Como você mantém o foco espiritual num mundo lotado com todas as distrações possíveis? Existe uma maneira de perpetuar um momento de inspiração, não permitindo que se dissipe sob o peso dos nossos fardos?

Como mantemos nossos valores alinhados quando temos contas a pagar, promessas a cumprir, uma carga de trabalho que nunca parece diminuir?

Como a voz da nossa alma pode ser ouvida em meio à confusão que nos cerca? O que deveríamos fazer quando surgem as dúvidas, quando a incerteza e outras forças debilitantes enfraquecem nossa decisão? Como vencemos o adversário e todos aqueles detratores que cinicamente desprezam nossos esforços nobres e virtuosos?

Por que algumas pessoas parecem ter a força e a coragem para vencer os desafios, e outras não? De onde vêm sua certeza e seu poder? E podemos todos ter acesso a isso?

A resposta a esta e muitas outras perguntas semelhantes nos é dada– o que para alguns, poderia parecer uma surpresa – num discurso chassídico, estudado por muitas pessoas nessa época do ano.

Há sessenta anos nesta semana (No 10º dia do mês hebraico de Shevat 1950), o mentor do meu mentor  (o Rebe do Rebe) faleceu. Seu nome: Rabi Yosef Yitschak Schneersohn, o sexto Rebe de Lubavitch. O último discurso que ele publicou em sua vida foi lançado para estudo naquele mesmo dia. O discurso chassídico, intitulado “Basi L’Gani”, “Venha Para o meu Jardim” (um versículo do Cântico dos Cânticos), consiste de vinte capítulos.

Quando o genro de Rabi Yosef Yitschak, Rabi Menachem Mendel Schneerson, assumiu a liderança do movimento, ele começou seu discurso final com o mesmo versículo, e elucidou o discurso original. Todo ano desde então, neste dia, Yud Shevat, o Rebe abordava, em ordem consecutiva, um dos vinte capítulos do discurso, em 1952 – capítulo dois, em 1953 – capítulo três, concluindo com o capítulo vinte em 1970. Então ele começou a ordem novamente. Baseado neste ciclo, este ano de 2010 (5770) corresponde ao 20º e último capítulo de Basi L’Gani.

Qual é o tema do capítulo vinte? A força espiritual inabalável, determinação e comprometimento em face dos desafios que enfrentamos ao viver num universo material auto-indulgente.

Num tom esotérico, este capítulo, quando decifrado, é tão prático e relevante quanto qualquer mensagem que você poderá ouvir.

Em resumo, o capítulo discute os duros desafios que nossas almas puras e inocentes enfrentam num mundo egoísta e corrupto. A alma, explica ele, se origina num estado muto puro e sublime – ligada totalmente à sua fonte Divina. Naquele estado não há dualidade; a identidade e a agenda da alma é uma só com o plano Divino. Mas então essa alma pura desce ao corpo físico e ao plano material, que é dominado por auto-interesses diferentes e conflitantes. Sua alma integrada é estranha a este mundo fragmentado, criando uma dissonância radical. Porém, este descida drástica é exatamente o propósito de toda a existência: a alma luta para poder consertar a dualidade e superar –refinar – as tentações e seduções do corpo físico e do universo material.

Este processo exige enorme esforço e empenho. A alma deve lutar uma batalha imensa para conquistar o incessante apelo do materialismo.

Assim que nos tornamos espiritualmente inspirados, a “alma animalesca” desencadeia sua fúria, atacando nossa psique e nos desestabilizando com todo tipo de distração; às vezes, nos dominando com dúvidas e temores infundados.

A única maneira de triunfar nessa batalha é dominar os recursos mais profundos da alma – o poder enorme e inabalável de Netsach – que emerge somente em face ao adversário. Enraizada no âmago da alma (além de todas as outras faculdades reveladas), Netsach (literalmente “vitória”) é pura determinação – total e absoluto compromisso de seguir em frente apesar de qualquer desafio, incerteza e dúvida.

A energia de Netsach vem de uma crença profundamente enraizada em quem você é e o que precisa para realizar; abraçar aquilo em que acredita e não permitir que nada o impeça de consegui-lo.

Acessamos este poder exatamente quando estamos sob ataque. Quando lutamos para levar vidas virtuosas num mundo corrupto, quando ficamos firmes defendendo a justiça e a moralidade, quando combatemos o egoísmo, o nosso e o dos outros, nossa convicção evoca os recursos Divinos mais profundos e espirituais. Como é demonstrado pelo exemplo de uma guerra real; quando um líder é ameacado e vai para a batalha, o anseio de vencer o faz destrancar seus tesouros e recursos mais preciosos, aqueles que jamais foram vistos, qualquer coisa para ajudá-lo a vencer. Os desafios da vida, portanto, se tornam catalisadores que impulsionam nossas forças mais profundas. Quanto maior o adversário, mais poderosas são as forças da certeza que despertamos e mais determinados ficamos a triunfar.

A complacência é a raiz da resolução fraca. Em contraste, quando sentimos que nossa identidade espiritual está ameaçada e tentamos atrair as nossas mais elevadas aspirações, este perigo estimula novas energias e a força de vontade, que atrai o inabalável âmago da alma enraizada na inabalável essência do Divino.

Não há dom maior que o dom da determinação. A certeza absoluta de que você é precioso e indispensável; que você está numa missão vencendo uma causa; que o lugar e o tempo no qual você se encontra é exatamnete onde você deveria estar; e que você tem o poder de deixar sua marca única no universo.

Portanto o segredo para acessar a força e vontade interiores é olhar para nossas próprias dúvidas e  procrastinação como um “inimigo”. Defina o inimigo e então reúna todas as suas forças interiores para ir à luta. Deixe que seu inimigo o fortaleça. Quando o desafio parecer especialmente formidável, aja de maneira contra-intuitiva; em vez de recuar, comprometa-se obstinadamente, com tenacidade supra-racional, para cumprir sua missão de refinar o seu canto do mundo.

Quando você assume este compromisso sua alma interior, alimentada pelo Divino indomitável, vai projetar você em frente, netsach, à vitória.