Quando abri um consultório em Crown Heights em 1983, comecei a aprender sobre minha religião. Fui criado num lar secular, portanto inicialmente me sentia um pouco chocado à medida que aprendia que os feriados judaicos não consistem apenas de Rosh Hashaná, Yom Kipur e Pêssach, e à medida que meus pacientes começaram a me oferecer ajuda para colocar tefilin (eu o fiz, embora foram precisos alguns anos para aprender a recitar o Shemá com compreensão sobre aquilo que eu estava dizendo.)
Após eu me tornar um pouco mais informado, recebi um telefonema pedindo-me para fazer uma visita à casa da Sra. Schneerson. Marquei uma consulta, mas então fiquei ocupado e me esqueci de ir. Eram cerca de 8h30 da noite quando o telefone tocou e a pessoa me perguntou o que tinha acontecido. Foi quando me lembrei da consulta e me desculpei muito, oferecendo-me para ir imediatamente, o que fiz.
Quando cheguei ao endereço que ela havia me dado – President Street, 1304 – fui recebido por um grande cão que protegia o quintal, portanto percebi que essa senhora deveria ser bastante afluente. Mas quando entrei na casa, achei-a bem simples – considerando o cão de guarda lá fora. Eu tinha esperado entrar numa mansão.
Conheci a simpática senhora idosa que tinha me chamado – essa Sra. Schneerson – ouvi sua história médica e a tratei. Ela tinha cerca de 85 anos, mas conservava um aspecto majestoso. Ao mesmo tempo, era bastante calorosa e gentil. Lembro que ela também me serviu bolo e chá, e então saí.
Na manhã seguinte no consultório, recebi muitos telefonemas. Alguns dos meus outros pacientes religiosos de alguma forma tinham sido informados sobre minha visita – talvez eu tenha sido visto enquanto entrava na casa – e ficaram muito empolgados porque eu tinha tratado a Sra. Schneerson. Eu não sabia exatamente o porquê daquilo tudo, até que minha secretária explicou-me que eu tinha tratado a Rebetsin Schneerson, a esposa do Rebe de Lubavitch.
Quando aquilo não me impressionou, ela explicou-me quem era o Rebe, e sugeriu que eu fosse vê-lo num domingo quando ele entregava dólares para caridade. Eu disse: “Não preciso desse dólar; eu ganho meu sustento.” Ela riu e disse: “Não tem nada a ver com dinheiro. Receber um dólar do Rebe é algo espiritual e elevado. Você deveria pensar a respeito.”
Eu disse: “Não preciso desse dólar; eu ganho meu sustento.” Ela riu e disse: “Não tem nada a ver com dinheiro. Receber um dólar do Rebe é algo espiritual e elevado. Você deveria pensar a respeito.”“OK, vou pensar,” disse eu a ela, mas na verdade, simplesmente me esqueci. Passaram-se dois meses até que recebi um chamado para visitar novamente a Sra. Schneerson, e pedi desculpas a ela por não saber que era a Rebetsin. “Se eu soubesse quem a senhora é, teria colocado um yarmulke,” disse.
“Tudo bem,” disse ela, “você deveria colocar um yarmulke para você, não para mim.” Eu disse: “Tudo bem… talvez algum dia.”
Ela novamente serviu-me bolo e chá depois que a tratei, e tivemos uma conversa bastante agradável.
Depois disso, eu a via a cada dois meses, e nos tornamos amigos – na verdade, tanto que algumas das nossas conversas sobre bolo e chá começaram a abordar temas pessoais. Certa vez ela perguntou se eu era casado. Respondi que não era, mas queria ser e estava namorando alguém.
“Você está encontrando moças judias simpáticas?” ela perguntou.
“Não,” respondi, “não aguento elas.” E eu realmente queria dizer aquilo porque as mulheres judias que eu encontrava não me agradavam. Preferia me encontrar com mulheres não judias.
