Capítulo I
- E sucedeu nos dias de Achashverosh - o Achashverosh que reinou desde a Índia até a Etiópia, sobre cento e vinte e sete províncias.
- Naqueles dias, assentando-se o rei Achashverosh no trono real, em Shushan, a capital.
- No terceiro ano de seu reinado, ofereceu um banquete a todos seus oficiais e servos; o exército da Pérsia e da Média, os governadores e oficiais das províncias estavam presentes.
- Quando exibiu a opulência de seu reino glorioso e o esplendor de sua grandiosa majestade, durante muitos dias - cento e oitenta dias.
- E passados esses dias, ofereceu o rei a todo povo que se achava em Shushan, a capital, dos maiores aos menores, um banquete de sete dias, no pátio do jardim do palácio real.
- Havia cortinas de fina lã branca e azul-celeste, enlaçadas com cordões de fino linho e de púrpura sobre trilhos de prata e pilares de mármore; os divãs eram de ouro e de prata sobre um pavimento de pórfiro verde e branco, de madrepérola e ônix.
- As bebidas foram servidas em utensílios de ouro - cada utensílio diferente do outro - com vinho real em abundância, segundo a generosidade do rei.
- E a bebida foi conforme a lei: sem coerção; pois assim o rei ordenara a todos os oficiais de sua casa, que fizessem segundo a vontade de cada um.
- Também a rainha Vashti ofereceu um banquete às mulheres no palácio do rei Achashverosh.
- Ao sétimo dia [Shabat], estando o coração do rei já alegre pelo vinho, ordenou a Mehuman, Biztá, Charvoná, Bigtá e Avagtá, Zetar e Charcás - os sete camareiros que atendiam o rei Achashverosh.
- Que trouxessem a rainha Vashti à presença do rei, com a coroa real, para exibir aos povos e aos oficiais sua beleza; pois ela era muito formosa.
- Porém, recusou-se a rainha Vashti a vir segundo a ordem real por intermédio dos camareiros; por isso, se enfureceu muito o rei e se inflamou de ira.
- Consultou, então, o rei os peritos, conhecedores dos tempos - pois assim era o procedimento do rei [dirigir-se] a todos os conhecedores da Lei e do Direito.
- Os mais chegados a ele eram: Carshená, Shetar, Admatá, Tarshish, Mêres, Marsená [e] Memuchan, os sete oficiais da Pérsia e da Média que tinham acesso ao rei e ocupavam os primeiros assentos do reino.
- Sobre o que se devia fazer, legalmente, à rainha Vashti por não obedecer a licitação do rei Achashverosh transmitida pelos camareiros.
- Então declarou Memuchan perante o rei e os oficiais: "Não é só contra o rei que procedeu mal a rainha Vashti, mas também contra todos os oficiais e contra todos os povos de todas as províncias do rei Achashverosh.
- Pois o ato da rainha chegará à atenção de todas as mulheres, de modo a seus maridos ficarem desprezíveis a seus olhos, quando disserem: "O rei Achashverosh mandou vir a rainha Vashti a sua presença, porém ela não foi!."
- Neste dia, as princesas da Pérsia e da Média, ao ouvirem sobre o ato da rainha, citarão [o fato] a todos os oficiais do rei; e haverá muito desprezo e indignação.
- Se bem parecer ao rei, que se promulgue um édito real de sua parte, e que se inscreva nas leis da Pérsia e da Média, irrevogavelmente, que Vashti não torne mais à presença do rei Achashverosh, e que o rei confira seu estado real a outra [mulher], melhor do que ela.
- E quando for ouvido o édito que o rei proclamar em todo seu reino - vasto que é - todas as esposas hão de honrar seus maridos, dos mais importantes aos menos importantes."
- A proposta agradou ao rei e aos oficiais, e o rei fez conforme a palavra de Memuchan.
- Enviou cartas a todas as províncias do rei, a cada província segundo sua escrita, e a cada povo segundo seu idioma, com o propósito de que cada homem fosse senhor em sua casa e falasse o idioma de seu próprio povo.
Capítulo II
- Após esses fatos, já aplacada a ira do rei Achashverosh, lembrou-se de Vashti e do que ela fizera e do que fora decretado contra ela.
- Então disseram os moços do rei, seus servidores: "Procurem-se moças para o rei, donzelas jovens e de boa aparência.
