Here’s My Story
Logo após se casarem, meus pais – Rabi Moshe e Chasha Visjdsky – foram enviados pelo Rebe Anterior para a cidade de Gorky (hoje Nizhny-Novgorod) na Rússia, para fortalecerem o Judaísmo ali. Isso foi em 1930, quando liberdades religiosas eram severamente cortadas e o regime soviético perseguia aqueles que ousassem violar seus decretos.
No entanto, o Rebe Anterior se recusou a curvar-se para o regime. Ele tinha sido preso pelas suas atividades, e após ser expulso do país, ele se instalou em Latvia, de onde ele dirigia seus ativistas na Rússia. Os ativistas – entre eles meu pai – trabalhavam sob condições difíceis para suster a vida judaica onde fosse possível; davam aulas de Torá, fundaram escolas judaicas, supriam carne casher, mantinham micvaot, etc. Todo seu trabalho tinha de ser feito às ocultas, pois o serviço secreto soviético mantinha um olho atento, e eles estavam sempre em perigo.
Após a Segunda Guerra Mundial, meus pais se mudaram para Czernowitz (hoje Chernivtsi, na Ucrânia), onde meu pai continuou seu trabalho ativista, junto com Rabi Mendel Futerfas. Mas alguns anos depois, como resultado de seu envolvimento com um grupo de judeus jovens que tentaram escapar da Rússia através da fronteira com a Romênia, eles foram ambos levados à prisão.
Meu pai foi detido por agentes da NKVD enquanto ia para a sinagoga, e lembro-me claramente deles o levando de volta para casa sob escolta, enquanto começavam a fazer uma busca na casa. Eu era uma criança na época e tudo aquilo me trouxe um terrível horror. A certa altura meu pai atirou um pedaço de papel enrolado para minha irmã mais velha para que não fosse encontrado, mas um dos agentes percebeu e tentou intervir. Apesar da situação volátil, minha irmã mostrou incrível engenhosidade – ela rapidamente colocou o papel na boca e o engoliu antes que qualquer pessoa descobrisse o que estava escrito ali.
Muito mais tarde, quando voltou da prisão, meu pai nos revelou que o papel era uma petição para uma bênção que ele tinha escrito para o Rebe Anterior, como é costume antes de Rosh Hashaná. Se a Polícia Secreta Soviética tivesse conseguido pegá-lo, eles teriam tido uma clara documentação da conexão do meu pai com o Rebe, o que o teria deixado numa situação ainda mais grave. Para ilustrar o grande perigo que uma associação com o Rebe trazia, vou mencionar que, muitos anos depois, consegui obter o arquivo de meu pai na Policia Secreta Soviética e que seus “pecados” mencionavam “afiliação com o movimento Schneersohn.”
No princípio meu pai era transferido de uma prisão para outra, e a cada vez que conseguíamos saber do seu paradeiro, minha mãe corria para levar-lhe comida, sabendo que ele não iria tocar nenhuma comida não-casher que fosse entregue a ele. A maior parte do tempo ele subsistia com pão seco, e em Pêssach certamente nem isso. Por fim, ele foi sentenciado a cinco anos de trabalho pesado, e no campo de trabalho, ele conseguiu se manter casher também, apesar do grande auto-sacrifício que isso envolvia; ele conseguiu até não trabalhar no Shabat subornando o vigia com cigarros que enviávamos a ele. Também se recusou a raspar a barba, portanto os guardas o agarraram e barbearam à força.
Finalmente, ao final de 1955, meu pai foi libertado e retornou a Czernowitz, onde retomou suas atividades judaicas. A essa altura, o Rebe Anterior tinha falecido, e meu pai conseguiu comunicar-se com o novo Rebe enviando recados codificados e resumidos endereçados ao “Avô” para as pessoas em Israel, que então as levavam para Nova York. Após alguns anos, ele usou esse método para perguntar ao Rebe se a coisa certa para ele seria deixar a União Soviética e ir para Israel com apenas sua esposa e dois filhos mais novos, e então subsequentemente buscar os filhos maiores sob os termos de unificação familiar.
Meu pai pensava que este plano tinha uma chance de dar certo pois famiias inteiras raramente tinham permissão de partir. O Rebe respondeu que meu pai deveria pedir um Visto de saída para a família inteira junta. Ele assinou a carta “Dasvedanya, Dyedushka – Vejo você logo, Avô.”
Entendemos isso imediatamente como significando que o Rebe estava nos dizendo que o pedido de saída para todos nós seria aprovado e que o veríamos em breve. Na verdade, foi isso o que aconteceu. Quando enviamos o pedido, recebemos permissão de saída para a família inteira! Verdade seja dita, não ficamos realmente chocados porque, com base na resposta do Rebe, estávamos antecipando partir.
Em 3 de dezembro de 1965, chegamos a Israel. Meu pai foi imediatamente visitar o Rebe em Nova York, e no ano seguinte, meu irmão Michael e eu fomos convidados para ser hóspedes pessoais do Rebe para as Grandes Festas e Sucot. Recebemos passagens de avião, assentos reservados perto do Rebe para preces e farbrenguens, e até fizemos aliyot à Torá. Essas aliyot eram uma fonte de renda para a sinagoga no 770, pois pessoas ricas contribuíam para receber essas homenagens, e o gabbai, Rabi Yochanan Gordon, perguntou ao Rebe quem iria pagar pelas nossas aliyot.
O Rebe respondeu: “Eu irei!” Fomos então convidados a jantar com o Rebe em Simchat Torá, o que demonstra o alto apreço que o Rebe tinha pelas famílias daqueles que, como meu pai, se sacrificaram tanto para manter o Judaísmo na Rússia.
Eu gostaria de acrescentar uma prova adicional disso com a seguinte história:
Rabi Simcha Gorodetzky – que tinha atuado lealmente como emissário do Rebe no Azerbaidjão e na Criméia, e que tinha imigrado para Israel um ano antes de nós – morava sozinho. Sua esposa tinha falecido, e seu filho Mottel, que era casado com minha irmã Dvonya, não podia deixar Tashkent: a família estava por trás da Cortina de Ferro. Essa situação causava grande angustia a Rabi Simcha, e a certa altura ele ficou muito doente e teve de ser hospitalizado. Nós íamos visitá-lo no hospital e levar comida duas vezes ao dia, e vimos o quanto ele estava abatido e deprimido.
Mas um dia, o encontramos animado. Seus olhos estavam abertos, e estava sorrindo. Quando entramos, ele exclamou com grande alegria: “Di kinder kument!” – Meus filhos estão vindo!” Perguntamos a ele como sabia disso, e ele respondeu: “O Rebe me escreveu!”
Ele tinha escrito cartas ao Rebe ali no hospital, mas não recebia uma resposta. Tinha medo do que isso poderia significar, e portanto escreveu novamente perguntando se talvez ele não fosse merecedor. E naquele dia a carta finalmente chegou. Nela, o Rebe desejava a ele uma completa e rápida recuperação, acrescentando à mão: “Estou muito surpreso por você escrever que não é merecedor… ois seus filhos e sua família receberam vistos para partir. Poderia haver uma resposta melhor que essa?”
Dois meses depois, eles chegaram a Israel. E quando Rabi Simcha mostrou-lhes a carta do Rebe, ficaram atônitos. Eles escreveram suas permissões, que chegaram dez dias depois que o Rebe disse que eles tinham recebido vistos. Naquela época as únicas pessoas que sabiam que os vistos seriam emitidos eram os funcionários do escritório de imigração soviético e o Rebe!
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