Em 1968, viajei de Israel aos Estados Unidos, para estar com o Rebe em Purim. Para visitar durante o mês de Tishrei – para Rosh Hashaná, Yom Kipur ou Sucot – era sempre muito difícil para mim, porque no início do ano eu tinha de assegurar que a escola, Semináriode Professores de Beth Rivka, abriria normalmente. Mas no meio do ano, era mais fácil para mim escapar.
Cheguei dois dias antes de Purim e Rabino Hodakov, o secretário do Rebe, deu-me essas instruções: “Vá para Mineápolis, encontre-se com Rabino Moshe Feller, o emissário Chabad de lá, e juntos vocês deveriam ir para Ames, Iowa. Você vai ler a Meguilá ali para um grupo numa casa particular. Depois disso, volte para Nova York.”
Fiz como ele sugeriu. Viajei com Rabino Feller para Ames, uma cidade pequena na região agrícola do meio oeste americano. Antes era um local atrasado, embora desde então tivesse se desenvolvido. Fomos ao endereço indicado, e ali eu li a Meguilá em hebraico, enquanto Rabino Feller a explicava em inglês.
Compareceram quarenta oo cinquenta pessoas, e interessante, entre elas havia dois casais israelenses – na verdade, dois homens israelenses com moças não judias. Um dos outros homens me disse: “Ouça, elas não são judias... mas ambas estão muito interessadas no Judaísmo.” Eu respondi: “Elas estão interessadas no Judaísmo ou em judeus?”
A maioria dos casais que compareceu era misto – um dos cônjuges não era judeu , ou duvidosamente judeu. Fiquei muito desanimado... Eu tinha viajado até lá vindo de Israel para estar com o Rebe em Purim – ouvir a Meguilá com ele e ficar próximo a ele. E em vez disso, terminei num local como esse.
No dia seguinte retornei a Nova York. Cheguei à tarde, e ainda não tinha ouvido a leitura diária da Meguilá. Fui à casa do meu irmão – ele estava morando em Williamsburg, bairro do Brooklyn – ouvi a Meguilá, comi algo e então voltei ao bairro Chabad no 770 da Eastern Parkway para participar no farbrenguen do Rebe.
Naqueles dias, então, antes do farbrenguen no dia de Purim, o Rebe tinha o costume de visitar sua sogra com alguns poucos chassidim selecionados – um pequeno grupo, somente por convite. O Rebe falava algumas poucas palavras: eles comiam um pedaço de bolo. E faziam l’chaim. E então, eles todos desciam as escadas para o farbrenguen.
O farbrenguen foi feito, e durou muitas horas. De repente, no meio, o Rebe começou a falar: “Há um judeu que se encontra a mais de três mil quilômetros daqui, com pessoas que ele não está certo se são obrigadas a ouvir a Meguilá, e ele viajou tão distante para ler para elas. Ele se sente abatido. Ele pergunta a si mesmo: “Por que eu tive de viajar para tão longe se eu poderia ter ficado aqui o tempo todo?”
O Rebe estava descrevendo exatamente os meus sentimentos!
Ele terminou com as seguintes palavras:
“É possível estar a mais de três mil quilômetros de distância fisicamente; e é possível sentar bem aqui perto de mim, e estar a mais de três mil quilômetros de distância.”
Então o Rebe me fez um sinal, e convidou-me a dizer l’chaim sobre um copo cheio de vinho. É claro que fiz, surpreso por ele ter lido meus pensamentos com tanta precisão.
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