- E que o rei nomeie comissários em todas as províncias de seu reino para que reúnam todas as donzelas jovens e de boa aparência em Shushan, a capital, no harém, sob os cuidados de Heguê, camareiro do rei, guarda das mulheres; e dêem-se-lhes seus cosméticos.
- Então, a moça que cair no agrado do rei, reinará em lugar de Vashti." O conselho agradou ao rei, que assim fez.
- Havia um homem judeu em Shushan, a capital, cujo nome era Mordechai, filho de Yair, filho de Shim'i, filho de Kish, da tribo de Binyamin.
- Que fora desterrado de Jerusalém no degredo junto com os que haviam sido exilados com Yechonyá, rei de Yehudá, exilado por Nevuchadnetsar, rei da Babilônia.
- Criara ele a Hadassá, i.e., Ester, filha de seu tio, pois não tinha pai e mãe. E a moça era de porte formoso e de boa aparência; e quando morreram o pai e a mãe, Mordechai a adotara como filha.
- E sucedeu que, ao se divulgar a solicitação real e seu decreto, e ao se reunir um grande número de moças em Shushan, a capital, sob os cuidados de Hegai, foi levada Ester ao palácio aos cuidados de Hegai, guarda das mulheres.
- A moça caiu em seu agrado e obteve seu favor; ele se apressou em preparar seus cosméticos e seus alimentos especiais, e mais sete aias a ela designadas pelo palácio; e a transferiu com suas aias para os melhores aposentos do harém.
- Não contou Ester sobre seu povo nem sobre seu parentesco, pois Mordechai a instruiu que não contasse.
- Cada dia Mordechai passava diante do pátio do harém para saber como passava Ester e o que lhe sucedia.
- Ora ao chegar a vez de cada moça vir ao rei Achashverosh, depois de tratada segundo à maneira prescrita para as mulheres, por doze meses - pois este foi o tempo prescrito para realizar seu embelezamento: seis meses com óleo de mirra e seis meses com perfumes e cosméticos femininos.
- Quando a moça vinha ao rei, tudo o que solicitava era-lhe dado para acompanhá-la do harém ao palácio.
- Ao entardecer entrava e pela manhã retornava ao segundo harém, aos cuidados de Shaashgaz, o camareiro do rei, guarda das concubinas. Não tornava mais ao rei, salvo se o rei a desejasse de volta, e fosse chamada pelo nome.
- Quando chegou a vez de Ester, filha de Avicháyil - tio de Mordechai, que a adotara como filha - apresentar-se ao rei, nada pediu além do que recomendara Hegai, camareiro do rei, guarda das mulheres. E sucedeu que Ester cativou todos que a viram.
- Foi levada Ester ao rei Achashverosh, a seu palácio, no décimo mês, que é o mês de Tevêt, no sétimo ano de seu reinado.
- Amou o rei a Ester mais do que a todas as mulheres, e ela encontrou graça e favor perante ele mais do que todas as donzelas; e pôs-lhe a coroa real na cabeça e a fez rainha no lugar de Vashti.
- Ofereceu então o rei um grande banquete a todos seus oficiais e servos - foi o banquete de Ester - e proclamou anistia [fiscal] a todas as províncias e distribuiu presentes à altura de um rei.
- Quando, pela segunda vez, foram reunidas donzelas e Mordechai estava assentado ao portão real.
- Ainda não havia Ester contado de seu parentesco nem de seu povo, conforme lhe instruira Mordechai, pois a ordem de Mordechai, Ester cumpria como quando estava sob sua tutela.
- Naqueles dias, estando Mordechai assentado ao portão real, indignaram-se Bigtan e Têresh, dois camareiros do rei, da guarda da porta, e tramaram atentar contra o rei Achashverosh.
- Chegou a conspiração ao conhecimento de Mordechai, que a contou à rainha Ester; e Ester informou o rei, em nome de Mordechai.
- Investigou-se o caso e, confirmado, foram ambos enforcados. Isso foi consignado no livro de crônicas na presença do rei.
Capítulo III
- Após esses fatos, promoveu o rei Achashverosh a Haman, filho de Hamdata, o agaguita, e o exaltou, pondo sua cadeira acima da de todos os oficiais que estavam com ele.
- E todos os servos do rei do portão real se ajoelhavam e se prostravam perante Haman, pois assim havia ordenado a esse respeito o rei. Porém Mordechai não se ajoelhava nem se prostrava.
- Então disseram os servos do rei do portão real, a Mordechai: "Por que transgrides a ordem do rei?"
