Pergunta:

Por que no judaísmo existe o costume de visitar os túmulos no cemitério? Será que desta forma não estamos transgredindo a proibição de “contatar os mortos”?

Resposta:

O costume judaico de visitar os túmulos é muito antigo, desde a época de Moshê Rabênu no deserto. O Talmud (Sotá 34b) nos relata que quando Moshê enviou os 12 espiões para observar a Terra Santa, estes voltaram de lá falando mal desta terra abençoada. Somente dois espiões não incorreram neste erro, eram Yehoshua e Calev, que se mantiveram firmes em sua crença. A Gue- mará nos conta que Calev viajou até Chevron para visitar os túmulos de nossos patriarcas, e pediu a eles: “Meus patriarcas, orem e peçam misericórdia por mim, que eu me salve da influência destes espiões”. Daqui aprendemos que quando precisamos despertar a misericórdia Divina, é recomendado visitar o túmulo de Tsadikim (sábios), já que eles têm uma conexão mais forte com os Céus.

Assim também encontramos uma pergunta talmúdica (Taanit 16a): “Por que visitamos o cemitério?” Um sábio afirma que é para nos compararmos aos mortos para despertar a humildade na pessoa, e o outro afirma que é para que os mortos apelem pela misericórdia Divina a nosso favor. Também, no mesmo tratado (23b) o Talmud nos relata que Rabi Mani estava sofrendo represálias dos líderes da comunidade. Ele então foi visitar o túmulo de seu pai e disse: “Meu pai, eles estão me causando sofrimento.” Certo dia, o líder estava cavalgando por perto do túmulo, e a perna de seu cavalo atolou na lama, e não conseguiu sair de lá até que ele se comprometeu de não mais maltratar Rabi Mani.

No que se refere à proibição de comunicar-se com os mortos, consta no Shulchan Aruch, que esta se aplica apenas àqueles que tentam entrar em contato com os mortos, por intermédio de jejuns e feitiçarias, para que o espírito se manifeste a ele no sonho ou no mundo real para revelar-lhe o futuro. Ou seja, o objetivo é contatar o próprio morto, bem diferente do explicado acima, onde a intenção é despertar a misericórdia Divina e o contato com D’us, sendo que as almas dos Tsadikim servem apenas de intermediários. Conforme as palavras do Pri Megadim (Orach Chayim cap.581): elas são ‘melitsê yosher’ (defensoras a nosso favor).

Como também o sábio cabalista Arizal, que visitava os túmulos dos sábios talmúdicos de Tsfat e redondezas, e se conectava com suas almas, e desta forma, tinha ascensões espirituais e aprendia seus ensinamentos. Ele também ensinou a seus discípulos a receita desta prática. Isto não é uma receita popular, mas aprendemos daqui o benefício espiritual ao visitarmos os túmulos de grandes Tsadikim.

O sagrado Zohar nos ensina que ao visitarmos os túmulos de Tsadikim em qualquer lugar do mundo, eles se conectam com os patriarcas que estão enterrados em Chevron, e estes despertam a misericórdia Divina para a pessoa.

Mas se este Tsadik foi seu mestre em vida ou tenha se tornado seu discípulo após seu falecimento, como no caso de um chassid pe- rante seu Rebe, a ligação e o benefício material e espiritual são muito mais intensos. No entanto, um filho ao visitar o túmulo do pai, principalmente no primeiro ano do falecimento, não deve apenas rezar para si, mas principalmente deve orar em prol da alma para que esta encontre o descanso no paraíso, e que tenha uma elevação gradativa de nível em nível. Neste momento, deve também decidir doar uma quantia para tsedacá, e assumir sobre si uma mitsvá, para que o mérito desta boa ação sirva como alavanca para a pro- moção da alma. Isto causa um enorme prazer à alma do ente querido, e este por sua vez irá suplicar perante o Trono Celestial por sua família, trazendo a eles a proteção e as bênçãos Divinas em todos os sentidos.