Após terminar minha passagem pelo exército israelense, que incluiu serviço durante a Guerra de Yom Kipur em 1973, cheguei a Los Angeles onde abri uma loja de roupas num local repleto de lojas do ramo – na esquina da Rua Sul de Los Angeles e o Boulevar Pico.

Em certa ocasião, um chinês fabricante de roupas me propôs uma parceria, e como era um bom negócio, concordei. Após assinarmos o contrato, ele convidou-me para ir a um restaurante chinês para celebrar, e embora eu não fosse observante de Torá, disse a ele: “Por favor, não me sirva carne de porco.” Durante o jantar, fiz l’chaim com ele sobre ume bebida que me pareceu ter um gosto estranho; também provei alguma comida com sabor estranho, e depois, me senti muito mal. Lembro-me de ter vomitado e implorar a D'us: “Por favor, por favor… Desculpe por eu ter comido aquilo.”

Este incidente me aborreceu muito mas, após algum tempo, esqueci tudo.

Vários meses depois, eu estava viajando para Israel e decidi fazer uma parada em Nova York para receber do Rebe uma bênção para casamento. Mas quando cheguei ao 770, descobri que não era tão fácil conseguir uma visita. Apesar disso, Rabi Binyomin Klein, secretário do Rebe, concordou em transmitir uma carta que eu tinha escrito.

Ora, na minha carta ao Rebe, eu não tinha mencionado o incidente no restaurante chinês, portanto fiquei chocado ao receber um telefonema do Rabi Klein dizendo que o Rebe pedira para eu vigiar o que comia! Ele também convidou-me a ir ao 770 para pegar três dólares que eu levaria para doar à caridade quando chegasse em Israel.

Entendi a mensagem do Rebe. Eu era bastante afortunado para apreender a seriedade dos eventos que tinham ocorrido, e para começar a fazer mudanças em minha vida. Esse foi realmente um ponto de virada na minha vida, quando comecei a me tornar mais observante de Torá.

Enquanto avançava em meu caminho, decidi parar de trabalhar no Shabat, o que significava que teria de fechar minha loja aos sábados. Isso foi muito difícil para mim, porque nos sábados a loja tinha maior movimento. Enquanto durante o restante da semana eu conseguisse vender algumas centenas de dólares em roupas, no sábado eu tinha a garantia de vender mais, 5.000 a 15.000 dólares. Em outras palavras, o sábado gerava noventa por cento da minha renda.

Além disso, se eu reduzisse tanto a minha renda, como poderia pagar o aluguel da loja? Eu tinha um contrato de vinte anos, que era blindado. O proprietário tinha me advertido desde o início: “Nem pense em romper esse contrato. Se tentar, vou atrás de você pelo resto da sua vida.”

A princípio, tentei encontrar alguém para assumir o contrato de aluguel, mas não consegui. Não sabia o que fazer em seguida – a única coisa que eu estava certo era que tinha de fechar a loja aos sábados. Então escrevi ao Rebe: “Não quero trabalhar no Shabat, portanto decidi fechar minha loja, e gostaria de uma bênção para que essa decisão não me prejudique.”

Alguns dias depois recebi a resposta do Rebe. Ele escreveu que era um grande mérito para mim começar a guardar o Shabat, e lembrou-me para ter certeza de começar o Shabat na hora certa, antes do por do sol. Ele também falou-me para espalhar alegremente a Torá a outros (ele sublinhou a palavra “alegremente”), e a fazer caridade. Para minha doação de caridade, o Rebe contribuiu com dezoito dólares – uma nota de dez, uma de cinco, uma de dois e uma de um.

Assim encorajado, decidi no dia seguinte ir até o proprietário e dizer a ele, não importa a sua reação, que “Sou um judeu e preciso fechar a loja – aqui está o contrato de volta.” Mas o proprietário não estava ali.

Eu tinha acabado de voltar à minha loja e um homem entrou – e para minha surpresa, anunciou: “Quero comprar este local.”

“Não sou o proprietário,” eu disse. “Você precisa falar com ele.”

“já falei com o proprietário,” ele respondeu, “e ele está pronto a vender, mas disse que você tem o aluguel. É por isso que estou aqui – para pagar você a sair.”

Concordei, e o cheque que ele preencheu tinha uma quantia muito boa. Com isso comprei uma casa e tive dinheiro suficiente para entrar na fabricação de roupas.

Em seguida, visitei o Rebe quando ele estava dando dólares no domingo, e disse a ele que um milagre tinha acontecido. Embora o Rebe não desse atenção àquilo, senti realmente que era verdade – que meu relacionamento com o Rebe trouxe uma corrente de milagres, um após o outro.

A princípio, eu tinha desejado chamar minha empresa pelo meu nome, “Roupas Esportivas Ami”, mas quando percebi que um chassid não deve aumentar o próprio ego, tive a ideia de chamar minha companhia de “Shmate”, que significa “Trapo” em iídiche. Pensei que era um nome inteligente, mas quando escrevi sobre isso ao Rebe, ele respondeu que não deveria me referir a roupas de maneira depreciativa. Ele citou o Talmud, que chama roupas de mechabdusa, (literalmente, “minha honra”), dizendo que isso é especialmente verdadeiro quando as roupas são feitas de acordo com as leis de shatnez, que proíbem misturar lã e linho.

A princípio fiquei intrigado por essa resposta, mas quando perguntei ao Rabino Leibel Groner, o secretário do Rebe, ele explicou: “O Rebe quer que você transforme trapos em roupas, não roupas em trapos.”

Foi quando pensei nos dezoito dólares que o Rebe me enviara quando quis fechar minha loja – e todas as coisas milagrosas que ocorreram desde então – e decidi, em vez disso, chamar minha empresa de “18ª Avenida.”

Dezoito é o valor numérico da palavra em hebraico chai, que significa “vida”. O significado daquela palavra me foi trazido pelo Rabi Groner, que disse: “Não vê? O Rebe vai ajudar você a trazer vida a tudo que estiver fazendo.” E aquilo certamente provou ser verdade.