No início dos anos de 1980, cheguei ao Brooklyn para celebrar os últimos dias de Sucot com o Rebe. Era manhã de Hoshana Rabah, o último dos “dias intermediários” da festa. Naquela manhã o Rebe estava entregando o tradicional lekach (bolo de mel) em sua sucá, e as pessoas estavam na fila para receber um pedaço de bolo e partilhar um breve momento com o Rebe.

À minha frente na fila estava um jovem, vestido em estilo hippie com calças jeans e um cabelo todo despenteado. Atrás de mim estava um chassid Satmar distinto, um rosh yeshivá da yeshivá Satmar de Williamsburg.

Quando o sujeito desarrumado se aproximou, o Rebe perguntou a ele: “Onde você estará esta noite para as hacafot?” referindo-se às tradicionais danças com a Torá.

O homem respondeu: “Não tenho planos de ir a qualquer hakafot esta noite nem em qualquer outra.”

“Seria minha honra e privilégio,” respondeu o Rebe, “se você viesse às hacafot esta noite comigo na sinagoga.”

O homem agradeceu ao Rebe pelo convite, mas não se comprometeu. “Vou pensar”, disse ele, e se afastou.

Eu era o próximo da fila. Recebi o lekech do Rebe sem incidentes. Logo atrás de mim estava o chassid de Satmar. Quando ele se aproximou do Rebe, voltei-me, e ouvi quando o Rebe se dirigiu a ele: “Vejo que você está se perguntando por que estou insistindo com esse homem para vir às hacafot esta noite. Que conexão eu tenho com ele?

“A resposta está claramente articulada no livro Tehilá L’Moshê.”
O Rebe fez uma pausa e acrescentou: “Você sabe a que estou aludindo em Tehilá L’Moshê?”

O chassid disse que não sabia. O Rebe sorriu. “Foi escrita por um dos seus rebes!”

O chassid, obviamente mistificado, somente pôde permanecer ali. Encolheu seus ombros, intrigado. E então o Rebe partilhou o ensinamento mais a fundo. Tentei ouvir e entender, e mais tarde anotei o melhor que pude.

Primeiro, uma breve introdução: o livro Tehilá L’Moshê foi escrito por Rabi Moshê Teitelbaum, também conhecido como o Yismach Moshê, que viveu no início dos anos 1800. Aluno do Chozê de Lublin, ele atuou como rabino de Przemysl e mais tarde como o rebe de Ujhely, na Hungria. Seus descendentes tornaram-se os grandes líderes chassídicos das comunidades de Sighet e Satmar. Esse ensinamento que o Rebe partilhou vem de seu comentário sobre os Salmos, Tehilá L’Moshê.

Aqui está o que ouvi o Rebe dizendo ao rosh yeshivá Satmar, de pé na porta de sua sucá:

“O Yimasch Moshê escreve uma maravilhosa história com grandes detalhes. Reb Itzikel de Drohovitch - ele foi o pai de Rabi Michel de Zlotchov, o famoso discípulo do Baal Shem Tov e do Maguid de Mezeritch - certa vez encontrou Rashi nos céus.” Rashi é o famoso comentarista da Torá.

“Rashi perguntou a Reb Itzikel: ‘Por que há tamanha comoção nas alturas sobre a grandeza de seu filho?’ Como Reb Michel mereceu tamanho louvor?”

Reb Itzikel respondeu que seu filho estuda Torá apenas em nome do Céu. “Mas não há muitos que fazem o mesmo?’ respondeu Rashi, insatisfeito. “Meu filho jejua e priva seu corpo dos prazeres mundanos, respondeu Reb Itzikel.

“Mas não há muitos que fazem o mesmo?’

“Meu filho doa enormes somas de dinheiro aos pobres,“ respondeu Reb Itzikel. Mas Rashi ainda não estava satisfeito. ”Não há muitos que fazem o mesmo?“ perguntou ele.

Finalmente, Reb Itzikel disse: “Meu filho tem feito muitos baalei teshuvá em todo o mundo, ele fez muitos retornarem do caminho do pecado para seu Pai Celestial.”

Quando Rashi escutou essa resposta, finalmente ficou satisfeito. Entendeu claramente por que os anjos celestiais ficam tão empolgados com a grandeza de Reb Michel.”

Durante todo o tempo em que o Rebe estava falando - deve ter demorado alguns minutos - o chassid Satmar ouviu com grande respeito. Quando ele terminou, o chassid agradeceu ao Rebe e disse suavemente: “Ich hob git farshtanen. Entendi muito bem.”

Quando o chassid começou a se afastar, o Rebe sorriu e disse: “Tenha um bom Yom Tov.”

Há um pequeno pós-escrito para esta história. Depois que as hacafot no 770 terminaram e o Rebe saiu da sinagoga, muitos dos chassidim mais dedicados ficaram até a manhã seguinte, dançando, cantando e celebrando a alegre festa. De manhã cedo, entre os que dançavam, de repente eu vi o jovem a quem o Rebe tinha convidado pessoalmente na tarde anterior. Acho que ele, afinal, não resistiu ao convite.