Vindo de uma família com raízes chassídicas, gravitei ao Lubavitch com pouca idade e estudei numa yeshivá Chabad. Mas somente quando tornei-me adulto e me casei que conheci o Rebe. Isso foi em 1965 quando viajei a Nova York para passar o mês hebraico de Tishrei – o mês das Grandes Festas e Sucot – em sua presença. Ao final da minha visita, tive uma audiência privada e disse ao Rebe que, embora eu tivesse estado perto dele durante várias semanas, ainda não sentia que uma mudança havia ocorrido em mim, como eu esperava que acontecesse.

Em resposta, o Rebe citou uma frase de seu sogro, o Rebe Anterior, “quando você viaja para a feira, compra muita mercadoria, embala tudo e leva para casa, e desembrulha tudo durante o ano.” Entendi o que ele queria dizer – aquele que vai a uma feira é como o chassid que viaja ao seu Rebe para o mês de Tishrei, “comprando muita mercadoria” – ou seja, adquirindo inspiração espiritual. Mas ele não vê o que realmente recebeu até chegar em casa, processar tudo, e começar a colocar em prática. E então começa a sentir que o Rebe está com ele o ano inteiro.

Isso provou ser verdadeiro para mim, especialmente nos últimos anos, quando irrompeu a Guerra de Yom Kipur.

A Guerra de Yom Kipur me pegou, como todos os israelenses, no meio das preces no dia mais sagrado do ano. Eu estava rezando na yeshivá em Kfar Chabad, quando de repente ouvi aviões e vi carros na rua principal. Entendi que algo terrível estava acontecendo, embora não soubesse exatamente o que até que voltei para casa e minha mulher me contou que eu tinha sido convocado para me alistar. Coloquei imediatamente o meu uniforme e escrevi ao Rebe que eu estava saindo para a guerra, pedindo sua bênção para voltar em segurança.

Como eu soube mais tarde, ele deu sua bênção imediatamente, e, de fato, minha vida foi salva muitas vezes durante a guerra. Por exemplo, como parte do avanço das IDF, eu me vi no Campo Aéreo Bir Gifgafa no Deserto do Sinai. Assim que minha unidade deixou o local os egípcios o bombardearam. Mas conseguimos sair em tempo e fomos poupados.

Tentei fazer o melhor como emissário do Rebe e, embora fosse praticamente impossível, tentei observar Sucot no Sinai e ajudar outros a fazê-lo também. Junto com um amigo, construí uma sucá fora da base de munição, mas tivemos de avançar e nunca conseguimos entrar ali. Não desisti. Usando algumas cordas que conectei a um jipe, criei um abrigo portátil e coloquei alguns galhos de arbusto no topo. Nessa sucá, fiz Kidush, a bênção sobre o vinho, e havia cerca de cem soldados que ouviram aquele kidush.

Na noite de Hoshana Rabá recebemos uma ordem de avançar rumo ao Canal de Suez. Participamos na construção de uma ponte que foi usada para cruzar o o Canal e para conquistar áreas no outro lado. Poucas horas após construirmos a ponte e muitos veículos israelenses passarem para o lado egípcio, os egípcios perceberam o que estava acontecendo e começaram a nos bombardear pesadamente, com mísseis e foguetes caindo como chuva. Saltei fora do carro e me abriguei debaixo dele, o tempo todo recitando salmos que eu sabia de cor.

Somente pela manhã, quando fui pegar meu talit, vi que um pedaço de bomba tinha penetrado nele e em meu tefilin, mas tinha sido detido por um livro de Selichot.

Na noite de Simchat Torá, os bombardeiros continuaram incessantemente. Minha unidade anti-ataque teve de sair no momento em que aviões inimigos foram identificados, e obviamente, isso era muito assustador. Graças a D'us conseguimos derrubar muitos aviões, e recebemos uma medalha de comenda pelos nossos esforços.

Assim que os bombardeios se acalmaram um pouco, saí para ajudar soldados a colocarem tefilin. Fiz isso durante todo o tempo em que permaneci no Sinai – cerca de seis meses – até o mês hebraico de Adar. Os soldados tinham construído uma sinagoga improvisada com sacos de areia e outros materiais e quando eu passava por ali, eles anunciavam: “Bekerman, Tefilin!” e todos saíam para colocar tefilin.

Um dia durante essa época, Rabi Israel Meir Lau, então rabino de Tel Aviv, foi nos visitar, junto com meu cunhado, Rabi Berke Wolf, que era o porta voz de Chabad em Israel. Foi um encontro bastante emocional – nos abraçamos e nos beijamos, e então de repente ele pegou uma carta do Rebe que era uma resposta à carta que eu tinha escrito a caminho da guerra.

O Rebe citava a Torá: “Não fique assustado, não tenha medo. Não entre em pânico e não seja aterrorizado por eles.” Ele continuou a enfatizar a importância de todo soldado colocar tefilin sobre o braço e a cabeça, levando suas emoções e seu intelecto para D'us. “Isso traz as bênçãos de D'us às ações de suas mãos e sua mente,” ele escreveu.

Ele também expressou a esperança de que eu poderia levar boas notícias em breve, e que “o grande mérito daqueles que protegem nossa Terra Santa e nossa Sagrada Nação vai apressar o cumprimento da bênção que ‘O Eterno, seu D'us está acompanhando seu campo para libertar você e lhe conceder vitória sobre seu inimigo.”

Essa foi a mesma mensagem que o Rebe deu ao meu sogro, Rabi Boruch Pariz, que estava em Nova York quando a guerra irrompeu. Meu sogro tinha irrompido em pranto e lamentos, “Rebe, Rebe, as crianças estão debaixo do fogo!” referindo-se a mim e ao meu cunhado, Rabi Meir Freiman, que também tinha sido convocado ao serviço. O Rebe o acalmou dizendo: “A guerra está perto do fim, e se D'us quiser, quando você voltar para casa, vai encontrar todos saudáveis e inteiros.”

Em Chanucá, eu estava de guarda na minha estação perto do Canal e de repente escutei canções de Chabad sendo entoadas. Fiquei encantado ao ver chegar um grupo Chabad – numa missão de imprimir o Tanya no fronte. Tive a graça de receber uma cópia, e tentei aprender daquele Tanya em particular o máximo possível. Então alguns anos depois da guerra, quando fui novamente ver o Rebe, coloquei esse Tanya num envelope, junto com um bilhete dizendo que essa cópia era muito preciosa para mim, e portanto eu gostaria de dá-la ao Rebe como um presente.

Meia hora depois o secretário do Rebe, Rabi Binyamin Klein, me devolveu o Tanya, com uma mensagem do Rebe. No meu bilhete, o Rebe tinha circundado as palavras”muito preciosa para mim” e escreveu: “E portanto, é correto que fique com você, especialmente porque você mora em nossa Terra Santa. Mas o seu pensamento é muito apreciado.”

Rabino Shimon Bekerman é um ativista veterano que serviu como membro do Tzeirei Agudat Chabad em Israel. Ele foi entrevistado em sua residência em Kfar Chabad, em junho de 2014.