O mestre chassídico Rabi Mendel de Kotzk perguntou certa vez aos seus discípulos: “Onde está D’us?”. Perplexos, eles responderam: “Não está escrito que D’us preenche os céus e a terra? D’us está em toda parte.”

“Não”, respondeu o rabino. “D’us está onde O deixamos entrar.”

Esta declaração me parece tão próxima da verdade religiosa quanto podemos chegar. Há uma linha de pensamento que busca a evidência incontroversa de que D’us existe. Eruditos têm procurado D’us no desenho do universo, na arquitetura da matéria, na metafísica da primeira causa, nos alicerces da moralidade, nas experiências religiosas que se provam autênticas. Eu respeito essa abordagem, mas não posso aspirar a ela. Isso em parte ocorre porque ela falhou em seus próprios termos.

Basicamente, porém, não aceito esta linha de raciocínio porque não é a maneira da tradição judaica na qual fui educado.

Na Torá, D’us não Se impõe sobre nossa mente, Embora Ele caminhe no Jardim, Adam e Eva podem se esconder. A presença de D’us jamais é inescapável, inequívoca. Ele é visto somente por aqueles que olham, ouvido apenas por aqueles que escutam. Há algo totalmente radical nesse conceito de D’us, e está refletido na palavra hebraica para fé, emuná. Isso significa nem certeza nem conhecimento, mas compromisso, fidelidade, a lealdade da confiança. D’us fala conosco na forma de uma pergunta: como e por que devemos viver? Nossas decisões mais fundamentais estão permeadas com a incerteza, porém devemos decidir e agir. Não podemos conhecer a mente de outra pessoa. Não podemos saber o que irá acontecer a uma criança ainda não nascida. Mesmo assim nos casamos e temos filhos, e descobrimos que o amor traz vida ao mundo, e com a vida, responsabilidade por seus cuidados. Nossos atos mais criativos envolvem risco, e portanto, coragem; e talvez jamais venhamos a saber com certeza se estávamos certos.

A fé envolve exatamente esse risco, e é por isto que casamento e paternidade foram usados pelos Profetas como metáforas para o relacionamento entre D’us e a humanidade.

Cometemos um erro quando invocamos a religião para fins pragmáticos, como se o objetivo da fé fosse resolver os problemas das famílias desfeitas e a criminalidade juvenil. A fé nos ensina que estamos aqui para servir a D’us; D’us não está lá para nos servir. Porém, a perda da fé não é desconectada com a ruptura da família. Pois fé e família dependem de compromisso, fidelidade, uma prontidão para deixar passar o prazer atual em prol do bem futuro. Esses atributos tornaram-se raros e nos tornamos menores com a sua perda. Porém, a voz de D’us ainda pode ser ouvida, pedindo-nos para moldar em nossas comunidades e famílias um lar para a Divina Presença. D’us tem sido exilado por grande parte de nossa cultura, mas Ele existe onde O deixamos entrar.