Saudações e bênçãos,
Recebi sua carta, bem como a precedente. Por algumas razões, estou respondendo em inglês, embora as suas fossem escritas em hebraico.
Com sua permissão, devo começar com declarações introdutórias que podem ser parcialmente repetitivas, pois creio que toquei neste assunto na reunião. Entretanto, há palavras que devem ser ditas mesmo correndo o risco de repetição, para não deixarem de ser ditas de todo.
Refiro-me às linhas que concluem sua carta, onde menciona várias escolas de pensamento em judaísmo, e fala de filosofia, psicologia e várias atitudes em geral. Cá entre nós, muitos aspectos da sua esfera de interesses têm sido tratados em livros, não apenas em hebraico como também em inglês. Você provavelmente já sabe sobre estes livros ou pode descobrir. Existem também fontes similares que tratam de Chassidut em geral e Chabad em particular. Entretanto, isto é mencionado apenas de passagem.
O propósito essencial da minha carta é uma tentativa de esclarecer o que para mim é algo intrigante: já há muitos meses tivemos nosso encontro pessoal, e parece que a discussão que tivemos àquela época, e meus esforços subsequentes para ajudar você a se encontrar, por assim dizer, têm sido infrutíferos até agora.
Entretanto, visto que as razões que me forçaram a começar nossa conversa ainda estão de pé, e talvez mais fortes que antes, devo reforçar minhas opiniões mesmo com o risco de uma repetição:
1 – Podem existir diferenças válidas de opinião entre homens, sobre qual atividade ou interesse na vida diária deveria ter prioridade sobre outras. Mas isto pode se justificar apenas em circunstâncias normais. Quando acontece uma emergência, entretanto, todas as diferenças teóricas devem ser postas de lado para tratar da emergência. Para ilustrar meu ponto: uma coisa é debater que tipo de casa – se pegou fogo – vale a pena salvar – por qual método, ou por quem. Mas é uma outra coisa quando alguém está na verdade enfrentando uma casa em chamas com pessoas presas dentro, idosos, jovens e crianças. Numa hora destas não pode haver diferença de opinião sobre a necessidade imperativa de combater as chamas e resgatar os que estão encurralados. Este é o dever de qualquer um que esteja por perto, mesmo se não for um bombeiro treinado, e mesmo se aqueles presos dentro da casa são estranhos. A obrigação é consideravelmente maior, claro, se aqueles dentro dela são nossos parentes, e especialmente se alguém teve uma experiência bem sucedida na atividade de extinguir um incêndio.
2 – Onde existe uma dúvida sobre o que é bom para um indivíduo, ou grupo, ou nação, é às vezes esclarecedor considerar o que o inimigo deseja; especialmente se o inimigo tem mostrado persistentes esforços para atingir seus fins. Pois então ficaria claro que o oposto do que o inimigo deseja é bom para aquele indivíduo, grupo ou nação.
Em nossa geração, vimos com nossos próprios olhos o que o arquiinimigo de nosso povo – Hitler e seus seguidores – desejaram, tramaram e infelizmente conseguiram em grau considerável, a respeito de nosso povo. Ele não fez segredo de seu plano diabólico. Sua intenção confessa era exterminar o povo judeu e, acima de tudo, erradicar o espírito judaico. Por isto, as primeiras vítimas foram os livros judaicos e as sinagogas, líderes espirituais e rabinos.
Há muitos métodos pelos quais nossos inimigos esperam conseguir nossa aniquilação, D’us não o permita. Para a mente distorcida de Hitler, o método óbvio era simplesmente enviar judeus, homens, mulheres e crianças, às câmaras de gás e crematórios. Mas o método da cremação espiritual, envolvendo não o corpo judeu, mas a alma – através da assimilação, casamentos mistos, etc. – é da mesma forma devastador.
Os crematórios onde os corpos judeus foram incinerados, são algo de um passado horrível demais para ser esquecido. Graças a bondade do Todo Poderoso, aqueles açougueiros foram detidos antes que sua obra de destruição atingisse o objetivo. Mas o crematório espiritual, onde as almas dos judeus estão sendo consumidas, para nosso profundo desgosto ainda estão acesos, e mais ferozmente que nunca.
A Casa de Israel está em chamas (que D’us tenha piedade), e a geração jovem, do jeito que estão as coisas, está totalmente encurralada.
Você com certeza não está consciente da “fria” estatística sobre casamentos mistos e assimilação neste país, e a situação é similar em outras nações. O assunto é muito doloroso para ser contemplado, e ainda mais para escrever sobre ele mais demoradamente.
Em um sentido, o perigo de “crematório espiritual” é mais sério que aquele do genocídio; pois o hediondo deste último pode ser entendido sem muitas considerações filosóficas, ao passo que para o extermínio espiritual há certos grupos que não reconhecem isso como uma calamidade, e alguns grupos mesmo o elogiam sob o nome de “liberdade,” “igualdade,” “integração” e outros “ideais” equivocados.
À luz desta introdução, deixe que nós – você e eu – consideremos nossa posição. Certamente, face à situação hoje existente e sua deterioração, todo o debate e a especulação filosófica devem ser deixados de lado. A emergência existente demanda ação imediata para salvar almas judaicas, dos idosos, de meia-idade e dos jovens.
