Erev Shabat, Parashat Matot-Masei, 13 de julho de 2018

Nasci em Newark, New Jersey, onde meus pais foram enviados como emissários pelo Rebe Anterior. A missão deles abrangia toda sua vida, e fui criado numa atmosfera de serviço e de conexão com o Rebe. Ao crescer, eu era muito cônscio de quanto o Rebe – suas bênçãos, seus conselhos, sua influência – permeavam nossas vidas.

Lembro-me que, quando eu era criança, um adolescente da nossa sinagoga chamado Stephen Lutz foi homenageado pelo Presidente John F. Kennedy como o “Menino do Ano” em reconhecimento aos serviços superlativos ao seu lar, sua escola, sinagoga, comunidade e clube dos meninos.” Durante a cerimônia, o Presidente Kennedy perguntou a ele: “Quem inspirou você a tornar-se aquele que é hoje?” E ele respondeu: “Foi Rabi Sholom Ber Gordon, que é um emissário do Rebe.”

Essa história apareceu no The New York Times e em outros jornais, mostrando uma foto do menino com o Presidente e, obviamente, o Rebe a viu. Porém ele admoestou meu pai porque ele não estava na foto. “Se sua foto tivesse aparecido no jornal,” o Rebe lhe disse, “poderia ter feito mais uma moça judia se casar com um rapaz observante de Torá com barba.”

Em outra ocasião, o Rebe deu a meu pai uma bênção que teve os resultados mais impressionantes. Foi numa época em que nossa vizinhança em Newark estava mudando e o povo judeu se mudava para os subúrbios. Como rabino da sinagoga local, meu pai tinha de acompanhar, e ele mudou nossa família para Maplewood, New Jersey. Porém ele não conseguiu vender nossa casa em Newark e ficou com duas hipotecas a pagar. Isso preocupava muito, e ele pediu ao Rebe uma bênção para que pudesse logo sair daquela situação.

O Rebe deu a bênção, e disse também ao meu pai que ele deveria pedir a um membro da sua sinagoga, Sr. Chaim Dansker, que vendesse a casa para ele. Mas quando meu pai pediu a essa pessoa, ele respondeu: “Sou um advogado. Posso fazer o trabalho legal gratuitamente, mas não entendo nada de venda de imóveis.”

“O Rebe disse que você faria isso,” meu pai insistiu, e ao ouvir aquilo, o Sr. Dansker concordou em publicar um anúncio no jornal por sua conta – essa era a única coisa que ele sabia fazer.

O anúncio apareceu, mas estava truncado – algo deve ter dado errado na impressão. Meu pai disse ao Sr. Dansker: “Você deveria pedir seu dinheiro de volta porque eles erraram o anúncio.” Mas o Sr. Dansker respondeu: “Ele erraram o anúncio, mas um homem quer ver a sua casa na próxima meia-hora.” E aquele sujeito realmente comprou a casa!

Eu vi o Rebe muitas vezes e recebi muitas bênçãos e muitos conselhos dele. Eu gostaria de relatar aqui apenas alguns desses encontros que foram impactantes em minha vida.

Quando eu tinha quinze anos de idade, escrevi ao Rebe dizendo que eu estava participando em sua campanha de tefilin – que todo dia eu ia a um lar de idosos e ajudava meia dúzia de homens a colocar tefilin. Em resposta, o Rebe deu-me uma bênção para ser bem sucedido nesse trabalho. Sinto que essa bênção tem me acompanhado no decorrer dos anos porque tenho tido um grande sucesso nessa mitsvá.

Mais tarde, quando completei dezenove anos, fui enviado pelo Rebe à yeshivá recentemente aberta em Miami. E durante uma audiência, recebi do Rebe um conselho inesquecível. Ele me disse: “O sucesso de sua missão depende do fato de você ser um exemplo vivo para os outros.” Isso é algo que tenho citado muitas e muitas vezes, porque ensinou-me como ser o melhor emissário possível.

Após receber minha ordenação rabínica, ensinei na Yeshiva Tiferet Bachurim em Morristown, New Jersey, e então, em 1978, fiquei noivo. Porém minha noiva queria que morássemos em Nova York após o casamento, enquanto fiquei relutante porque estava preocupado sobre sustento caso desistisse do meu trabalho em Morristown. Então escrevi uma carta ao Rebe perguntando o que fazer. Desde então valorizo sua resposta como um tesouro. Tenho compartilhado com muitas pessoas, e a imprimi para distribuir no casamento de meu filho. Sua resposta não apenas respondeu essa pergunta em particular, mas toda questão que tenho tido desde então; foi um guia para lidar com todo dilema na vida.

Foi isso que o Rebe escreveu para mim em hebraico:
“Um alicerce da Torá e mitsvot é a ideia da Divina Providência sobre cada pessoa, (e especialmente como é bem explicado nos ensinamentos chassídicos). Portanto como pode haver lugar para preocupações?! Segundo a Torá, uma pessoa deve entrar em ação (sem se preocupar, como mencionado acima) e, se não estiver claro qual ação tomar, deve consultar amigos (seu pai, conselheiro espiritual, etc.) e, se eles tiverem diferenças de opinião, siga a maioria.”

“O sucesso de sua missão depende do fato de você ser um exemplo vivo para os outros.” –º O Rebe

Devido à sua resposta, meu pai se tornou a primeira pessoa com quem eu sempre buscava conselho e, quando ele não podia me ajudar, dirigia-me a outros que pudessem.

Em outra ocasião, numa audiência privada, perguntei ao Rebe como eu poderia corrigir algo que tinha feito que não estava à altura do padrão. O Rebe me disse (e estou parafraseando suas palavras): “Como emissário, quando você cumpre bem sua missão, você conserta qualquer defeito que você possa ter, incluindo a questão sobre a qual escreveu.” Com isso entendi que, para mim, há uma solução para cada erro, que é dedicar minha vida a cumprir corretamente a minha missão.

Mais do que qualquer outra coisa, este conselho me susteve quando, em 1984, fui para a Tasmânia, Austrália, para ser o emissário do Rebe ali. Eu sabia que toda vez que eu errasse – porque era um ser humano e falível – haveria essa solução, como o Rebe me ensinara.

Quando embarcamos pela primeira vez para a Austrália, o Rebe deu a minha esposa quarenta dólares australianos como uma contribuição para nos estabelecermos na Austrália. E, desde então, tenho sentido que, com este dinheiro, o Rebe fez um investimento em nossa missão. Até hoje, quando convido pessoas para as refeições de Shabat ou para as aulas que dou em minha casa, sinto que o Rebe é meu parceiro em cada empreendimento. E sei que serei bem sucedido porque ele está ali comigo.


Durante quase trinta e cinco anos, Rabi Yossi Gordon e sua esposa, Mina, atuaram como emissários Chabad na Tasmânia, Austrália. Ele foi entrevistado em julho de 2016.