- E sucedeu que, tendo-lhe dito isso dia após dia, e como não lhes desse ouvidos, contaram então a Haman, para ver se as palavras de Mordechai se manteriam, pois lhes tinha declarado que era judeu.
- Haman, vendo que Mordechai não se ajoelhava, nem se prostrava perante ele, encheu-se de ira.
- Porém, menosprezou a seus olhos atentar apenas contra Mordechai, porque lhe haviam contado de que povo era Mordechai; pelo que procurou Haman aniquilar todos os judeus que havia em todo o reino de Achashverosh, o povo de Mordechai.
- No primeiro mês, que é o mês de Nissan, no ano duodécimo do reinado de Achashverosh, lançou-se o pur, isto é, a sorte, na presença de Haman, de dia em dia, de mês em mês, até o duodécimo, que é o mês de Adar.
- Disse, então, Haman ao rei Achashverosh: "Existe um povo, espalhado e disperso, dentre os demais povos de todas as províncias de teu reino, cujas leis são diferentes de qualquer outro povo, e que não cumpre as leis do rei; pelo que não convém ao rei conservá-lo.
- Se bem parecer ao rei, decreta-se, pois, que sejam mortos, e dez mil talentos de prata pesarei em mãos dos encarregados do serviço para serem depositados no tesouro real."
- Então o rei tirou seu sinete da mão e deu-o a Haman, filho de Hamdata, o agaguita, inimigo dos judeus.
- Disse o rei a Haman: "Esta prata te é dada, como também este povo, para fazeres dele o que mais te agradar."
- Foram chamados, pois, os escrivães do rei no dia treze do primeiro mês, e escreveu-se tudo quanto havia ordenado Haman aos sátrapas do rei, aos governantes de cada província e aos oficiais de cada povo; a cada província segundo sua escrita e a cada povo segundo sua língua; escrito em nome do rei Achashverosh e selado com o sinete real.
- Expediram-se cartas, por meio de homens dos correios, a todas as províncias do rei, para que aniquilassem, matassem e exterminassem todos os judeus, jovens e velhos, crianças e mulheres, em um só dia, no dia treze do duodécimo mês, que é o mês de Adar, e que lhes saqueassem os bens.
- Que uma cópia do decreto fosse proclamada como lei em cada província, e [divulgada] de forma clara a todos os povos para que se preparassem para aquele dia.
- Os homens do correio partiram apressadamente com a ordem real, e a lei foi proclamada em Shushan, a capital; o rei e Haman sentaram-se a beber, mas a cidade de Shushan se achava perplexa.
Capítulo IV
- Quando soube Mordechai tudo o que se havia passado, rasgou suas vestes, cobrindo-se [de pano] de saco e de cinzas, e saiu pelo meio da cidade a clamar com grande e amargo clamor.
- Chegou até a frente do portão real; porque ninguém podia passar pelos portões reais coberto [de pano] de saco.
- E em todas as províncias a que chegava a ordem do rei e a sua lei, havia grande luto entre os judeus, jejum, choro e lamentação; e em [pano de] saco e em cinza deitavam-se muitos.
- Então vieram as aias de Ester e seus camareiros contar-lhe; estremeceu muito a rainha e mandou roupas com que vestir a Mordechai e tirar-lhe o [pano de] saco; porém não as aceitou.
- Então convocou Ester a Hatach, um dos camareiros do rei, enviado para servi-la, e ordenou [que fosse] a Mordechai a fim de saber o que e por que era aquilo.
- Saiu Hatach ao encontro de Mordechai, à praça da cidade, diante do portão real.
- Contou-lhe Mordechai tudo quanto se passava, bem como o montante de prata que Haman tinha prometido pagar ao tesouro real pelo extermínio dos judeus.
- Também a cópia do decreto escrito que se proclamou em Shushan, da aniquilação, deu-lhe para mostrar a Ester e esclarecê-la; e ordenou que fosse ao rei suplicar-lhe e pedir-lhe por seu povo.
- Retornou Hatach e contou a Ester as palavras de Mordechai.
- Então respondeu Ester a Hatach e mandou-o dizer a Mordechai:
- "Todos os servos do rei e o povo das províncias do rei sabem que qualquer homem ou mulher que for ter com o rei no pátio interior sem ser chamado, não terá senão uma sentença, a de morte, salvo a quem o rei estender o cetro de ouro para que viva; e eu não fui chamada para ter com o rei nestes trinta dias.
