Por Marc Angel
Conta-se a história de um homem judeu que estava viajando no metrô, lendo um jornal nazista. Um amigo dele, que estava no mesmo vagão, notou aquele fenômeno estranho. Muito aborrecido, ele abordou o leitor do jornal: "Moshe, ficou louco? Por que está lendo um jornal nazista?"
Moshê respondeu: "Eu costumava ler os jornais judaicos, mas o que encontrava? Judeus sendo perseguidos, Israel sendo atacado, judeus desaparecendo por meio da assimilação e dos casamentos mistos, judeus vivendo na pobreza, judeus sendo esfaqueados. Então mudei para o jornal nazista. Agora, o que vejo? Judeus são donos de todos os bancos, os judeus controlam a mídia, os judeus são todos ricos e poderosos, os judeus controlam o mundo. Estas notícias são muito melhores!"
A mensagem triste e dolorosa desta história é que a História não tem sido fácil para o povo judeu. De alguma maneira, porém, conseguimos manter nosso senso de humor!
Em cada geração, incluindo a nossa, temos enfrentado perversos inimigos que procuram nos destruir. Eles não se importam em nos conhecer como seres humanos; não tentam entender nossos ideais, nossas esperanças, nossas necessidades. Estão satisfeitos em estereotipar, desumanizar e nos caricaturar. Torcem todos os "fatos" contra nós. De geração em geração, eles transmitem um profundo ódio aos judeus.
Eles nos atormentam com sua violência e propaganda repleta de ódio. Eles pervertem a verdade para tornar nosso sofrimento ainda mais doloroso. Os nazistas e seus simpatizantes assassinaram seis milhões de judeus inocentes durante o Holocausto: e agora anti-semitas negam que o Holocausto jamais tenha acontecido! As nações árabes privaram os judeus dos direitos básicos durante séculos; fizeram guerra contra o Estado judeu, boicotaram, difamaram, discriminaram de toda maneira possível, e aí vão às Nações Unidas para condenar Israel por racismo!
Talvez tenham sempre odiado os judeus porque os judeus são a consciência do mundo. A Torá ensinou grandes ideais que muitos consideram ameaçadores: por exemplo, que todos os seres humanos são criados à imagem de D'us; que todos são responsáveis por seus atos; que os seres humanos devem ter compaixão uns dos outros e não tentar converter ou coagir o outro; e que a generosidade é superior à ganância. Porém muitos preferem os caminhos da violência e repressão, exploração e desumanização. Eles preferem fazer o povo judeu de bode expiatório em vez de enfrentarem suas próprias falhas.
Pensando sobre os milênios de abuso contra nós, surge uma questão: Como é possível que o povo judeu, em geral, seja caracterizado por um extremo otimismo e um estilo de vida positivo, visando ao futuro? Por que não desistimos da humanidade? Por que trabalhamos tanto para tornar o mundo melhor para todas as pessoas, judeus e não-judeus?
Em meus 32 anos como rabino e ativista comunal, tenho muitas vezes me surpreendido pelos muitos sinais do comprometimento judaico com a humanidade, com o futuro. Os judeus estão envolvidos com um vasta rede de organizações e causas de ação social. Damos uma imensa quantia para caridade. É difícil encontrar um empreendimento humanitário, cultural ou educativo que não tenha sido apoiado pelos judeus.
Homens e mulheres judeus, religiosos ou não tão religiosos, têm devotado seu tempo e energia a ticun olam, transformando, ou tentando transformar, o mundo em um local melhor para todos. Apesar das condenações das Nações Unidas, apesar do preconceito contra Israel em todo o mundo, boicotes, apesar do assassinato contra israelenses, o povo judeu e Israel permanece sendo uma nação idealista, comprometida com um futuro mais brilhante.
Sim, às vezes nos tornamos frustrados e deprimidos. Porém apenas por um momento. Na essência, estamos imbuídos com a crença num amanhã melhor. Não ficamos alquebrados pelos milhares de anos de injustiça, ódio gratuito, inveja, perseguições, pogroms e propaganda que temos tolerado; não ficaremos alquebrados agora.
Somos tão ingênuos assim? Teremos compreendido mal a profundidade e amplitude do sentimento anti-judaico? A nossa fé em D'us e na humanidade é tão forte a ponto de desafiar séculos de sofrimento infligido a nós, séculos de evidências de que o ódio pode persistir, crescer e até triunfar?
Somos tolos? Somos o povo mais sábio e mais idealista no mundo? Somos todas essas coisas?
O mistério da sobrevivência judaica é um dos mistérios da civilização humana. Mas um mistério ainda maior é como nós judeus conseguimos sobreviver à história brutal e permanecermos otimistas, idealistas e dedicados a ajudar na construção de um mundo melhor.
Não tenho uma resposta clara para este enigma, mas tenho orgulho de ser parte do problema.
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