Em 1989, meu amigo Marvin Ashendorf, que na época estava encarregado do Centro Judaico Hillcrest no Queens, Nova York, perguntou-me se eu já ouvira falar de uma organização chamada Amigos Americanos de Shamir.

Eu não tinha, e então ele me falou a respeito. Shamir era uma editora que imprimia livros religiosos judaicos que eram então contrabandeados para a União Soviética, onde os judeus tinham sido proibidos de praticar a religião desde a Revolução Russa. Shamir estava sendo o anfitrião no quinto jantar anual para levantamento de fundos e Marvin pediu-me para considerar em ser o “Homem do Ano”, que seria um veículo para eles angariarem dinheiro através de meus amigos e conhecidos.

Respondi que não podia lhe dar uma resposta porque não sabia nada sobre Shamir. Mas decidi investigar. Na época, um imigrante russo chamado Michal Meshchaninov estava trabalhando para minha empresa de ar condicionado, portanto perguntei a ele: “Você já ouviu falar de Shamir?” Ele respondeu com um sorriso que literalmente ia de orelha a orelha. “Claro. É por isso que estou aqui.” Ele também contou-me que Shamir era uma empresa editora estabelecida pelo Rebe de Chabad-Lubavitch.

Na época eu não sabia nada sobre o Rebe porque fui educado com pouca conexão com o Judaísmo. Eu era aquilo que Ronald Lauder, o presidente do Congresso Judaico Mundial, chamava de “judeu três dias por ano” – ou seja, um judeu que ia à sinagoga nos dois dias de Rosh Hashaná e em Yom KIpur. Além disso, eu tinha pouco a ver com qualquer coisa judaica. Mas ao ouvir a reação de Michal, concordei em tornar-me o “Homem do Ano” para Shamir.

Antes do jantar, fui apresentado ao Rabi Yisroel Duchman, um devoto chassid que sugeriu que eu conhecesse o Rebe, e ele marcou uma audiência. Cheguei no horário marcado – na manhã de domingo, quando o Rebe estava entregando dólares para caridade – junto com minha esposa e minha filha mais nova que na época estava grávida do seu primeiro filho.

Quando entramos na Sede do Chabad, a primeira coisa que Rabi Duchman me disse foi: “Dennis, você colocou tefilin hoje?”

Eu disse: “não.” Ele então perguntou: “Quando foi a última  vez que você colocou tefilin?”

“No meu Bar Mitsvá”, respondi.

Sua reação foi inequívoca: “Não podemos entrar para ver o Rebe assim. Primeiro, vamos entrar na sinagoga e colocar tefilin.”

Foi o que fizemos. Então fomos encontrar o Rebe, que deu muitas bênçãos para minha filha para um parto fácil e saudável e disse: “Será um precursor de muitos filhos que virão depois.” Ele também abençoou minha esposa e eu, e aquela foi a experiência mais incrível que já tivemos.

Olhar nos olhos desse homem sagrado era algo que não consigo descrever com palavras. Estando na sua presença, eu tinha uma sensação simplesmente indescritível. Ele olhou para mim e através de mim, e me senti num plano totalmente diferente.

Antes de sairmos, Rabi Duchman mencionou que eu tinha acabado de colocar tefilin pela primeira vez desde o meu bar mitsvá. O Rebe respondeu: “Muito bem! Que você continue a colocar tefilin todos os dias… toda semana.” E então perguntou a Rabi Duchman: “Ele tem um par de tefilin?” Quando foi informado que eu não tinha, ele disse: “Dê a ele um par como presente em meu nome, mas entregue a conta para mim – não para ele – e não pague você mesmo.”

Desde então, eu tenho colocado tefilin todo dia. E tenho ido à sinagoga todo Shabat. Quase nunca perco um serviço. Por causa do Rebe, não sou mais um “judeu três dias”. Ele me trouxe de volta. Tenho de confessar que houve um ponto em minha vida quando eu nem sequer acreditava em D'us. Fui um estudante de Engenharia Mecânica na universidade e como tal, tudo era para mim uma ciência exata. Assim, como religião não era uma ciência exata, eu não acreditava. Eu não era um ateu; era provavelmente um agnóstico. Mas, por causa do Rebe, voltei, e amo ser judeu, e amo minha vida. Fui realmente abençoado, e sou muito grato.

Após o encontro, Rabi Duchman disse que estava impressionado porque nunca tinha ouvido nada como isso antes. Ele tinha dito ao Rebe: “Eu gostaria de ser seu parceiro no tefilin,” mas o Rebe disse: “Não… você pode ajudar com uma parceria diferente.”

Fomos então à loja de produtos religiosos, e compramos o tefilin. Depois, Rabi Duchman apresentou a conta para o Rebe e o Rebe pagou.

Infelizmente, aquela foi a última  vez que vi Rabi Duchman, pois logo depois ele sofreu um derrame e faleceu. Quando fui fazer uma visita de shivá em sua casa, todos estavam falando sobre o tefilin que ganhei do Rebe, e algumas pessoas pediram para comprá-lo, e, é claro, eu disse: “Jamais serão vendidos – são meus para sempre.” E outros pediram para ir à minha casa colocá-los. Concordei, e algumas pessoas vieram.

Tenho colocado aqueles tefilin desde aquele dia, e os levo comigo onde quer que eu vá – e tenho viajado muito através do mundo. Os tefilin do Rebe estão sempre comigo; eu os aprecio. Quando os coloco, sinto que tenho um relacionamento especial com D'us.

Mais uma coisa – naquele encontro, o Rebe me deu um dólar para repassar à caridade. Mas, como a maioria das pessoas, guardei aquele dólar – agora mesmo está em minha carteira. Porém, embora o tenha guardado, tenho dado muito outros – isso me tornou bastante filantrópico. Tenho grande prazer em ajudar os necessitados, porque sei que é isso que D'us espera de mim como judeu.

Isso é o que o Rebe fez por mim. É assim que o Rebe, num encontro que durou apenas alguns minutos, mudou minha vida.