- Comunicaram a Mordechai as palavras de Ester.
- Disse Mordechai que respondessem a Ester: "Não imagines que, por estares no palácio do rei, escaparás dentre todos os judeus.
- Pois se te calares agora, alívio e salvação erguer-se-ão para os judeus de outra parte, mas tu e a casa de teu pai havereis de perecer; e quem sabe se para uma oportunidade como esta chegaste ao reino."
- Então disse Ester para responder a Mordechai:
- "Vai, reúne todos os judeus que se encontram em Shushan, e jejuai por mim; não comais nem bebais três dias, dia e noite. Também eu e minhas aias assim jejuaremos. E desse modo irei ter com o rei, embora contra a lei; e se tiver de perecer, perecerei."
- Mordechai foi e fez tudo conforme Ester lhe havia ordenado.
Capítulo V
- E sucedeu que no terceiro dia, Ester vestiu seus trajes reais, indo postar-se no pátio interno do palácio real, defronte aos aposentos do rei; e o rei estava sentado em seu trono real, no palácio real, defronte à entrada do salão.
- E tão logo avistou a rainha Ester parada no pátio, caiu em seu agrado. Estendeu o rei a Ester o cetro de ouro que tinha na mão; Ester aproximou-se e tocou a ponta do cetro.
- Disse-lhe, então, o rei: "Que tens, rainha Ester? E qual é teu desejo? Até a metade do reino ser-te-á dado."
- Respondeu Ester: "Se bem parecer ao rei, venha o rei e Haman hoje ao banquete que preparei para ele."
- Disse, então, o rei: "Fazei apressar a Haman, para que se cumpra a palavra de Ester." Vieram o rei e Haman ao banquete preparado por Ester.
- Disse o rei a Ester durante o banquete do vinho: "Qual é teu pedido? E ser-te-á dado. E qual é teu desejo? Até a metade do reino será concedido."
- Então respondeu Ester e disse: "Meu pedido e meu desejo [são]:
- Se alcancei graça aos olhos do rei, e se bem parecer ao rei atender meu pedido e conceder meu desejo, venha o rei com Haman ao banquete que lhes hei de preparar, e amanhã, farei conforme a palavra do rei."
- Haman saiu naquele dia, alegre e de coração exultante, Mas, assim que Haman avistou Mordechai junto do portão real, sem que se levantasse ou movesse diante dele, encheu-se Haman de ira contra Mordechai.
- Haman se conteve, foi para casa e mandou vir seus queridos e sua mulher Zêresh.
- Contou-lhes Haman a glória de sua riqueza, o grande número de seus filhos e tudo que o rei o havia engrandecido e de como o havia exaltado acima dos príncipes e dos servos do rei.
- Disse Haman: "Até mesmo a rainha Ester a ninguém fez vir com o rei ao banquete que preparara, senão a mim; e também para o dia seguinte estou convidado por ela, juntamente com o rei.
- Porém tudo isto não me tem valor, enquanto vir o judeu Mordechai sentado ao portão real."
- Então lhe disse Zêresh, sua mulher, e todos seus queridos: "Manda preparar uma forca numa árvore de cinqüenta côvados de altura, e pela manhã dize ao rei que nela enforque Mordechai; e vai alegre em companhia do rei ao banquete." A sugestão agradou a Haman, e ele preparou a forca na árvore.
Capítulo VI
- Naquela noite vagava o sono do rei; então mandou trazer o livro de registro das crônicas. Foram lidas perante o rei.
- Achou-se escrito que Mordechai havia denunciado a Bigtana e Têresh, os dois camareiros do rei, da guarda da porta, que haviam tramado um atentado contra o rei Achashverosh.
- Disse, então, o rei: "Que honra e distinção foram prestadas a Mordechai por isso?" Disseram os lacaios do rei que o serviam: "Nada lhe foi conferido."
- Disse o rei: "Quem está no pátio?" Ora Haman havia entrado no pátio externo do palácio real, para dizer ao rei que enforcasse Mordechai na árvore que mandara preparar para ele.
- Disseram-lhe os lacaios do rei: "Haman está no pátio." Disse o rei: "Que entre."
- Entrou Haman e o rei lhe disse: "Que se deve fazer ao homem a quem o rei deseja honrar?" Pensou Haman consigo mesmo: "A quem o rei há de querer honrar mais do que a mim?"
