Após completar meu serviço nas Forças de Defesa de Israel (FDI) , fui trabalhar como editor de notícias para Shearim, o jornal do partido político Poalei Agudat Yisrael. Durante essa época, eu estava passando por uma busca espiritual e, morando em Bnei Brak, via diferentes correntes do Judaísmo sendo praticadas ao meu redor. Visitei vários locais chassídicos, mas não tinha um senso de pertencer a nenhum deles.
Então cheguei ao Chabad. Comecei estudando o Tanya, a obra magna de Rabi Shneur Zalman de Liadi, o fundador do Movimento Chabad no Século 18. Também escrevia cartas para o Rebe e tive o privilégio de receber suas respostas pessoais.
Em 1960, encontrei o Rebe pela primeira vez quando viajei a Nova York com um grupo de israelenses que queriam passar as Grandes Festas no 770. E então um mundo totalmente novo se abriu para mim.
Minha primeira audiência privada ocorreu na minha chegada. Meu encontro estava marcado para as 2h30 da manhã, mas tive uma longa espera e somente fui admitido em seu escritório às 8 da manhã. Àquela altura, o Rebe já tinha recebido pessoas durante doze horas consecutivas sem sequer tirar um breve intervalo, nem mesmo para um café, mas ele ainda parecia totalmente alerta, e deu-me vinte minutos do seu tempo, o que achei incrível.
Como era costumeiro, entreguei ao Rebe uma nota na qual listei minhas perguntas e pedidos, mas o Rebe não se limitou somente a essas. Ele tomou-me totalmente de surpresa perguntando como estava minha barba. Dois anos antes, os pelos da minha barba começaram a cair e o problema foi resolvido por tratamento de pulso elétrico. Embora eu tivesse me correspondido com o Rebe sobre isso na época, fiquei impressionado por ele conseguir lembrar disso tanto tempo depois. Eu mesmo já tinha me esquecido daquilo!
Então o Rebe perguntou sobre meu trabalho jornalístico e expressou a expectativa de que eu iria usar meu cargo para divulgar o Judaísmo, especialmente ensinamentos chassídicos – “até que eles cheguem aos locais mais distantes,” enfatizou ele.
Eu realmente gostei da sua abordagem que era tão diferente daquelas de muitos outros no mundo religioso. Na minha opinião, muitas correntes judaicas estavam preocupadas somente com as necessidades de suas comunidades imediatas, ao passo que o Rebe não desistia de nenhum judeu, não importa o quanto estivesse distante do Judaísmo, Sua perspectiva era que não há isso de judeu “secular” ou “religioso”. “Não importa onde eles se encontram,” disse ele, “devemos ajudar a aproximá-los.”
No decorrer dos anos, tive o privilégio de visitar o Rebe muitas vezes, e uma das mais especiais foi minha viagem para Simchat Torah de 1975. Naquela ocasião, um dos outros visitantes era o juiz da Suprema Corte de Israel, Chaim Cohen, que tinha sido criado como observante da Tora, mas na época era conhecido como um frequente oponente do Judaísmo Ortodoxo.
O Rebe demonstrou a ele consideração especial, levando-o ao pódio e homenageando-o com uma hakafá, dança com a Torá. Os chassidim entregaram a ele um Rolo de Torá que era especialmente pesado, e o Rebe perguntou-lhe em Yidiche se ele estava disposto a halt´n der Torah, que´ significa “segurar a Torá” – mas também pode significar “levante a Torá”. Cohen ficou muito emocionado e respondeu “sim”. Ele dançou com a Torá e havia um jubilo indescritível presente.
Após Simchat Torá terminar, perguntei a Rabi Yudel Krinsky, um dos secretários do Rebe, se eu poderia usar seu telefone para falar com meu novo chefe em Israel do jornal Maariv, para ditar um relato do que eu tinha testemunhado. Rabi Krinsky concordou, e compus um artigo sobre o juiz Chaim Cohen dançando com a Torá.
Três dias depois fui informado que o Rebe queria falar comigo. Admito que a princípio estava temeroso. “Eu fiz algo de errado?” me perguntei. Entrei na sala do Rebe para encontrá-lo sentado com uma cópia do Maariv aberta à sua frente.
“Yasher Coach!” ele disse, congratulando-me. Então me acalmei e meus sentimentos de trepidação foram substituídos pela felicidade por ser esse o motivo pelo qual o Rebe me chamara.
Então o Rebe abriu uma gaveta em sua mesa e tirou uma garrafa de mashke (interessante, ele me disse que deveria ser chamada de mashke em vez de vodca), bem como um pacote de notas de um dólar. Ele me disse para distribuí-las às pessoas que trabalham no Jornal Maariv, para que elas pudessem fazer um l’chaim e doar os dólares ou seu equivalente para caridade. Isso parecia um gesto extraordinário e fiquei bastante emocionado.
Após deixar seu escritório, contei as notas e vi que havia quarenta e oito dólares. Mas então percebi que eu enfrentava um dilema: quem deveria receber esses dólares do Rebe? Se ele quisesse que eu os desse apenas aos repórteres, então ele tinha me dado dólares demais, mas se queria que todos os funcionários do Maariv recebessem um dólar, então ele tinha me dado poucos.
Expliquei esse dilema a Rabi Binyomin Klein, outro dos secretários do Rebe, que informou ao Rebe e voltou com outro maço de dólares dizendo-me para distribuir a todos - citando as palavras de Moshê em Devarim – “dos seus cortadores de madeira aos seus carregadores de água.” Entendi que eu deveria distribuir os dólares a toda a equipe – repórteres, escriturários, motoristas,, gerentes, etc.
Agora eu tinha mais de duzentos dólares, e o Rebe disse que eu deveria descobrir exatamente quantos empregados havia, e se eu precisasse de mais dólares, ele enviaria a quantia que estivesse faltando.
Após voltar a Israel, abordei o editor chefe, Shalom Rosenfeld, e relatei a ele o que tinha acontecido. Ocorreu que, na época, o Maariv empregava quatrocentas e trinta pessoas, incluindo aqueles trabalhando nas filiais em Yerushalaim e Tiveria.
Mas havia um problema. Durante aquele período, moedas estrangeiras eram bastante monitoradas em Israel e, segundo a lei, os cidadãos estavam proibidos de possuir quaisquer quantidade de dólares, não importava se fosse uma nota de cem ou de um dólar. O Sr, Rosenfeld sugeriu que eu escrevesse uma carta ao ministro das finanças, explicando a origem desses dólares e pedindo uma permissão especial. “Se você receber permissão,” ele prometeu, “ajudarei você com o aspecto técnico da distribuição dos dólares.”
Escrevei a carta e, dentro de dez dias, chegou uma resposta oficial do ministro, declarando: “Permissão é concedida ao Sr, Naftali kraus que trouxe dólares do Rebe Lubavitch para dar a todo funcionário do Maariv uma nota de um dólar.”
Tirei copia da carta d e permissão e pendurei-a no quadro de avisos. Em seguida vi que uma fila tinha se formado na frente do meu escritório quando todos os empregados – exceto quatro pessoas – foram ali para receber um dólar do Rebe e fazer um l’chaim. Pelo que sei, cada uma das pessoas guardou o dólar dado pelo Rebe, e doou o mesmo valor correspondente para caridade.
Nos anos seguintes, as pessoas vinham até mim para dizer como o dólar do Rebe tinha lhes dado força e coragem durante tempos difíceis. Eles valorizavam muito esses dólares e assim, os dólares do Rebe para caridade espalharam ondas positivas durante muitos anos.
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