Pergunta:
Durante minha viagem, fui a Jerusalém, e fiquei perplexa ao ver tantas pessoas pedindo esmolas nas ruas às sextas-feiras. Os pedidos podem mesmo ser genuínos? Devo doar para cada um que me aborda, mesmo que não tenha me causado uma boa impressão?

Resposta:
Você tocou num ponto relevante, sobre o qual muitos visitantes e moradores se perguntam. Antes de discutir o assunto com mais profundidade, deixe-me declarar brevemente minha opinião pessoal de que você deveria dar a qualquer pessoa que diga ser necessitada, especialmente em Israel. Se você tem suspeitas, ofereça menos, dê apenas uma moeda de pouco valor.

Vejamos agora por que penso assim.

Há uma passagem (Devarim 15:7-11): "...Na terra que D'us está lhe concedendo, não endureça seu coração ou feche sua mão contra seu irmão necessitado... Dê prontamente e não se sinta mal a esse respeito. ...Nunca deixará de haver pessoas necessitadas na terra, portanto abra sua mão generosamente a seus irmãos pobres..."

Daqui deduzimos que há um mandamento positivo de dar a uma pessoa em necessidade, bem como um negativo de não recusar. Aquele que deixa outra pessoa verdadeiramente necessitada afastar-se de mãos vazias, transgride estes dois mandamentos.

Embora o fim da citação acima enfatize generosamente, numa situação como a que você descreve, temos de considerar o número de mãos estendidas, o grau de credibilidade, e os recursos de que você dispõe. Uma doação mínima mantém a pessoa dentro do parâmetro da lei judaica, e às vezes pode mesmo ser preferível.

É importante também ter em mente que uma parte vital da mistvá de doar é o modo de doar. Isso deve ser feito com simpatia e carinho. Isso você pode sempre realizar com algumas palavras simpáticas, não importa o quanto seja pequena sua doação. Seja sincero; afinal, ele está lhe proporcionando a oportunidade de cumprir a vontade de D'us.

Se você pensar a respeito, mesmo se alguns dos pedintes não forem honestos, de certa forma devemos ser gratos a eles. Tantas pessoas nos procuram e damos uma moeda a cada uma. Como podemos justificar dar apenas simples moedas a alguém que sabemos estar necessitado das coisas mais básicas?

Obviamente, esta é uma idéia que pode ser levada mais longe. Como disse certa vez um Rebe chassídico: "O mérito da tsedacá (caridade) é tão grande que estou feliz por doar a 100 mendigos, mesmo se apenas um for realmente necessitado. Algumas pessoas, porém, agem como se fossem isentas de doar a 100 mendigos, no caso de algum deles ser uma fraude."

O Talmud [Baba Batra 9b - baseado em Mishlê 2:21] nos diz que apenas os justos são tão abençoados que sua tsedacá é sempre verdadeira tsedacá. Uma pessoa comum não tem esta garantia. Embora seja desejável pensar o bem a respeito de todos, ninguém deseja ser enganado. O melhor que podemos fazer é avaliar a potencial perda contra o potencial ganho.

Tente não pré-julgar a situação quando você vê tantas mãos estendidas, ou porque algumas daquelas parecem afluentes. Infelizmente, há grande quantidade de pessoas pobres em Jerusalém, muitas das quais ninguém vê. Alguns dos pedintes que você vê estão mendigando pelos outros, não por si mesmos.

E se acontecer que a pessoa que recebe sua doação realmente não mereça... bem, em última análise, isso é problema dela! Pelo menos você tentou fazer sua parte na mitsvá.

Acima de tudo, lembre-se sempre de ser grato por sua parte ser a daquele que dá, e seja merecedor dessa responsabilidade.