- Disse Haman ao rei: "O homem a quem o rei deseja honrar.
- "Que se lhe tragam as vestes reais usadas pelo rei e o cavalo que serve de montaria ao rei e que lhe seja colocada a coroa real na cabeça.
- "E que se entreguem as vestes e o cavalo às mãos de um dos príncipes dentre os fidalgos do rei, e vistam com elas o homem a quem o rei deseja honrar; e levem-no a cavalo pela praça da cidade, e apregoem diante dele: 'Assim se faz ao homem a quem o rei deseja honrar.'"
- Disse então o rei a Haman: "Apressa-te, toma as vestes e o cavalo, conforme disseste, e faze assim com Mordechai, o judeu, que está assentado ao portão real; e não omitas coisa nenhuma de tudo o que disseste."
- Haman pegou as vestes e o cavalo e vestiu a Mordechai e fê-lo andar montado pela praça da cidade e apregoou diante dele: "Assim se faz ao homem a quem o rei deseja honrar."
- Tornou Mordechai ao portão real; Haman, porém, precipitou-se para casa, sorumbático e de cabeça coberta [de vergonha].
- Contou Haman a Zêresh, sua mulher, e a todos seus amigos tudo que lhe tinha sucedido. Disseram-lhe então seus conselheiros e Zêresh, sua mulher: "Se for de origem judaica este Mordechai diante de quem começaste a cair, nada conseguirás contra ele; e acabarás, certamente, caindo perante ele."
- Ainda conversavam, quando chegaram os camareiros do rei, e apressaram-se em conduzir Haman ao banquete preparado por Ester.
Capítulo VII
- Veio, pois, o rei com Haman festejar com a rainha Ester.
- Disse o rei para a Ester também no segundo dia durante o banquete do vinho: "Qual é teu pedido, rainha Ester? E ser-te-á dado. E qual é teu desejo? Até a metade do reino será concedido."
- Então a rainha Ester respondeu e disse: "Se alcancei graça a teus olhos, ó rei, e se bem parecer ao rei, que me seja dada minha vida em [troca de] meu pedido, e a de meu povo em [troca de] meu desejo.
- Pois fomos vendidos, eu e o meu povo, para sermos aniquilados, mortos e exterminados. Se ainda fôssemos vendidos como escravos e servas, calar-me-ia, pois o inimigo não valoriza o prejuízo que terá o rei."
- Falou então o rei Achashverosh e disse à rainha Ester: "Quem é este e onde está este, cujo coração se inclinou a proceder assim?"
- Disse Ester: "O tal homem cruel e inimigo é este perverso Haman." Então Haman se atemorizou perante o rei e a rainha.
- E o rei levantou-se, furioso, do banquete do vinho, [passando] para o jardim do palácio. E Haman ficou a rogar por sua vida à rainha Ester, pois viu que todo o mal contra ele já estava [determinado] pelo rei.
- E o rei tornou do jardim do palácio ao local do banquete do vinho, e eis que Haman estava caído sobre o divã em que se encontrava Ester. Exclamou o rei: "Acaso terias querido forçar a rainha na minha presença [e] em minha própria casa?" Tão logo a frase saiu dos lábios do rei, cobriu-se [de vergonha] o rosto de Haman.
- Disse, então, Charvoná, um dos camareiros do rei: "Eis que a forca na árvore, de cinqüenta côvados de altura, que preparou Haman para Mordechai, que falara em benefício do rei, encontra-se na casa de Haman." Disse o rei: "Enforcai-o nela."
- Enforcaram, pois, Haman na árvore que havia preparado para Mordechai. Então a ira do rei se aplacou.
Capítulo VIII
- Naquele dia, deu o rei Achashverosh à rainha Ester a casa de Haman, inimigo dos judeus; e Mordechai veio perante o rei, pois Ester lhe revelara o que ele era para ela.
- Tirou o rei seu sinete que havia tomado de Haman e deu-o a Mordechai. E Ester pôs Mordechai [para dirigir] a casa de Haman.
- Tornou Ester a falar perante o rei, lançando-se a seus pés, chorou e lhe implorou que revogasse a maldade de Haman, o agaguita, e seu plano tramado contra os judeus.
- Estendeu o rei para Ester o cetro de ouro. Então, levantou-se Ester, pondo-se de pé perante o rei.
