Pergunta:
Uma ex-namorada israelense de meu marido telefona para ele e o chama de “motek” (“querido”). Acho isso extremamente ofensivo. Me causa muito incomodo. Estou exagerando? Não chamo nenhum de meus ex-namorados de querido… nem sequer falo com eles! Devo ficar quieta se estou furiosa com esta situação? Estamos casados há dezoito anos...
Resposta:
Certamente posso entender como você deve se sentir mal numa situação como esta. E com toda a razão!
A Torá nos ensina que aquilo que nos define como seres humanos é nossa capacidade de falar, e é por isso que somos chamados de medaber, “falante”. Além disso, há duas formas de discurso, um verbal e outro físico. É por isso que discurso é na verdade considerado um eufemismo para a intimidade física e portanto o mau uso das palavras é equivalente ao mau uso da energia sexual da pessoa (Talmud, Ketubot 13 a; Sefer Yetzirah 1:3).
Quando falamos, tiramos de nossa essência interior e a compartilhamos com outra pessoa. A fala é nosso condutor para expressar aquilo que está dentro de nós e através da fala podemos implantar aqueles pensamentos, ideias e sentimentos dentro de outra pessoa.
Portanto, fica claro que as palavras são poderosas. Muito mais, então, as palavras de carinho que podem levar a conexões emocionais. Palavras podem abrir nosso coração de maneiras significativas a pessoas que talvez jamais desejamos convidar para entrar. Palavras de carinho nunca são inocentes, mesmo que a intenção de quem fala seja. Mesmo quando aquele que fala não tem esperança de evocar sentimentos por meio das palavras, o ouvinte pode reagir de maneira diferente. Palavras calorosas podem invocar sensações e lembranças emocionalmente carregadas. E levam você a um lugar onde jamais pretendeu ir.
Estas palavras, quando ditas a outros, são problemáticas porque podem causar impacto num casamento. Não é apenas o medo ou a possibilidade de que as palavras poderiam levar à ação; mesmo que isso não ocorra, podem levar a pensamentos problemáticos ou impróprios, que de certa maneira são ainda mais perigosos. Se as palavras têm a intenção de conectar duas pessoas, e as palavras forem carinhosas, então a reação que deveria ser conseguida é de sentimentos amorosos por quem fala. E no caso do ouvinte ser seu marido, então simplesmente ele não deveria estar ouvindo palavras de carinho de outra mulher, nem ela deveria estar dizendo palavras assim para ele.
A Torá nos diz que quando casamos, temos um relacionamento especial com nosso cônjuge. E determinadas coisas são reservadas somente para os cônjuges. Uma dessas coisas são as palavras de carinho. Não pegamos estes termos especiais e os “atiramos” para outros. Nós as reservamos e as mantemos em particular, para que sirvam apenas para cultivar o nosso casamento.
Da mesma maneira que nossa “fala física” (i.e., relações) é algo que acontece somente entre marido e mulher, também as palavras de carinho e de amor, que são consideradas predecesoras de todas as formas de contato físico.
Então, o que você faz agora, nesta situação?
Eu encorajaria você a conversar com seu marido. Explique a ele o quanto significa para você quando trocam palavras de carinho, e quanto a aborrece quando estas palavras vêm de outra pessoa. Explique a ele como todas as maneiras de comunicação afetuosa devem ser reservadas somente para os dois. Faça isso de maneira carinhosa e não acusadora, para que sua comunicação com ele transcorra de forma tranquila e eficaz. Fale com o coração, pois aprendemos que “palavras do coração entram no coração” (outra prova de que ninguém mais deveria estar falando palavras de carinho ao seu marido!).
E lembre-se da diretriz do Rei Shelomô, que “palavras dos sábios, quando ditas gentilmente, são levadas em consideração” . Espero que seu marido reconheça que suas conversas com a ex estão causando tensão desnecessária e que deverá por um fim definitivo nestas conversas.
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