria preciso a família inteira ter de mudar para o hebraico, e ele decidiu escrever ao Rebe sobre isso.

Eu tinha cinco anos quando meu pai escreveu ao Rebe, explicando as razões para o pedido do terapeuta da fala e os desafios envolvidos, e perguntando qual era a coisa certa a fazer naquela situação. O Rebe respondeu que “não é aconselhável incomodar seu filho mudando seu idioma original, e portanto você deveria continuar a falar com ele e estudar com ele no mesmo idioma que ele tem falado e aprendido até agora.”

A terapeuta aceitou o veredicto do Rebe, e ela agradeceu à minha mãe, que trabalhava com ela durante minhas sessões de terapia da fala porque, como um resultado do meu caso, ela começou a aprender outro idioma. Continuei a estudar yidishe na minha escola, e por fim hebraico e também um pouco de inglês.

Aos quinze anos encontrei o Rebe pela primeira vez, quando meus pais me levaram a Nova York para que eu pudesse passar as Grandes Festas no 770. Eu estava muito empolgado sobre essa viagem, pois durante vários anos eu tinha escrito ao Rebe e recebido suas bênçãos e encorajamento. O pensamento de ver o Rebe com meus próprios olhos era muito comovente para mim, e eu também esperava pedir a ele uma bênção para que eu pudesse voltar a ouvir normalmente.

Antes do primeiro farbrenguen no 770, meu pai fez questão de chegar cedo para conseguir um bom lugar nos longos bancos onde os chassidim sentavam. Ele garantiu assentos na segunda fila, perto do Rebe, e me sentei ao lado dele. Mas então a pessoa que geralmente se sentava ali chegou e não ficou satisfeito por nos ver. “Entendo que uma pessoa importante como você merece um bom assento,” ele disse ao meu pai, “mas por que seu jovem filho deveria se sentar aqui? Deixe que ele vá para os bancos no fundo junto com os outros meninos.”

Meu pai tentou explicar que era minha primeira vez com o Rebe, e que eu tinha problemas de audição e não conseguiria ouvir nada lá do fundo, mas eu tive de ir para as arquibancadas.

A certa altura depois que o farbrenguen começou, o Rebe notou meu pai e fez um gesto a ele, como se perguntando: “Onde está seu filho?” Meu pai apontou para o topo dos bancos. Em resposta, o Rebe fez um gesto para baixo indicando seu desprazer. No farbrenguen seguinte sentei-me ao lado do meu pai na frente, e gostei de poder ouvir o Rebe, ao menos parcialmente.

Em seguida, tive uma audiência privada com o Rebe. Meus pais entraram primeiro sem mim, e minha mãe disse ao Rebe que eu tinha tirado meus fones de ouvido e estava me recusando a usá-los. Ela pediu que o Rebe me desse uma bênção para que eu pudesse ouvir.

O Rebe respondeu: “Entendo que ele tirou os fones de ouvido porque está constrangido por usá-los. Mas ele precisa começar a usá-los novamente e ficar feliz. Ele será bem sucedido e vai encontrar um shiduch e se casar.”

Minha mãe também disse ao Rebe que eu não queria voltar a Israel e planejava ficar nos Estados Unidos até que pudesse ouvir por mim mesmo sem ajuda de aparelhos. O Rebe afastou essa ideia. “Ele não pertence à América ,” disse ele. “Não conhece o idioma, e não tem amigos aqui. Precisa voltar à Terra Santa, e ali será bem sucedido.”

O Rebe quis saber se meus pais tinham me levado a especialistas nos Estados Unidos. Minha mãe confirmou que eles tinham feito isso mas, assim como os médicos em Israel, todos disseram que não havia nada a fazer por mim.

O Rebe não se impressionou com isso e disse: “Quando você retornar, mantenha contato com os maiores professores em Israel, e diga a eles em meu nome que logo haverá um aparelho eletrônico especial disponível que será implantado através de cirurgia e conectado ao nervo auditivo interno.”

Este aparelho estava em seus primeiros estágios de implementação na época. Era capaz de fazer aquilo que outros aparelhos não podiam – ou seja, converter ruídos em sinais eletrônicos e assim permitir que pessoas surdas ouvissem.

Após voltarmos a Israel meu pai checou essa possibilidade com os médicos, e eles disseram que esse aparelho estava disponível mas, por enquanto, estava sendo implantado em pessoas que não podiam ouvir nada. Como minha perda de audição não era total, eles preferiam não realizar essa cirurgia, considerando o risco de mais danos na audição.

Após meus pais saírem, eu fiquei sozinho com o Rebe. Ele perguntou, numa voz alta, se eu podia ouvi-lo. Quando confirmei que podia, ele me disse: “Continue a usar seu aparelho de audição, e se conduza com alegria e felicidade. Volte a Israel e estude o Tratado Kidushin do Talmud. Encontre um parceiro de estudo, e fale com seus amigos sobre aquilo que está estudando – é assim que você irá estabelecer uma conexão com D'us.”

“Uma bênção para ouvir bem,” eu pedi a que o Rebe respondeu: “Seja alegre, e você vai ter sucesso em todas as áreas.”

Quando eu estava saindo, disse ao Rebe: “Estou abençoando o Rebe para que todas as bênçãos que o Rebe me dá sejam cumpridas.”

“Amén!” o Rebe respondeu.

Embora eu tenha ficado na sala do Rebe apenas durante alguns minutos, me senti transformado por aquele encontro – eu sabia que teria de ser feliz e contente, e através disso, eu seria bem sucedido. Na verdade, foi isso o que aconteceu. Casei-me e estabeleci um bom lar judaico. Criei uma família de filhos saudáveis, dos quais alguns já se casaram e têm as próprias famílias.

Sempre que venho a Nova York, faço questão de visitar o Ohel do Rebe. Fecho os olhos, e escuto o Rebe me dizendo: “Seja feliz e você será bem sucedido!”