Rabino Yaakov Shpitzer

Em 1981, minha sobrinha, Tzippy – filha do meu irmão – foi diagnosticada com uma forma grave de câncer na perna, um melanoma maligno. Os médicos do Hospital Rambam em Haifa estavam muito pessimistas sobre sua chance de cura. Um médico disse que ela tinha apenas um mês de vida. Obviamente, os pais dela não receberam muito bem a notícia, e estavam totalmente perdidos sobre o que fazer. Era uma jovem – apenas de dezenove anos de idade – e a única filha.

Numa noite de sexta-feira, enquanto minha família e eu estávamos em meio ao nosso jantar de Shabat, meu vizinho, Rabino Leibel Friedman, nos fez uma visita. Ele disse: “Eu ouvi falar sobre sua sobrinha. Vocês deveriam saber que a única pessoa que pode ajudá-la é o Lubavitcher Rebe. Meu conselho é que vocês o visitem nos Estados Unidos e façam tudo que ele lhes disser para fazer.”

Fiquei um pouco surpreso de ouvir isso vindo dele, pois ele não era um chassid Lubavitch, mas ouvi seu conselho e assim que o Shabat terminou comecei os preparativos para a viagem. Eu não tinha um visto, e sabia que aos domingos o consulado americano estaria fechado, portanto entrei em contato com o Rabino Menachem Porush, que era um vice-ministro no Ministério do Trabalho na época. Após ouvir-me, ele prometeu ajudar de todas as formas possíveis. Não sei como ele fez isso, mas vinte e quatro horas depois eu estava a caminho para Nova York.

Logo após minha chegada, peguei um táxi para ir a Crown Heights. Falei com um dos secretários do Rebe, e após contar-lhe toda a história, ele prometeu arranjar uma audiência o mais cedo possível.

Na noite seguinte, por volta da uma hora da manhã, entrei no escritório do Rebe. Imediatamente tive um sentimento que é impossível descrever em palavras. Quem não passou por isso jamais vai entender.

O Rebe olhou-me e perguntou o que eu precisava. Tentei entregar a ele os Raios-X e o diagnóstico escrito que eu tinha levado comigo, mas ele disse que não precisava deles. “Apenas descreva o problema, por favor,” ele pediu.

Obedeci. Quando mencionei que um dos médicos dissera que ela tinha apenas um mês de vida, o Rebe exclamou: “O quê? Ela tem apenas...?!” Ele não conseguiu sequer terminar a frase.

Ele disse-me que não há nada para me preocupar. Eu deveria voltar para casa e levar Tzippy para ver o Professor Arye Durst, Diretor de Cirurgia no Hospital Hadassa em Jerusalém. Eu deveria dizer ao Professor Durst que estávamos indo por recomendação do Rebe.

“Mas até o médico mais otimista disse que a cirurgia não irá ajudar,” protestei. ‘Se uma cirurgia dessas fosse bem sucedida, iria apenas prolongar o sofrimento. A perna acabaria inchando, e ela nunca seria capaz de usá-la novamente.”

O Rebe repetiu que deveríamos dizer ao Professor Durst que ele tinha nos enviado. Acrescentou que a operação seria bem sucedida e o câncer erradicado, concluindo: “Que D'us conceda a ela uma longa vida com filhos e netos.”

Eu não podia aceitar que o Rebe, até sem ver a documentação médica, pudesse fazer uma afirmação dessas, e portanto tentei novamente explicar o perigo. O Rebe disse: “Não há necessidade. Tudo está bem, ela já está saudável.”

Quando saí da sala, um alivio tomou conta de mim. Eu não podia explicar, mas sentia como se o problema já tivesse sido resolvido.

Quando voltei para Israel, acompanhei meu irmão e sua filha ao Hospital Hadasssa. Ao chegarmos, a recepcionista perguntou se tínhamos agendado uma consulta com o Professor Durst. Dissemos que não. Ela nos informou que o professor não poderia nos atender sem marcar uma consulta, e que teríamos de sair. Neste momento, meu irmão irrompeu em lágrimas, e comecei a argumentar com ela.

De repente a porta se abriu e o Professor Durst entrou. Quando ele perguntou o por quê da comoção, eu disse: “Fui instruído pelo Lubavitcher Rebe em trazer esta menina para você, para que possa operá-la e salvar sua vida.” Ao ouvir aquilo, o Professor Durst concordou em nos atender.

Professor Aryeh Durst

Quando sentei em meu escritório, ouvi um tumulto lá fora. Saí e vi dois homens exigindo ser atendidos sem consulta marcada enquanto minha recepcionista estava tentando mandá-los embora. A princípio fiquei aborrecido, eles estavam causando um distúrbio, e tornando o trabalho dela mais difícil. Mas assim que ouvi um deles dizendo que o Rebe o tinha enviado, por algum motivo decidi que deveria dar atenção e analisar o caso.

Embora eu nunca tivesse tido qualquer interação com o Rebe antes, entendi que se uma figura tão reverenciada no mundo judaico tinha enviado alguém para mim, eu era obrigado e dar atenção.

Examinei a paciente e li as opiniões dos médicos, que concordavam unanimente que nada poderia ser feito. Após uma breve investigação, cheguei à mesma conclusão. As células do câncer que tinham se formado na pele já estavam se espalhando através da corrente sanguínea. Se elas tivessem sido contidas nos nódulos linfáticos, teria sido relativamente fácil remover o câncer. Mas quando se espalham pela corrente sanguínea, começam a dominar o corpo como um incêndio. Elas vão para o fígado, o abdômen, e os ossos. Àquela altura é uma causa perdida, pois mesmo se o cirurgião pudesse remover as células visíveis do câncer, não dá para explicar o quão profundamente ele invadiu o corpo.

Infelizmente, essa paciente já tinha atingido um estágio avançado de câncer, e portanto seus médicos em Haifa tinham desaconselhado a cirurgia. Não havia o que fazer. Não tive escolha exceto concordar.

Mesmo assim, apesar do que parecia ser uma tentativa vã para salvar sua vida, decidi seguir em frente e operar. Pensava que se o Rebe tinha enviado essa paciente para mim ele deveria ter visto que ela tinha algum tipo de esperança e o mínimo que eu podia fazer era tentar. Poucos dias depois realizei a cirurgia, removendo os nódulos do linfo canceroso e esperando o melhor. Medicamente falando, não havia nada mais que eu pudesse fazer.

Para minha surpresa, ela teve uma excelente recuperação. Continuei examinando-a periodicamente e vi que o câncer não se espalhou, e não retornou! Na verdade, ela passou a levar uma vida normal – casou-se e criou uma família saudável.

Como profissional, devo admitir que aquilo que a salvou não foi nada que eu tenha feito. Poderia somente ter sido a bênção do Rebe.