Pela graça de D’us,
Rosh Chôdesh Menachem-Av, 5733, New York

Saudações e bênçãos

Sem ter notícias suas por algum tempo – embora tenha recebido recomendações indiretas por amigos mútuos – fiquei contente ao ver chegar sua carta de 25 de julho. Apressei-me a respondê-la, por causa da importância óbvia do assunto em questão, que está relacionado ao problema de como podemos distribuir fundos melhor e mais efetivamente de sua Fundação para uma verdadeira educação judaica, e você me pede conselhos e orientação sobre o assunto.

Permita-me, portanto, apontar alguns problemas que têm empanado tais objetivos altamente louváveis por parte de fundações similares. Pois evitar esses problemas é o primeiro passo para atender estas necessidades.

Tem ocorrido com freqüência, infelizmente, em várias áreas da filantropia, que, antes que a verdadeira distribuição de fundos tenha início, uma pesquisa preliminar e completa ou um programa de estudo seja iniciado. Ao passo que esta abordagem é geralmente motivada por um desejo de distribuir fundos de maneira mais eficaz, e possa ser teoricamente recomendável, o resultado na maioria das vezes tem sido retardar a distribuição de fundos que são necessários com urgência, além do fato que fundos substanciais têm dessa maneira sido desviados de seu objetivo mais importante. No nosso tempo, considerando o estado de emergência no que tange à educação de Torá, a demora é ainda mais deplorável que o desvio de verbas.

Um outro ponto, também mencionado em sua carta, é a política vigente em fundações de não tocar o capital em tempo algum, mas de utilizar apenas a receita. Esta política também pode ser recomendável em tempos normais, mas épocas de emergência como ocorrem agora clamam por uma política mais flexível. Obviamente, não importa quão substancial a receita possa ser, é apenas uma fração da reserva real; e se o caso é de salvar vidas, algumas das reservas deveriam também ser trazidas à baila.

Repito, as diretrizes acima mencionadas, com as quais concordo, são inquestionavelmente sérias e bem-intencionadas. Porém são razoáveis apenas em tempos normais. A realidade, entretanto, é que vivemos em tempos anormais, e a estranheza da situação tem duas facetas, uma negativa e outra positiva.

Pelo lado negativo, para nossa profunda consternação, vemos como um enorme e crescente segmento da juventude judaica está totalmente confuso e alienado, a tal ponto que está sendo considerado em alguns quadrantes como uma causa perdida, D’us não o permita. Tal consideração é, com certeza, bem diferente do ponto de vista da Torá, inequivocamente expressa por nossos sábios da Mishná: “Todos os judeus têm seu quinhão no Mundo Vindouro, como está escrito, ‘mas todo nosso povo é íntegro… o trabalho de Minhas mãos.’” Em outras palavras, o destino eterno de todo judeu está assegurado pelo próprio D’us , independente da situação em que o indivíduo possa estar.

Felizmente, como a Divina Providência é evidente em tudo, também é visível o fato de que o lado negativo da situação é compensado pelo seu lado positivo. Hoje é, mais que nunca maior, mais honesto e ansioso o desejo de nossa juventude de buscar a verdade, desejo igualado pela determinação e prontidão para aceitar o desafio e reordenar a vida diária de acordo – enquanto eles estiverem convencidos de que encontraram a verdade.

A combinação dos dois fatores expostos, o negativo e o positivo, torna ainda mais urgente prestar a necessária ajuda imediatamente, sem demora e na medida máxima. Há numerosos casos que estão no limite, onde é uma questão de resolver ou deixar ir, onde cada minuto é essencial: toque-os – e os salvará; deixe-os ir – e eles ficarão fora de alcance. Pois as forças que os puxam na direção errada são numerosas e tremendas; forças que “chamam escuridão à luz, e amargo ao doce,” e assim muitos dos nossos meninos e meninas são constantemente expostos a elas com a máxima vulnerabilidade e as mínimas defesas.

Este parece ser um longo prefácio para minha resposta à sua carta, mas não tão longo considerando a importância do assunto. Se você tem em mente algum tipo de agência ou programa envolvendo um contingente com funções coordenativas – então já manifestei meu ponto de vista sobre isso anteriormente. Espero, porém, que considere, ao contrário, começar logo com distribuição de verbas a reais instituições de Torá com organizações com enfoque em Chinuch, que atendam às qualificações que você demonstrou. Gostaria de sugerir, além disso, que nos próximos anos, a qualquer custo, alguns fundos tirados do capital aumentem a distribuição da renda.

Se a última parte da sugestão ainda sugere alguma hesitação, deixe-me suavizar tal desconfiança pela frequentemente repetida afirmação de nossos sábios de que tsedacá é análoga a um poço, que se enche por si mesmo. Extrair água deste poço não diminui o suprimento, enquanto que privar-se da quantidade necessária não o aumenta. Ainda mais clara é a analogia do uso da mente, especialmente a respeito de sabedoria e conhecimento de Torá. Os mestres que ensinam Torá, por mais exigentes que sejam os alunos e por mais que ensinem, mais aprendem e mais aprofundam seu próprio conhecimento. Não há necessidade de explicar isso a você.

Confio em que aceitará minhas sugestões mesmo se, à primeira vista, não aparentem ser comerciais. Pelo que tenho sabido a seu respeito, está mais preocupado com pessoas e valores que com negócios, e é disso que estamos tratando aqui – pessoas vivas e os eternos valores da Torá Chaim e Torá Emes, os quais podem ser aproximados, a fim de que sejam salvos para as futuras gerações.

Que D’us o guie para tomar a decisão correta, e Zechus Horabim estará com você para agir da melhor maneira, e para dar um brilhante exemplo a outros, bem como a seguir avante com suas responsabilidades – com total encorajamento e cooperação de sua esposa – em boa saúde e com alegria no coração.

Com estima e bênçãos,