Os judeus levam para casa quatro espécies de frutas e plantas: o etrog (fruta cítrica), o lulav (ramo de palmeira), a aravah (salgueiro) e a hadas (rao de murta). A cada manhã (exceto no Shabat) eles seguram estas quatro espécies juntas, recitam uma bênção e as balançam.
A origem dessa tradição esta na Torá e remonta há mais de 3.300 anos. “Vocês pegarão no primeiro dia,” instrui a Torá, “o fruto da esplêndida árvore cítrica, o ramo de uma tamareira, o galho com folhas da murta, e salgueiros que crescem perto do riacho”.
Qual o significado dessa mitsvá? Por que seguramos essas quatro espécies, e por que as balançamos?
O Midrash observa que estas quatro espécies possuem características distintas. A fruta cítrica tem sabor delicioso e uma fragrância agradável. O ramo da palmeira gera sabor (tâmaras), mas não tem cheiro; o ramo de murta recende um delicioso aroma, mas não tem qualquer sabor, ao passo que o salgueiro não tem cheiro nem sabor.
Num nível simbólico, podemos sugerir que essas quatro espécies representam quatro tipos de personalidade em geral. Há seres humanos que exalam um ótimo aroma, que sabem como transmitir uma energia positiva e se expressar eloquentemente, mas quando você os “prova” ou os conhece por dentro, pode ficar desapontado. Eles são bons para o show biz, mas não para relacionamentos autênticos.
Outros podem carecer de “aroma”. Não têm talento para cativar uma multidão ou levar vida a uma festa, mas quando você os conhece por dentro, se maravilha com seu delicioso sabor e aroma.
Outros são abençoados tanto com uma aura externa quanto com profundeza interior, ao passo que outros carecem tanto de fragrância e sabor.
Num nível mais profundo, o Midrash sugere que o etrog representa o indivíduo que é tanto instruído em Torá e sabedoria espiritual (sabor) e repleto com ações boas e nobres (aroma). A palmeira personifica o indivíduo instruído mas carente de boas ações – o erudito que devota a vida à busca da sabedoria (sabor) mas despreza a esfera ativa (aroma). A murta incorpora o judeu ativo, mas sem instrução. Finalmente, o salgueiro representa o judeu que carece de toda a expressão externa de seu Judaísmo.
Quando você olha em seu próprio espelho espiritual, pode identificar se é um etrog, um ramo de palmeira, murta ou salgueiro.
Integração
Normalmente, essas quatro categorias permanecem distintas, cada qual por si mesma. Como o judeu “etrog” pode se conectar com o judeu “salgueiro”? Como pode o judeu “murta” tolerar o judeu “palmeira”?
Sob circunstâncias usuais, cada um de nós continua fixado às próprias zonas de conforto, passando o tempo com pessoas que pensam como nós, e vivem como nós vivemos. Por que balançar o barco e criar inconveniência?
Porém em Sucot, a Torá nos instrui a conectar o ramo da palmeira, a murta, o salgueiro e o etrog e colocá-los juntos para cumprir uma só mitsvá. As quatro categorias distintas e até paradoxas de pessoas devem se unir. Mas como? Como se pode pegar quatro judeus opostos e juntá-los de maneira significativa e genuína?
A Torá, consciente desse desafio – talvez o maior na vida judaica atual – nos diz que parte da mitsvá é dar uma boa balançada nas quatro espécies. Para unir as quatro categorias, a Torá está nos dizendo, você prercisa “balancá-las” juntas!
As dramáticas diferenças entre todas as categorias de judeus são importantes à medida que cada um se sente complacente em sua própria existência. No momento em que somos balançados juntos, no entanto, as camadas de percepção são descascadas e nosso âmago autêntico vem à tona. Então todas as categorias de judeus descobrem quem realmente são e o que realmente representam. E é então que percebemos que somos realmente UM.
Você não pode planejar um momento desses, mas quando ele ocorre, não há nada mais poderoso do que isso.
A Guerra dos Seis Dias
Um desses momentos famosos ocorreu na vida judaica há quarenta e dois anos, durante a Guerra dos Seis Dias em 1967. No momento em que os judeus perceberam o perigo de poderosos países árabes pleiteando aniquilar Israel, até os judeus mais liberais e seculares experimentaram o surgimento atômico da consciência judaica, prontos a colocar a vida em risco para proteger nossos irmãos na Terra Santa.
Até mesmo um judeu que no dia anterior duvidava se D'us era uma realidade, se a Torá era verdadeira, e se tinha direito moral de morar numa terra que, segundo os árabes, tinha sido roubada, o judeu de repente sabia nos profundos recessos de seu coração que esta era e é nossa pátria judaica eternamente.
E então, em seis dias, veio a vitória e com ela um despertar judaico sem precedentes em Israel e no mundo inteiro. Totalmente inesperada, a milagrosa vitória da Guerra dos Seis Dias evocou um extraordinário despertar espiritual entre pessoas de todas as origens. Tanto religiosos como secularesnão podiam conter as lágrimas ao tocar as pedras do recém-recuperado Muro Ocidental. Independentemente de suas escolhas anteriores de estilo de vida, independentemente de sua educação ou falta dela, pessoas de todas as partes do mundo de repente sentiram um ressurgir da conexão, e quiseram viajar vindas de todas as partes do mundo para tocar as pedras remanescentes do antigo Templo Sagrado.
Foram essas experiências que contribuíram para um renascimento da vida judaica em todo o mundo, algo que começou naquela época e continua até hoje. Jovens que até aquele tempo se sentiam coompletamente alienados e apáticos ao seu legado, de repente sentiram um anseio de se reconectar com suas raízes, descobrir os ideais, valores e sonhos que seu povo carregava desde o Sinai até o Século Vinte.
De onde veio essa transformação?
Podemos entender um despertar no coração das pessoas religiosas, nas almas daqueles judeus observantes que creem na santidade do Muro Ocidental. Porém como podemos justificar as lágrimas rolando pela face de um judeu secular ateu ao tocar as pedras de um antigo muro?
A resposta é que nosso cinismo, agnosticismo, apatia e lealdade ao secularismo podem estar firmemente enraizados em nosso intelecto, mas não na essência daquilo que somos. Quando o judeu é balançado em seu próprio âmago, o que emerge é uma devoção pura, forte e absoluta ao povo judeu e ao seu D'us.
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