A expressão em seus olhos dizia que ela estava desapontada pela minha resposta, mas sorriu e disse: “Entendo. Obviamente, você deveria se casar um dia, mas aproveite o seu tempo, aproveite o seu tempo…” E então ela fez uma pausa e acrescentou: “Prometa-me que quando fizer isso, vai se casar com uma simpática moça judia.”
“Se tiver de ser, vai ser,” respondi sem me comprometer.
“Não se preocupe,” ela disse, “tudo dará certo; tudo dará certo.”
E pelo que as pessoas me dizem aquela deve ter sido uma bênção para o meu futuro.
Em outra ocasião, cometi uma gafe. Descobri que ela nunca tivera nenhum filho e aquilo me chocou porque, como eu sabia, toda família em Crown Heights tinha dez filhos. E deixei escapar: “Sra. Schneerson, eu soube que a senhora não tem filhos, e isso me fez sentir mal. A senhora é uma pessoa muito calorosa, muito boa, deveria ter sido uma excelente mãe, e sinto muito porque não foi abençoada com uma família.”
Ela olhou-me como se estivesse surpresa pela minha declaração, mas respondeu: “Todas as pessoas dessa comunidade são nossos filhos. Somos responsáveis por muitas pessoas.”
Eu disse: “Provavelmente está certa – ocupados como a senhora e seu marido são com o trabalho na comunidade, isso é provavelmente como deveria ser. Mas ainda sinto muito porque a senhora deveria ter sido uma mãe maravilhosa.”
“Obrigada,” disse ela, e encerramos o assunto.
Sempre que me lembro dessa conversa meus olhos se enchem de lágrimas – ela teria sido uma mãe excelente. Mas de alguma maneira, acho que ela realmente foi uma excelente mãe para tantas pessoas.
No decorrer do tempo, comecei a sentir que ela realmente se importava comigo. Certa vez me disse: “Sempre que precisar de ajuda, doutor, eu o ajudarei.” E ela o fez.
Então chegou uma época em que o pai de um amigo meu estava gravemente enfermo, e fui procurado para saber se eu poderia obter a bênção do Rebe pela sua cura. Naturalmente, chamei a Rebetsin e ela prometeu falar com o Rebe, dizendo-me: “Tudo vai dar certo.” E assim foi – o pai se recuperou.
Quando liguei para relatar isso à Rebetsin e agradecer a ela e ao Rebe, ela disse: “Falei para você que tudo ficaria bem.”
Foi um momento muito especial porque senti que ela tinha saído de seu caminho para me ajudar. Aquela foi a única vez em que lhe pedi ajuda enquanto ela estava viva.
Então, dez anos após o seu falecimento, ela me ajudou novamente. Isso foi depois que eu fui para Israel e decidi me tornar religioso. Quando cheguei ao Aeroporto Ben Gurion, beijei o chão e prometi nunca mais trabalhar no Shabat novamente. E então, quando voltei para casa, me comprometi a finalmente me casar. Eu tinha quarenta e dois anos.
Eu havia visitado Ohel do Rebe e rezei ali para encontrar a mulher certa, mas embora eu conhecesse muitas mulheres elas não eram pessoas certas para mim. E comecei a me sentir muito frustrado. Mas um dia em janeiro de 1999, ocorreu-me que eu precisava da ajuda da minha boa amiga que me prometera que estaria ali sempre que eu precisasse de ajuda. Então fui ao cemitério novamente, dessa vez ao túmulo dela, e disse: “Sra. Schneerson, preciso me casar – quero finalmente me estabelecer.”
E dois meses depois isso aconteceu. Não foi fácil pois, após eu conhecer uma jovem chamada Lea, precisei de intervenção divina para conseguir seu número de telefone e sair num encontro com ela. Mas quando nos sentamos e conversamos, ficou claro que era ela. Após alguns meses, eu disse: “Acho que nos damos muito bem; deveríamos casar.” E ela disse: “Sim, deveríamos.”
E então eu disse a ela que isso tinha de ter sido orquestrado somente por uma pessoa – uma pessoa com quem eu me sentia próximo. Olhei para o alto e disse: “Obrigado mais uma vez, Sra. Schneerson.”
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