Quando Shirley Chisholm foi eleita em 1968 para representar o 12º Distrito de Nova York, que incluía seu próprio bairro de Crown Heights no Brooklyn, ela ganhou as manchetes como a primeira mulher afro-americana eleita para o Congresso. Porém, ela logo encontrou sua carreira congressional atrofiada em seu início por políticas relacionadas à raça. Curvando-se às pressões políticas dos políticos do sul, a liderança da Casa designou Chisholm para o Comitê da Agricultura, um local onde se acreditava que ela teria pouca influência.

Na época, parte da mídia em Nova York questionava a nomeação e expressava dúvida sobre a capacidade de Chisholm de afetar a agenda legislativa.

As boas vindas sem braços abertos causaram a Chisholm, que faleceu em 2005, uma quantidade compreensível de frustração, segundo Anna V. Jefferson, uma ex-senadora estadual do 22º Distrito de Nova York.

“Ela estava tentando ajudar pessoas pobres,” explicou Jefferson. “Ela estava interessada em cuidar das questões internas da cidade. Aquele comitê não tinha poder para fazer isso.”

Mas um telefonema do secretariado do Rebe – um simples “o Rebe de Lubavitch deseja ver você” – mudou sua atitude, diz David Luchins, que era um conselheiro sênior para o Senador dos Estados Unidos Daniel Patrick Moynihan (DNY) e dirige o departamento de Ciência Política da Universidade de Touro.

Segundo Luchins, há 20 anos um veterano da equipe de Moynihan que em 1983 ouviu a história em primeira mão de Chisholm em uma festa comemorando sua aposentadoria do Congresso, o Rebe – Rabino Menachem Mendel Schneerson, de abençoada memória – disse à congressista, “Eu sei que você está muito chateada.”

Chisholm, que morava a uma quadra do Rebe e havia encontrado uma vez antes, quando ela estava concorendo ao congresso e buscando apoio, disse ao Rebe: “Estou aborrecida. Estou insultada. O que eu devo fazer?”

O Rebe, que tinha deixado de endossar a candidatura de Chisholm e de seus predecessores por causa da sua política de não-envolvimento em campanhas políticas, virou a situação.

“Que bênção D'us deu a você!” o Rebe disse a Chisholm, dizendo a ela para tomar vantagem da Divina Providência que a colocara numa posição de fazer algo sobre suprimentos de comida. “Este país tem tanta comida excedente, e há tantas pessoas famintas. Você pode usar este presente que D'us lhe deu para alimentar pessoas famintas. Encontre uma maneira criativa de fazer isso.”

David Luchins (Foto: Mídia Educacional Judaica)
David Luchins (Foto: Mídia Educacional Judaica)

Encarregada com essa tarefa, Chisholm foi encontrar o Senador dos Estados Unidos Bob Dole (R-Kan) no seu primeiro dia em Washington. O político ruralista – e mais tarde Líder da Maioria no Senado e candidato à presidência – estava procurando ajuda para diminuir o problema econômico dos fazendeiros do meio oeste que estavam perdendo dinheiro em suas plantações.

“Os americanos começaram a comprar [produtos] de Cuba,” explicou Jefferson, que era um colaborador próximo de Chisholms. “Portanto como resultado das importações, os fazendeiros ficaram pobres.”

Segundo Luchins, Dole disse a Chisholm: “Nossos fazendeiros têm toda essa comida extra, não sabemos o que fazer com isso.” Chisholm pensou, “Um segundo. O Rabino!”

Durante os próximos anos, e pela duração dos anos de 1970, Chisholm trabalhou para expandir o Food Stamp Program, Programa de Vale-Refeição, que permitia aos americanos pobres comprar comida subsidiada. Finalmente, em 1973, a Lei de Defesa da Agricultura e do Consumidor ordenou que Food Stamps fosse disponibilizado em todas as jurisdições nos Estados Unidos.

Foi na criação do programa WIC, porém, que Chisholm realmente deixou sua marca. A Conferência sobre Nutrição Alimentar e Saúde da Casa Branca em 1969 recomendou que suplementos alimentares fossem direcionados para gestantes de alto risco e seus bebês. Chisholm, na Casa, e Dole no Senado, aprovaram a ideia e conseguiram que o Congresso aprovasse um projeto piloto de dois anos que seria administrado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.

A USDA, no entanto, lutou contra a medida. Finalmente foi necessário um processo federal para que o USDA cedesse, e hoje mais de 8 milhões de pessoas recebem benefícios WIC todo mês, de acordo com números fornecidos pelo governo americano.

Chisholm “foi responsável pelo programa alimentar”, disse Vernell Alburary, ex-presidente do Instituto Shirley Chisholm para Crianças. “Ela era uma pessoa forte, determinada!”

“Mas a própria Chisholm deu o maior crédito para o Rebe,” disse Luchins.

“Ela disse em sua festa de aposentadoria: ’Eu devo isso porque um rabino que é otimista me ensinou que aquilo que você pode pensar que é um desafio é um presente de D'us,’ disse Luchins numa entrevista que concedeu à Jewish Educational Media. ‘E se bebês pobres,’ eu também a ouvi dizer, ‘se bebês pobres têm leite e crianças pobres têm comida, é porque este Rabino em Crowm Heights teve visão.’”