Tornei-me interessada em Lubavitch enquanto frequentava a escola para meninas Bais Yaakov no Brooklyn. Àquela altura, ainda não havia uma escola de segundo grau para meninas Chabad frequentarem, portanto todas iam ao Bais Yaakov junto com as meninas das comunidades Satmar e Modern Orthodox. Havia alunas de todos os tipos.
A menina que se sentava perto de mim, e que mais tarde se tornou minha cunhada, era Chabad chamada Rivka Eichenbaum; foi por causa dela que me tornei envolvida em Lubavitch. Comecei a frequentar aulas para mulheres sobre Chassidut bem como farbrenguens e outros programas.
Mas havia um problema. Meus pais não eram chassidim Chabad e acreditavam fortemente que eu deveria seguir a maneira deles praticarem o Judaísmo. Estavam muito envolvidos, eram judeus observantes membros orgulhosos da comunidade Agudat Yisrael. Meu avô Rabino Pesachya Lamm era uma figura proeminente que tinha ajudado a introduzir carne glatt casher na América, e embora tivesse conexão com Lubavitch – o Rebe Anterior tinha realmente consumido sua carne – meu pai não apreciava que eu agora estava estudando Tanya e fazendo as coisas de modo diferente. Ver que eu não estava seguindo exatamente seus caminhos o machucou.
Eu não estava disposta a ouvi-lo, mas quando ele perguntou, eu disse que havia alguém que eu iria escutar: o Rebe. Com isso, ele foi e marcou uma audiência para si mesmo, minha mãe e eu. Na época eu tinha dezessete anos, e eles estavam me levando ao Rebe para expressar suas preocupações.
Mas primeiro, enviei uma carta com seis páginas ao Rebe explicando meus numerosos dilemas: eu era atraída por Lubavitch, mas meus pais desaprovavam. Enquanto isso, meus professores na Bais Yaakov pregavam uma forte abordagem ao Judaísmo que entrava em conflito com o caminho Chabad. Eles eram orientados pela escola Mussar de ética judaica, enfatizando afastamento e evitando os males do mundo, tanto num nível comunitário como pessoalmente. Ao isolar-se de outras pessoas, eles diziam, você poderia focar em seus próprios estudos, e será menos provável que você acabe fofocando. A abordagem chassídica Chabad, em contraste, era mais positiva e confiante, enfatizando o bem a ser feito conosco com os outros.
Qual era o caminho certo para mim?
Por isso, escrevi ao Rebe que eu tinha estado tão ocupada com meus projetos e programas extracurriculares da escola que tinha negligenciado minha saúde.
Em sua resposta, o Rebe me acalmou. Ele explicou que cuidar da sua saúde é uma mitsvá, portanto não há como ela estar em desacordo com outras mitsvot da Torá. Ele aconselhou-me a voltar aos meus professores da Bais Yaakov e pedir a eles para me ajudar a gerenciar minha agenda.
Porém, o Rebe discordou de algumas das ideias dos meus professores, particularmente com sua ênfase em isolamento. É importante passar tempo entre amigos, ele argumentou, porque há muito a aprender com eles, e a pessoa somente pode ouvir um ponto de vista imparcial de outra pessoa. Ele também assegurou-me que eu não precisava comprometer-me em meu caminho pessoal no Judaísmo desde que eu me conduzisse de maneira pacífica e agradável.
Mas agora eu estava agendada para uma audiência pessoal junto com meus pais. Meu pai chegou com uma lista inteira de perguntas sobre minha conduta: ele queria saber sobre meus estudos, e por que eu tinha de aprender antes de rezar pela manhã. Eu tinha desejado seguir o costume de jejuar no dia da audiência com o Rebe, portanto meu pai acrescentou jejum excessivo na sua lista de reclamações.
Nesse último ponto, o Rebe foi muito duro ao dizer que jejuar mais do que o exigido pela lei judaica não era a maneira correta. “Nem eu jejuo mais do que está prescrito no Shulchan Aruch,” ele comentou.
Para a maioria das perguntas do meu pai, porém, o Rebe se voltava para mim e perguntava: “Como você faz isso?” Depois que eu respondia, continuávamos sem que o Rebe acrescentasse alguma coisa.
Eu estava bem desconfortável ao ficar ali com meu pai reclamando sobre mim, então perguntei ao Rebe se eu poderia falar com ele sem meus pais presentes. Ele concordou, mas disse que ele também queria falar com meus pais enquanto eu não estivesse na sala.
É claro, eu estava curiosa sobre o que foi dito na minha ausência. Mais tarde minha mãe disse que o Rebe tinha sugerido que meu avô materno, Rabino Pesachya Lamm, deveria se alistado para orientar-me em meu desenvolvimento religioso. Minha mãe, é claro, não tinha objeção a isso, mas o Rebe fez questão de perguntar ao meu pai se ele também aprovava. Ele aceitou a ideia após aquela audiência, e mais tarde ele até começou a se chamar também de Lubavitcher.
Após a Bais Yaakov, eu fui para o seminário. Por fim casei-me com o meu marido, Rabino Pinye Korf, e tornei-me uma plena Lubavitcher. Antes do meu casamento, passei o verão como conselheira num acampamento de verão para meninas.
O acampamento era parte do movimento Agudat Yisroel e tinha uma orientação semelhante à minha escola. Mas ali eu me sentia em casa, e tentei introduzir para as meninas várias ideias que eu tinha aprendido de Chabad.
Em certa ocasião, fui solicitada pelo rabino do acampamento a dar uma palestra sobre um notável sábio em particular da Torá, e decidi ampliar a palestra incluindo uma história do Baal Shem Tov, o fundador do movimento chassídico. Quando este rabino ouviu que a principal coisa que as meninas lembravam era do Baal Shem Tov, ele ficou muito chateado. Fui chamada ao escritório do acampamento e informada que eu tinha de me desculpar – ou deixar o acampamento. Eu não me sentia arrependida pelo que tinha feito, mas senti muito por magoá-lo, então conseguimos consertar as coisas.
Pouco tempo depois, fiz uma viagem a Nova York. Meu aniversário era no dia anterior ao jejum de 9 de Av, que era durante o acampamento, e consegui ter uma audiência com o Rebe antes do meu aniversário.
Eu tinha muitas perguntas para o Rebe, e ele tinha uma para mim: Perguntou-me se eu dava algumas lições no acampamento, e quando respondi que dava, ele disse: “Eu queria que você desse uma aula no seu aniversário.”
O tema da aula deveria ser o 9 de Av. Como é o dia da destruição do Templo, eu deveria falar sobre isso. O Rebe instruiu-me, no entanto, para também falar sobre a futura redenção do exílio, quando o Templo Sagrado será reconstruído. E ele queria que eu enfatizasse a declaração do Talmud de que Mashiach, o próprio redentor, nasceu nessa mesma data.
Eu estava realmente pouco à vontade com essa ideia, porque embora nossos Sábios se refiram a 9 de Av como o aniversário de Mashiach, normalmente o principal foco é prantear as tragédias e os temas negativos do dia, especialmente em lugares como aquele acampamento de verão. Mesmo assim, voltei, me enchi de coragem, e falei ao rabino que o Rebe de Lubavitch queria que eu desse esta aula. Ele realmente aceitou muito bem.
Meu mentor, Rabi Uriel Zimmer, ajudou-me a preparar a aula. Incluía uma história sobre Rabi Akiva que estava caminhando com seus parceiros e avistou as ruínas do Templo, mas em vez de chorar, ele riu: “Assim como a profecia da destruição do Templo veio a acontecer,” ele explicou, “também veremos o cumprimento da profecia da redenção.”
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