Meu pai era descendente da dinastia chassídica Guerer da Polônia, numa linha direta do Rebe Guerer, Rabi Yisroel Rottenberg. Infelizmente, ele não pôde permanecer na Polônia com seu povo. Quando foi escalado para o exército polonês, teve de fugir – escapou para a Alemanha, onde se casou com minha mãe. Nasci na Alemanha em 1930, mas depois que os nazistas subiram ao poder – antes do início da segunda Guerra Mundial e o Holocausto – meus pais conseguiram imigrar para Israel.

Foi lá que cresci e fui educado. Logo depois que me casei, minha esposa e eu recebemos uma oferta de trabalho na área de ensino no Brasil, e no verão de 1956, nos mudamos para S. Paulo. Porém as coisas não ocorreram como estávamos esperando. Devido aos problemas que encontramos, procurei o Rebe para conselhos, e assim começou minha frequente correspondência com ele – focada principalmente em questões educacionais e desafios.

Após um ano, decidimos voltar para Israel. Na viagem de retorno, paramos em Nova York para visitar minha avó, e aproveitei essa oportunidade para encontrar o Rebe.

Durante aquela audiência, falamos sobre o Brasil e meu trabalho ali. Também confiei a ele uma ideia que eu estava amadurecendo, de ficar e ensinar em Nova York por algum tempo.

Inicialmente, o Rebe discordou, “Há uma falta de professores aqui? No Brasil eles precisam mais de professores que em Nova York.” Mas quando expliquei que eu já tinha encontrado alguém para assumir meu cargo no Brasil, o Rebe não insistiu mais.

Então ficamos em Nova York por dois anos (1957-1958), e durante esse tempo lecionei na Yeshivá Ohel Moshe no Brooklyn. Ao final de cada ano escolar, eu levava minha classe para uma audiência com o Rebe, e ele fazia uma breve palestra aos meninos. Em geral, durante aqueles dois anos eu fui privilegiado de ter uma conexão próxima com o Rebe, e gostaria de partilhar uma anedota que guardo na memória.

Um dia, recebi uma carta do meu irmão em Israel de que meu pai tinha sofrido um ataque cardíaco e que sua condição era crítica. Embora atualmente seja difícil entender isso, voltando àquela época as ligações telefônicas transcontinentais eram raras por causa do alto preço, portanto o meio de comunicação mais comum era por carta, que levava cerca de uma semana para chegar aos Estados Unidos vinda de Israel.

Fiz o cálculo de que a carta, que chegou na quinta-feira, provavelmente tinha sido enviada no domingo, o que significava que se passara uma semana desde o incidente, e fiquei muito preocupado sobre o que poderia ter acontecido desde então.

Portanto imediatamente, corri para escrever uma nota ao Rebe, declarando aquilo que meu irmão tinha escrito, que a situação do meu pai era grave e concluindo: “Nem mesmo sei o que pensar a essa altura…”

A resposta chegou logo. O Rebe destacou minhas palavras: “Nem mesmo sei o que aconteceu a essa altura…” e ele escreveu na margem: “Chocante!!!” com três pontos de exclamação.

Aqueles pontos de exclamação transmitiram a força de suas emoções – “Chocante!”

Por baixo, ele escreveu em yidiche: “A instrução de nossos Rebes é bem conhecida: ‘Tracht gut vet zein gut – Pense bem e será bom. Espero boas notícias.”

No momento em que recebi essa resposta do Rebe, logo me acalmei – eu sabia que meu pai ainda estava vivo. Continuei a rezar e a recitar Salmos, e após dois dias, tive a coragem de telefonar para a casa dos meus pais.

Quando minha mãe pegou o telefone, perguntei: “Como está papai?”

“Ele está fora de perigo,” ela respondeu. “Na quinta-feira à noite sua condição se estabilizou.”

Fiquei muito aliviado ao ouvir aquilo e quis informar as boas notícias ao Rebe. Então fui até o bairro de Chabad para as preces da tarde, ficando onde o Rebe pudesse me ver assim que ele entrasse.

“Você tem boas notícias para mim?” ele perguntou.
“Sim,” respondi. “Meu pai está fora de perigo… Acabo de falar com minha mãe em Israel.”
“Quando a condição dele melhorou?” o Rebe perguntou.
“Na quinta-feira à noite.”
“E quando você começou a pensar no bem?” ele disse.
“Quando o Rebe me falou isso.”
“Quando foi?”
“Na quinta-feira à noite.”

Você entende o que o Rebe estava me falando? Estava dizendo que Eu sou aquele que o salvou! Mudar meu modo de pensar teve um verdadeiro impacto na recuperação de meu pai! (Ao mesmo tempo, penso que em sua humildade ele queria desviar a atenção do fato de que naquela mesma quinta-feira do encontro onde ele me disse “pense no bem”, o Rebe tinha dado ao meu pai também sua bênção!!!)

“Que coisas como essa nunca aconteçam novamente,” o Rebe declarou, acrescentando: “mas você deve se lembrar de sempre pensar no bem.”