Num dia de inverno, eu estava sentado com alguns outros alunos da yeshivá no salão de estudos no 770, quando Rabino Binyomin Klein, o secretário do Rebe, aproximou-se de nós. Ele queria saber se estávamos dispostos a entrar numa lista da qual o Rebe iria escolher emissários para enviar à Austrália.

Dois anos antes, o Rebe tinha começado a enviar grupos de meninos da yeshivá como estudantes-emissários à Yeshivá Guedolá de Melbourne. Como esses grupos ficavam fora por dois anos e a Austrália era distante, somente poderia ser um candidato aquele que estivesse em boas condições físicas de saúde, e apenas com consentimento dos pais. Meu irmão tinha feito parte daquele primeiro grupo, e pedi ao Rabino Klein para colocar meu nome também.

Durante algumas semanas, não ouvimos nada. Mas então, no meio de uma animada reunião no dia após Purim em 1969, recebi um tapinha no ombro. Era Rabino Klein, dizendo-me para ir ao escritório do Rabino Hodakov, chefe do secretariado do Rebe. Eu estava indo para a Austrália.

Deveríamos estar prontos para viajar a tempo para Pêssach. Antes de partir, o grupo inteiro – eu e mais cinco – tivemos uma audiência privada com o Rebe. Quando entramos no seu escritório, havia uma caixa de matsá sobre uma mesa ao fundo da sala. Por trás da sua escrivaninha, o Rebe se dirigiu a nós: Agora que o primeiro grupo acabou de concluir sua missão, ele começou, cabia a nós expandir o trabalho que eles tinham começado. Ele nos instruiu que cada um pegasse uma matsá inteira e dois pedaços partidos e então deu a cada um de nós trinta e seis dólares, para serem distribuídos ao fundo de caridade pré-Pêssach na Austrália.

Naquele mesmo dia, o Rebe editou uma transcrição escrita do seu discurso para nós, acrescentando notas que explicavam todo detalhe da nossa audiência. Por exemplo, a respeito do dinheiro que ele nos deu para caridade de Pêssach, ele escreveu: “Vejam o Código de Lei do Rebe Anterior, 429:6.”

O que o Rebe Anterior escreve ali? A lei é que todos os residentes da cidade são obrigados a contribuir com um fundo pré-Pêssach para quaisquer locais em necessidade. Quem é considerado um morador? Aquele que tem vivido na cidade por trinta dias.

No entanto, ele continua a escrever, isto é somente para alguém que mora ali temporariamente. Se alguém se mudar para uma cidade, o dever de contribuir com a caridade local é efetivado imediatamente.

Obviamente, o Rebe afirmava que essa lei se aplicava em nosso caso. Ele estava nos dizendo que embora estivéssemos sendo enviados para uma missão de dois anos, durante aquele tempo deveríamos nos considerar estacionados permanentemente na Austrália. Como emissário do Rebe, você não olha para o calendário para checar quanto tempo mais você ficará ali; cada segundo que você está ali é para sempre.

Esse recado editado mais tarde foi lido na despedida que a yeshivá preparou para nós naquela noite. Poucos dias depois, embarcamos para a Austrália.

Ao chegarmos lá, realmente sentimos como se tivéssemos sido cortados do restante do mundo. As comunicações naquela época não eram o que são hoje. Um telefonema para os Estados Unidos era inaudível; você ligava para uma emergência. A única maneira de sabermos sobre os farbrengens do Rebe era quando chegava uma carta pelo correio. Alguém escrevia umas poucas linhas resumindo aquilo que o Rebe tinha falado, e se fosse uma reunião num dia de semana, eles enviariam uma fita com a gravação. Quem sabe quando realmente recebemos isso.

Aquele ano marcou o vigésimo aniversário da liderança do Rebe. As pessoas vinham de toda parte para celebrar a importante ocasião na presença do Rebe, mas nós estávamos no outro lado do mundo. Enquanto isso, em Israel, umas poucas pessoas tiveram a ideia de transmitir a celebração ao vivo usando uma linha de telefone diretamente do 770. Então quando soubemos sobre o conceito de uma transmissão ao vivo, sabíamos que também tínhamos de fazer isso.

O preço era exorbitante – você tinha de pagar uma taxa premium por minuto para uma chamada telefônica para o exterior, e um farbrenguen durava horas. Tentei arrecadar fundos na comunidade local, e pedi à minha irmã para enviar-me todo o dinheiro que eu tinha recebido em meu Bar Mitsvá.

A diferença de horário agregou mais complicações. Na quinta-feira, 12 de Tamuz, houve uma reunião que começou em Nova York às 21h30, o que era apenas umas poucas horas antes do Shabat na Austrália.

Montamos a transmissão com um sistema de alto-falantes na sinagoga principal o programa de rádio com um sistema falante na principal sinagoga, e como o Shabat se aproximava, alguns dos membros australianos da comunidade começaram a lotar a sinagoga vestidos com suas roupas de Shabat com seus talits sob o braço.

Quando o farbrengen estava chegando ao fim, o Rebe começou a cantar uma canção chassídica – Ki Elokim Yoshia Tzion – com tanta energia que todos ficamos de pé e começamos a dançar. Reb Chaim Serebryanski, membro da comunida Chabad, tinha levado comida e bebidas para nosso próprio farbrengen, e logo, a sinagoga inteira estava rodando, como eles dizem, repleta de canto e dança. Os moradores mais contidos, olhavam para tudo isso, e estavam em choque total. Mas era a primeira vez que ouvíamos um farbrenguen completo na Austrália, e não podíamos conter nossa empolgação.

Então veio o próximo farbrenguen maior, cinco meses depois, em 19 de Kislev. A maneira que a transmissão funcionou foi que toda localidade se conectou ao 770 ligando para um número de telefone diferente, e se não funcionasse, havia um número de emergência. Ligamos para o nosso, e por algum motivo, não conseguimos conexão. Tentamos o número de emergência, e também não funcionou. Sabíamos que o farbrenguen já estava começando, e nada estava acontecendo.

Após cerca de uma hora, de repente conseguimos uma linha. A ligação funcionou, e assim que deu certo, o Rebe começou a falar sobre a Austrália.

Recentemente, o Rebe contou que lhe fizeram uma pergunta sobre a Yeshivá Guedolá de Melbourne. O pequeno prédio que abrigava a yeshivá tinha sido comprado por empreendedores e surgiu uma oferta para comprar um campus inteiro para a yeshivá, mas a um custo muito elevado. Não sabendo o que fazer, algumas pessoas escreveram ao Rebe perguntando se deveriam comprar ou não.

O Rebe respondeu em um farbrenguen perguntando incisivamente,: “Porque eles estão desperdiçando dinheiro fazendo perguntas em um telefonema no exterior?”, em outras palavras, “Qual é a pergunta? A resposta é simples", concluiu, "expandir".

Eles deveriam já ter se mudado do prédio menor por iniciativa própria, o Rebe disse. Mas como eles não o fizeram, Hashem tinha orquestrado eventos numa maneira que os forçara a mudar para um local novo e mais espaçoso. Então, para participar ativamente na compra do novo edifício, ele pediu para enviar uma doação para a yeshivá.

Tudo isso aconteceu no exato momento em que a transmissão começou. E quando ele concluiu, o Rebe convidou todos para dizer l’chaim – e ele destacou especialmente aqueles de nós que ouvimos da Austrália, para responder e dizer l’chaim também.