O que são?
O significado simples da palavra mitsvá é comando. Aparece em várias formas com este significado, cerca de 300 vezes nos Cinco Livros de Moshê. O Talmud1 menciona que o povo judeu recebeu 613 mitsvot no Sinai, e numerosos códigos – mais notavelmente, Sefer Hamitzvot de Maimônides – fornece listas detalhadas. Os exemplos incluem diversos atos como ter filhos, declarar a unicidade de D'us, descansar no sétimo dia, não comer porco, colocar tefilin no braço e na cabeça, construir um Templo em Jerusalém, designar um rei, obedecer aos sábios e fazer empréstimos sem juros. Veja nossos Minutos Mitsvá para exemplos práticos de mitsvot.
No uso comum, uma mitsvá significa “uma boa ação” – como em: “Cumpra uma mitsvá e ajude a Sra. Goldstein a carregar seus pacotes.” Este uso é bem antigo – o Talmud Jerusalém se refere comumente a qualquer ato de caridade como “a mitsvá”.
Com frequência a palavra mitsvá é relacionada à palavra aramaica tzavta,2 que significa anexar ou juntar. Tzavta pode significar companheirismo3 ou apego pessoal.4 Neste sentido, uma mitsvá une a pessoa que é comandada e o Comandante, criando um relacionamento e um vínculo essencial.5
Os três significados podem eles próprios ser juntados. “Bom” é definido como aquilo que o Criador do Universo quer que seja feito com Seu universo, e ao fazer aquilo que o Criador deseja feito, somos ligados a Ele em corpo, mente e alma.
Qual bem são?
Todos concordam que D'us não forneceu esquemas arbitrários de “trabalho”. As mitsvot têm um benefício prático para a pessoa que a cumpre, bem como para o mundo inteiro.
O Chinuch, uma obra influente composta por um autor anônimo do Século 13 na Espanha, é a mais completa apresentação das mitsvot neste papel como uma espécie de terapia comportamental cognitiva para a espécie humana. “As atitudes são moldadas”, escreve o autor, “mais por aquilo que as pessoas fazem que por aquilo que elas pensam.” A obra detalha exatamente quais atitudes são afetadas de que maneira por qual mitsvá.
Os cabalistas da Tzfat do Século 16, principalmente Rabi Yitschak Luria (o Ari), forneceu um modelo de cura cósmica para as mitsvot. As mitsvot são artefatos que atingem debaixo da capa do cosmos para repará-lo, reorganizando-o num estado harmonioso que é capaz de receber luz Divina infinita. Em última análise, então, são nossas mitsvot as responsáveis por preparar o mundo para a era messiânica, um tempo em que será possível cumprir plenamente todas as mitsvot, em seu contexto ideal, e o mundo estará repleto da luz Divina “como as águas cobrem o leito do oceano”.6
Apesar disso, as mitsvot não podem ser reduzidas a utilidades para atingir qualquer meta específica – nem mesmo a suprema perfeição do cosmos inteiro. Se fossem, não seriam o desejo mais interior de D'us – elas seriam apenas mais um meio para um fim. Ao contrário, o próprio ato de uma mitsvá é um fim em si mesmo. Assim a Mishná declara que apesar de todas as coisas maravilhosas que uma mitsvá traz à pessoa e ao mundo, “a recompensa de uma mitsvá é a própria mitsvá.”7 Ao cumprir uma mitsvá, você e o seu mundo são um só com o próprio D'us.
E sobre as coisas que Ele nunca nos disse para fazer?
Embora o termo “mitsvá” pareça se aplicar somente àquelas atividades que foram expressamente ordenadas, o termo é aplicado também a sete mitsvot rabínicas:
- Lavar as mãos para o pão.
- Leis de Eruv.
- Recitar uma bênção antes de partilhar comida ou qualquer outro prazer.
- Acender velas de Shabat.
- Celebração de Purim.
- Celebração de Chanucá.
- Recitação das preces de louvor chamadas Hallel em certas ocasiões.
Para cada uma dessas (exceto, obviamente, a número 3), há bênçãos que começam exatamente como a bênção recitada sobre uma mitsvá da Torá: “Bendito sejas, Eterno nosso D'us, Rei do Universo, que nos santificou com Seus mandamentos e nos ordenou…”
Afinal, a Torá exige explicitamente que ouçamos os sábios. Porém os rabinos do Talmud vão mais além e declaram que as ordens rabínicas são mais preciosas a D'us que Suas próprias ordens diretas.8 As mais profundas expressões da vontade Divina são aqueles atos que Ele não nos diz expressamente para fazer, mas que as comunidades judaicas derivaram através de estudo e celebração de Sua Torá. O mesmo se aplica a cuidados, costumes e embelezamentos conhecidos como hidur mitsvá.
Praticamente falando…
Uma sociedade baseada em mitsvót é uma sociedade de participantes educados, ativos – porque não se pode cumprir mitsvot sem aprender primeiro sobre elas. Todo judeu é obrigado a participar de um estudo contínuo das mitsvot e suas aplicações novas assim que surgem. Quando surge uma questão sobre alguma nova tecnologia no Shabat, o status casher de um novo tipo de alimento ou novos métodos de induzir fertilidade, cabe ao indivíduo pedir àqueles que sabem mais para instruí-lo, e aqueles que sabem mais devem debater o assunto segundo as orientações estabelecidas e seus precedentes até que cheguem a algum tipo de resolução. Dessa maneira, há um fluxo constante de conhecimento dentro da sociedade.
Além disso, é difícil manter o cumprimento das mitsvot sem uma fonte renovável de inspiração. As mitsvot cumpridas com alegria e entusiasmo elevam a pessoa um degrau acima do mundo e têm um impacto muito maior sobre o ambiente da pessoa. Mais uma vez, a chave é o estudo e a participação comunitária.
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