Esta é a obrigação primordial de cada um de nós que deseja agir contra os objetivos de Hitler. Esta obrigação é particularmente imperativa quando trata do ambiente imediato onde a pessoa foi criada, e com o qual a pessoa tem um débito de gratidão por muitos benefícios. Ainda mais obrigatório é o débito de alguém que tentou seus esforços no campo da educação e obteve sucesso. Isto deveria ser tão óbvio para a pessoa conscienciosa, que é intrigante se esta pessoa falha em reconhecê-lo. Posso explicar isso da seguinte maneira:
Se o yetser hará viesse a uma pessoa que raciocina e lhe diz: “Esqueça tudo a respeito daqueles crematórios espirituais; ao invés disso, saia e divirta-se, proporcione-se os prazeres da carne!” – isto não iria funcionar, é claro.
Mas o yetser hará tem uma tática melhor, que é mais “discreta” e “diplomática”. Segue na direção oposta, qualquer coisa deste tipo: “Para uma pessoa como você, prazeres mundanos são muito triviais. Você deveria pensar em termos de idéias universais, idéias que abarquem toda a humanidade, baseadas na mais profunda das filosofias, etc. Aqui você encontrará a plenitude da missão de sua alma, pois salvando o mundo todo, você também salvará suas partes,” e assim por diante.
Infelizmente, esta decepção frequentemente acontece com indivíduos bem-intencionados, e os induz a concentrar atenção em algumas idéias utópicas, com a negligência do ambiente imediato.
Tudo que foi dito acima – na esperança de sua bondosa indulgência – não se destina – é claro – a rebater ou argumentar pelo prazer de discutir. Eu simplesmente queria entender como é possível para um homem jovem, que observa o que se passa à sua volta, cair neste tipo de equívoco. Certamente os jornais diários não conseguem iludir a pessoa e fazê-la pensar que tudo está bem e normal. As notícias sobre delinqüência juvenil e crime; a promiscuidade entre estudantes das universidades; a crescente onda de casamentos mistos e assimilação, etc., certamente deve ser um constante desafio aos jovens decentes e conscientes, e deveriam “atiçá-los” a fazer alguma coisa prática, ao invés de engajar-se em alguns tópicos abstratos, ou em alguma pesquisa que, como todos concordarão, poderia esperar um pouco; no entanto, o menino ou menina no colégio não podem ser deixados a esperar, e a menos que seja ajudado e guiado de imediato, pode em breve ser arrebatado e irremediavelmente perdido, D’us não o permita, pela maré de casamentos mistos e assimilação.
3 – Chabad exemplifica a abordagem correta, e isto responderá uma de suas perguntas, a saber, qual é o objetivo de Chabad?
Um dos ensinamentos básicos de Chabad é que Ahavat Hashem, união com D’us , que é não apenas o criador da humanidade, mas também o Criador do Universo, é sinônimo de Ahavat Yisrael. E Ahavat Yisrael não é necessariamente expresso como tentativa de salvar todo o povo judeu, mas em ajudar até mesmo um único indivíduo. Lembre:se: “Aquele que salva uma única alma, considera-se como tendo salvado o mundo todo,” declararam nossos sábios.
De fato, o próprio fundador de Chabad deu um exemplo disso: quando uma pobre mulher deu à luz nas cercanias da cidade, Rabino Schneur Zalman, fomos informados, tirou seu talit e tefilin, e foi visitá-la na miserável cabana para acender o fogo, e preparar-lhe alguma comida. O Alter Rebe não viu contradição em interromper suas preces a D’us (e aqui vale a pena lembrar que mesmo a prece de um judeu comum, se for sincera e ardente, atinge a união com o Criador), para ajudar a mulher em necessidade: ao contrário, tal ajuda é a melhor expressão da proximidade com D’us . Como poderá você – e eu – e digo isto com o devido respeito – sentarmo-nos preguiçosamente nesta cidade, rodeados por milhares e milhares de judeus famintos por aconselhamento e em direção ao caminho certo na vida, da maneira da Torá, Torá Chayim?
Pode fazer-se de surdo aos gritos das crianças judias que, se lhes for negada ajuda imediata, podem ser consignados ao crematório espiritual, D’us não o permita? Certamente você deveria dedicar todas suas energias e habilidades a esta obra que resgata vidas.
É minha esperança que, a partir de agora, pelo menos, você abrirá os olhos e o coração ao que eu disse e escrevi a você: que você irá, sem mais nenhuma procrastinação, utilizar plenamente estes dons e capacidades que a Divina Providência lhe concedeu, para ajudar a guiar crianças e adolescentes judeus em direção à trilha de Torá e mitsvot, para ajudar a salvá-los das garras da completa assimilação.
Além disso, conforme explicado em Chabad que, estou feliz por perceber, você está interessado, esta obra sagrada lhe dará novo discernimento sobre Ahavat Hashem e tudo que o acompanha, e ajudará a esclarecer muitos dos problemas, enigmas e conflitos que perturbam sua paz de espírito no presente.
Espero e rezo para que minhas palavras, vindas do coração, encontrarão a resposta certa em seu coração.
Com bênçãos,
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