Quando eu tinha dezessete anos, os nazistas invadiram a Polônia. Após muitos anos, eles conduziram todos os judeus da minha cidade, Radom, para um gueto. A partir dali, pouco a pouco, a maior parte foi enviada para o campo de extermínio de Treblinka onde foram mortos nas câmaras de gás. Eu fui levado a um campo de trabalho do qual consegui escapar em 1944, e desde então, a minha meta tem sido levar os nazistas à justiça.
No início, eu não tinha ideia de que passaria minha vida inteira fazendo isso. Eu somente queria dedicar um ano para capturar os oficiais da SS responsáveis pelo gueto de Radom. E consegui fazer isso. Um dos oficiais, Tenente Coronel Wilhelm Blum, foi preso, julgado e enforcado. Além disso, prendemos doze de seus cúmplices; foram todos julgados e receberam longas sentenças.
Após um ano desse trabalho na Polônia, imigrei para Israel – isso foi em 1946, antes do Estado de Israel ser fundado. Ali, trabalhei disfarçado com a Haganá. Numa operação que durou sete anos, conseguimos orquestrar as prisões de cerca de 250 criminosos nazistas, dos quais vários foram enviados à Sibéria. Conseguimos também ajudar o governo israelense a capturar Adolf Eichmann, o arquiteto mentor da “Solução Final”.
Portanto aquilo que começou como um compromisso de um ano terminou sendo um esforço de vinte anos, tudo sem um salário. Ninguém estava interessado em pagar-me por esse trabalho. Na verdade, o Primeiro Ministro David Ben Gurion queria que eu parasse de perseguir criminosos nazistas. Ele temia que se eu continuasse com isso, o presidente dos Estados Unidos, Dwight Eisenhower, poderia cortar a ajuda estrangeira a Israel. Mas protestei dizendo que o trabalho não estava terminado e que precisávamos caçá-los. Então continuei.
Mas chegou uma época em 1970 quando até minha esposa achava que eu deveria parar. Ela era oftalmologista, era nosso ganha pão e o apoio financeiro do meu trabalho, mas até ela achava que eu já tinha feito o suficiente. A princípio fiquei relutante, mas finalmente disse a ela: “Vou visitar o Rebe de Lubavitch em Nova York, descreverei a situação para ele e vou ouvir o que ele tem a dizer. Se ele não puder sugerir outra maneira para sustentar esta missão, vou parar e começar outro trabalho.
Pedi ao secretário do Rebe que marcasse uma visita, que ficou agendada para uma hora da manhã. Por quê? Porque era quando o Rebe via as pessoas – no meio da noite! Esperei pacientemente, e finalmente, às duas horas, chegou a minha vez.
O Rebe cumprimentou-me calorosamente – ele já sabia sobre o meu trabalho, mas queria saber mais a respeito. Contei-lhe então sobre os muitos nazistas que eu tinha levado à justiça. Em seguida eu disse: “Eis aqui o meu problema – não tenho renda. Minha esposa tem me sustentado pelos últimos vinte anos, e não podemos permanecer mais assim. Embora eu queira continuar, não tenho como patrocinar meu trabalho.”
O Rebe respondeu: “Você pode realmente parar? Quantas pessoas ainda estão nisso? Você e Simon Wiesenthal? Olhe para o que você realizou até agora. Se abandonar esse trabalho, os nazistas vão comemorar que venceram. Você consegue nomear alguém que esteja disposto a assumir em seu lugar? Nos últimos vinte anos, alguém mais se ofereceu como voluntário? Não. Ninguém está interessado – não há ninguém mais! Portanto que opção você tem?
Ele continuou: “Você deve ir de cidade em cidade na Alemanha, levando eles todos à justiça. Isso é muito importante para a história do povo judeu – todos os criminosos nazistas devem ser punidos por aquilo que fizeram. E se você não fizer isso, quem fará?”
Então ele me perguntou: “Em Purim, você ouve a leitura do Livro de Esther?”
“Claro,” respondi.
Ele continuou: “Então você sabe que Haman é Hitler. E você deve dar a essa história o mesmo final.
“Quanto ao sustento da sua família, aqui está minha sugestão: Pegue seu livro, ‘Jamais Esqueceremos: A Solução Final’ [sobre o julgamento de Adolf Eichmann] e traduza-o para o inglês. Sempre que você for falar em comunidades judaicas na America, leve vinte cópias com você. O livro vai vender… e você ganhará para seu sustento… Olhe para os milhões de criaturas neste mundo; todas elas comem e sobrevivem. D'us olha por todas as Suas criações; Ele vai olhar sobre você, também.”
Segui o conselho do Rebe. Fui para casa e entrei num curso para melhorar meu inglês. E então comecei uma turnê para discursos em comunidades judaicas nos Estados Unidos. Fazia palestras pelas quais era pago; também vendia a edição em inglês do meu livro – “O Caçador”. Foi como consegui uma renda. Até comprei uma nova casa para minha esposa.
Consegui continuar meu trabalho de caça aos nazistas durante mais quarenta anos. Se não fosse pelo Rebe, eu teria parado após vinte anos, e cerca de mil nazistas teriam ficado impunes pelos seus crimes. O fato de que eles não ficaram foi graças à orientação do Rebe.
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