- Ela disse: "Se bem parecer ao rei, se alcancei graça perante ele, se a causa é justa diante do rei e se lhe sou agradável a seus olhos, escreva-se revogando as cartas concebidas por Haman, filho de Hamdata, o agaguita, as quais escreveu para exterminar os judeus em todas as províncias do rei.
- Pois como poderei assistir ao mal que sobrevirá a meu povo? E como poderei assistir à destruição de minha linhagem?"
- Disse o rei Achashverosh à rainha Ester e a Mordechai, o judeu: "Eis que a casa de Haman dei a Ester, e a ele enforcaram por tramar contra os judeus.
- Escrevei, pois, a respeito dos judeus, como bem vos parecer, em nome do rei, e selai-o com o sinete real, pois os decretos escritos em nome do rei e selados com o sinete real não podem ser revogados."
- Foram convocados os escrivães do rei daquele tempo, no terceiro mês, que é o mês de Sivan, aos vinte e três dias do mês, e foi escrito tudo quanto Mordechai ordenara, sobre os judeus, aos sátrapas, aos governantes e aos príncipes das províncias que se estendem da Índia até Etiópia, cento e vinte e sete províncias, a cada província segundo sua escrita e a cada povo segundo seu idioma, e também aos judeus segundo sua escrita e seu idioma.
- Escreveu-se em nome do rei Achashverosh, selou-se com o sinete real e se despacharam as cartas por meio dos homens do correio a cavalo, e montadores de ginetes e mulas ligeiras.
- Nelas o rei concedia aos judeus de cada cidade se reunirem e se levantarem em defesa de sua vida, aniquilar, matar e exterminar toda e qualquer força armada do povo e da província que viesse contra eles, crianças e mulheres, e que lhes saqueassem os bens.
- Num só dia em todas as províncias do rei Achashverosh, no dia treze do duodécimo mês, que é o mês de Adar.
- Que uma cópia do decreto fosse proclamada como lei em cada província, e [divulgada] de forma clara a todos os povos para que os judeus se preparassem para aquele dia, vingando-se de seus inimigos.
- Os homens do correio montados em ginetes e mulas partiram incontinente e apressadamente pela ordem do rei. E o édito foi proclamado em Shushan, a capital.
- Então Mordechai saiu da presença do rei com traje real azul-celeste e branco, uma grande coroa de ouro e um manto de fino linho e púrpura; e a cidade de Shushan exultou e se alegrou.
- Para os judeus houve esplendor, alegria, regozijo e honra.
- E em toda a província e em toda cidade aonde chegava a palavra do rei e sua lei, havia alegria e regozijo entre os judeus, comemoração e festividade. E muitos dos povos da Terra se converteram ao judaísmo pois tinha caído o temor dos judeus sobre eles.
Capítulo IX
- No duodécimo mês, que é o mês de Adar, dia treze do mês, ao chegar a palavra do rei e sua lei a serem cumpridas, no dia em que os inimigos dos judeus contavam assenhorear-se deles, sucedeu o contrário, pois os judeus é que se assenhorearam dos que os odiavam.
- Reuniram-se os judeus nas suas cidades, em todas as províncias do rei Achashverosh, a fim de enfrentar aqueles que lhes procuravam fazer o mal. E ninguém pôde resistir-lhes, pois seu temor recaiu sobre todos os povos.
- E todos os príncipes das províncias e os sátrapas e os governantes e os oficiais do rei exaltaram os judeus, pois recaíra o temor de Mordechai sobre eles.
- Pois Mordechai era grande no palácio real e sua fama corria todas as províncias, pois o homem Mordechai se ia tornando cada vez mais poderoso.
- Então os judeus feriram a todos seus inimigos a golpes de espada, abatendo-os e eliminando-os. E fizeram de seus inimigos o que bem quiseram.
- E em Shushan, a capital, os judeus abateram e eliminaram quinhentos homens.
- E Parshandata, e Dalfon, e Aspata.
- E Porata, e Adalya, e Aridata.
- E Parmashtá, e Arissai, e Aridai, e Vayzata.
- Os dez filhos de Haman, filho de Hamdata, inimigos dos judeus, foram abatidos; porém sobre os despojos não estenderam a mão.
- Naquele dia, chegou o número de mortos em Shushan, a capital, ao conhecimento do rei.
- Disse o rei à rainha Ester: "Em Shushan, a capital, os judeus abateram e eliminaram quinhentos homens e os dez filhos de Haman; nas demais províncias do rei, o que não terão feito! Qual é teu pedido? E ser-te-á dado. E qual ainda é teu desejo? E será atendido.
