Aqui Está Minha História

Após conquistar um Ph.D em ciências biológicas e estudar medicina em Oxford, fui nomeado professor assistente no Departamento de Imunologia e Bacteriologia na Universidade da Califórnia em Berkley. Quando assumi esse cargo em 1957, mudei-me com minha família para a área de San Francisco. Enquanto estava lá, fiz amizade com Rabi Shlomo Cunin, emissário do Rebe na Califórnia, e acredito que foi Rabi Cunin que me levou à atenção do Rebe.

A primeira e única vez que encontrei o Rebe foi após uma viagem que fiz à União Soviética em 1965, quando o Rebe pediu para ver-me. Naquele ano os soviéticos decidiram receber seu primeiro simpósio de medicina moderna ao qual convidaram vinte e cinco cientistas estrangeiros, juntamente com vinte e cinco de seus próprios cientistas. Era um simpósio bastante seleto, e fui um daqueles honrados pelo convite.

No entanto, não me senti honrado. Conhecia muito bem os fatos sobre a opressão aos judeus na União Soviética, portanto recusei-me a comparecer. Mas então, Avraham Harman, embaixador de Israel nos Estados Unidos, veio à minha porta e convenceu-me de que eu deveria ir. Contou-me sobre a difícil situação que os judeus na União Soviética estavam passando – muitos tinham sido presos por pequenas ofensas como armazenar farinha, que eles apenas estavam guardando para assar matsot para Pêssach! Ele contou-me que a equipe da embaixada israelense em Moscou estava sob constante vigilância e não podia chegar até a comunidade judaica, mas que eu teria uma chance que eles não tinham. Eu estaria indo à Rússia como um VIP com privilégios especiais; teria um carro e motorista à minha disposição, e teria a liberdade de ir aonde quisesse. Portanto convenceu-me, aceitei o convite e fui.

Já na URSS, fui informado pelos israelenses sobre o que fazer – eu deveria pedir uma visita a Babi Yar; deveria ir ao cemitério em Moscou e perguntar por que não havia mais espaço dado para enterros judaicos (pois ali obviamente havia espaço disponível); eu deveria sempre parecer ser observante e pedir comida casher para que os judeus em trabalho duro, por assim dizer, confiassem em mim e viessem. Este é o tipo de coisa que eles me pediram para fazer, não espionagem.

Essas táticas deram certo. De repente, enquanto eu estava fora da sala, um dos cientistas soviéticos anotou em meu caderno: “Eu sou um judeu” em pequenas letras hebraicas. Ficamos conectados, e mais tarde consegui tirá-lo da União Soviética.

Além disso, encontrei muitos judeus que estavam praticando o Judaísmo às ocultas; havia um desespero sobre eles que partiu meu coração. Encontrei um minyan com cerca de 25-30 pessoas por trás de portas fechadas. Conheci uma comunidade de judeus georgianos que encontrei num edifício abandonado; essas pessoas saíram do esconderijo para mostrar-me que ainda estavam ali e viviam pela Torá, e foi uma experiência tão comovente que impactou toda a minha vida.

Depois que retornei da viagem, o Rebe convidou-me para ir vê-lo. Levei meu filho mais velho, Hillel, que então tinha sete anos de idade. A audiência foi tarde da noite, e ele não conseguiu permanecer acordado. Entrei no escritório do Rebe e sentei-me, com meu filho cochilando no meu colo. Quando o Rebe viu isso, levantou da escrivaninha e o segurou, e no restante do tempo, falei com o Rebe com Hillel dormindo no colo dele.

A audiência deveria durar vinte minutos – assim eu fora informado pelo secretário do Rebe. Com certeza, após vinte e cinco minutos, a porta abriu, e através dela eu podia ver um par de olhos me olhando seriamente. A audiência durou cerca de duas horas e meia ou talvez três. Não tenho certeza, mas sei que cheguei às 10 da manhã e saí após as 13 horas. O Rebe queria saber cada detalhe sobre minha viagem à Rússia. Contei a ele tudo que tinha acontecido, o que levou algum tempo, e nesse decorrer, o Rebe fez muitas perguntas.

Quando estávamos terminando de falar sobre a Rússia, o Rebe disse: “Gostaria de conversar sobre o que você faz em ciência,” e começou a perguntar-me sobre a teoria chamada “imunologia do trauma”, que era muito nova na época, e que desde então tinha se tornado famosa. Essa teoria afirma que como o corpo tem um sistema imunológico para reconhecer vírus, bactérias e células do câncer como estranhas e rejeitá-las, então talvez o motivo pelo qual as pessoas adquirem câncer é que, devido ao trauma, este sistema para de funcionar ou não funciona bem. É uma teoria complicada, e achei a profundidade de seu entendimento e questionamento totalmente surpreendentes.

Ao final da audiência, eu estava tão profundamente impressionado que tive de dizer ao Rebe: “Não sou tão exatamente correto em minha observância de Torá como alguns outros. Rezo trez vezes ao dia, mas nem sempre com um minyan. E não sou sempre tão cuidadoso ao observar os mandamentos como as pessoas que são seus emissários. Mas eu gostaria de saber “Quem pode se chamar de um dos seus chassidim”?

Ele respondeu: “É muito simples… Alguém que pode dizer ao final do dia que avançou um pequeno passo acima do que estava no início do dia, eu ficaria feliz em chamar essa pessoa de um chassid meu.”

Sua declaração continha uma mensagem muito poderosa. E desde então, tenho tentado – embora nem sempre tenha conseguido – ser o tipo de pessoa que é capaz de olhar para trás ao final do dia e dizer “Hoje eu subi mais um pequeno degrau.”