- " Disse então Ester: "Se bem parecer ao rei, conceda também amanhã aos judeus de Shushan agir conforme o édito de hoje; e aos dez filhos de Haman, que os dependurem na forca."
- Ordenou então o rei que se fizesse assim. Proclamou-se a lei a Shushan e os dez filhos de Haman foram enforcados.
- Reuniram-se os judeus de Shushan também no dia quatorze do mês de Adar e abateram em Shushan trezentos homens; porém, sobre os despojos não estenderam a mão.
- Os demais judeus que viveram nas províncias do rei também se reuniram e se levantaram em defesa de sua vida; e tiveram sossego de seus inimigos, abatendo entre os inimigos setenta e cinco mil [homens]; porém, sobre os despojos não estenderam a mão.
- Isso sucedeu no dia treze do mês de Adar; e descansaram no dia quatorze do mês e fizeram dele um dia de festa e alegria.
- Os judeus, porém, que se achavam em Shushan, se reuniram no dia treze e catorze do mesmo e sossegaram no dia quinze do mesmo e fizeram dele um dia de festa e alegria.
- Por isso, os judeus das cercanias, que habitam em cidades abertas, fazem do dia catorze do mês de Adar dia de alegria e festa, e uma festividade de enviar porções [de comida] uns aos outros.
- Mordechai escreveu estes fatos e despachou cartas a todos os judeus de todas as províncias do rei Achashverosh, aos que estavam perto e aos que estavam longe.
- Ordenando-lhes que comemorassem o dia quatorze do mês de Adar e o dia quinze todos os anos.
- Como os dias em que os judeus se tiveram sossego de seus inimigos, e o mês em que a tristeza se converteu em alegria, e o luto em festividade; que fizessem deles dias de festa e alegria, mandando porções [de comida] uns aos outros e dádivas aos pobres.
- Os judeus assumiram [cumprir] o que naquele tempo tinham feito pela primeira vez, conforme Mordechai lhes prescrevera.
- Pois Haman, filho de Hamdata, o agaguita, inimigo de todos os judeus, tramara aniquilar os judeus e lançara o pur, isto é, a sorte, para aterrorizar e aniquilá-los.
- Mas, tendo ela [Ester] ido ao rei, ordenou por cartas que o mau intento [de Haman] que tramara contra os judeus recaísse sobre sua própria cabeça, pelo que enforcaram a ele e a seus filhos.
- Por isso chamaram àqueles dias de Purim, pelo nome pur. Em virtude de todas as palavras daquela carta, do que testemunharam e do que lhes havia acontecido.
- Os judeus estabeleceram e tomaram sobre si e sobre seus descendentes e sobre todos os que privassem com eles [os prosélitos], que não se deixaria de comemorar estes dois dias conforme o que se escrevera deles e segundo suas datas, todos os anos.
- E que estes dias seriam lembrados e comemorados geração após geração, por todas as famílias, em todas as províncias e em todas as cidades, e que estes dias de Purim jamais caducariam entre os judeus, e que sua memória jamais se extinguiria entre seus descendentes.
- Então escreveu a rainha Ester, filha de Avicháyil, e Mordechai, o judeu, com toda autoridade, a fim de firmar esta carta de Purim pela segunda vez [i.e., no ano seguinte].
- Expediram cartas a todos os judeus, às cento e vinte e sete províncias do reino de Achashverosh, com palavras sinceras e de paz.
- Para que cumprissem os dias de Purim nas datas determinadas, conforme assumiram Mordechai, o judeu, e a rainha Ester, e conforme estabeleceram sobre si e sua descendência, sobre as prescrições do jejum e de seu lamento.
- E a ordem de Ester veio instituir estas normas de Purim; e se escreveu no Livro [i.e., a Meguilá de Ester entrou nas Escrituras Sagradas].
Capítulo X
- Depois disto, impôs o rei Achashverosh um tributo sobre a terra e sobre as ilhas do mar.
- Quanto aos demais feitos relativos a seu poder e seu valor e ao relato da grandeza de Mordechai a quem o rei exaltou, estão consignados no livro das crônicas dos reis da Média e da Pérsia.
- Pois Mordechai, o judeu, foi o vice do rei Achashverosh, um grande homem para os judeus e estimado pela maioria de seus irmãos; procurava o bem-estar do seu povo e se empenhava pela paz de toda sua posteridade.
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