O Báal Shem Tov, que fundou o movimento chassídico no Século Dezoito, com freqüência falava sobre a importância de aumentar o próprio serviço a D’us extraindo lições de tudo aquilo que se vê, ouve ou vivencia.

Ao ver um evento ou fenômeno, é nosso dever investir alguma reflexão para entender a mensagem que D’us está transmitindo ao nos expor àquela experiência. Por exemplo, o renomado mestre chassídico Rabi Zusia de Anipoli extraiu várias lições do duvidoso modus operandi de um ladrão. Entre elas: ele trabalha quietamente, sem que outros saibam, está pronto a colocar-se em perigo, e até o menor detalhe tem grande importância para ele.

Vamos usar a psicoterapia como o caso em questão.

Neste mundo imperfeito e altamente estressante que habitamos, muitas pessoas sofrem de vários problemas emocionais e psicológicos. Em números cada vez maiores, indivíduos que seriam perfeitamente normais e sãos têm de lidar com estresse, depressão, ansiedade, trauma psicológico, vícios, sofrimento, desarmonia conjugal, e uma infinidade de outros problemas.

Os Sábios do Talmud declaram: “Uma pessoa agrilhoada não consegue se libertar.” E nem todos podem libertar um prisioneiro; somente alguém que tenha a chave consegue fazer o trabalho. Isto também se aplica a indivíduos que estão emocionalmente acorrentados; em muitos exemplos, é necessária ajuda externa para libertá-los das desordens que lhes afligem a alma. E aqui, também, a pessoa comum não consegue entrar no estado de espírito do indivíduo emocionalmente perturbado, muito menos tirá-lo de suas trevas. É preciso um terapeuta treinado que tenha estudado o funcionamento da mente, suas idiossincrasias, e a maneira pela qual ela reage a diferentes situações, para relacionar-se com este indivíduo e ajudá-lo a recuperar seu estado saudável.

Mais ou menos na metade do Século Vinte, firmou-se uma nova tendência em psicoterapia. Algumas pessoas que sofrem de problemas semelhantes se reúnem, e sob a orientação de um profissional treinado discutem seus temores e sintomas, partilhando idéias sobre como enfrentar seus problemas.

Há muitos benefícios neste método de terapia. Uma das vantagens fundamentais do grupo de terapia é sua capacidade de infundir nos participantes um senso de esperança e otimismo. Aqueles presentes vêem que não estão sozinhos em sua luta, o que em si já é uma fonte de consolo. Os membros da sessão de terapia também servem como grupo de apoio, encorajando um ao outro a ser forte e tomar as medidas necessárias para se curar. Além disso, os sentimentos, idéias e técnicas originais de enfrentamento compartilhadas pelos participantes não são tiradas do texto estéril de um livro, mas são experiências da vida real; ficam mais fáceis de entender que as palavras clínicas de um profissional.

Vamos agora tentar aplicar isto ao nosso serviço a D’us – a comparação quase surge por si mesma…

Todos nós somos afligidos por uma Desordem da Múltipla Personalidade espiritual. Por um lado, desejamos servir a D’us e levar uma vida espiritual, significativa. Por outro lado, temos um yetser hará (má inclinação) que fica continuamente nos bombardeando com pensamentos, tentações e desejos que são decididamente não-espirituais e contrários àquilo que D’us deseja de nós, E este conflito não é algo temporário, nem sequer curável. É uma batalha para a vida toda. Nosso sucesso se mede quando vencemos batalhas individuais, não a guerra, que jamais termina.

Alguns conseguem vencer, outros não. Alguns parecem encontrar força para vencer as batalhas, ao passo que outros ficam fatigados e estressados pelo preço que a batalha cobra em termos de energia e força de vontade. Por este motivo, mentores espirituais profissionais sempre têm sido a chave para a sobrevivência e crescimento espiritual individual.

Mas e quanto à terapia em grupo? Este método pode ser aplicado com sucesso também em desordens espirituais?

A resposta, simplificada, é que a terapia espiritual em grupo tem sido uma prática padrão de judeus chassídicos, em particular os chassidim de Chabad, há mais de dois séculos. Estas sessões também são conhecidas como farbrenguens, ou em hebraico, hitvaduyot. “A pessoa deve ajudar seu próximo, e ao seu irmão deve dizer: ‘Fortalece-te’” – Yeshayáhu 41:6.

Os farbrenguens são geralmente organizados em datas especiais do calendário, aniversários e no Shabat precedendo o início de um novo mês judaico (Shabat Mevarechim). Normalmente liderado e mediado por um rabino ou mentor chassídico, o farbrenguen oferece aos seus participantes a oportunidade de expressar preocupações de sua alma. Os presentes compartilham idéias inspiradoras e práticas, além de histórias que fortalecem o espírito e rejuvenesce o compromisso dos participantes com ideais mais elevados.

São entoadas melodias e canções chassídicas. O grupo reunido assim se aquece, e escapa da inibição natural contra abrir a alma para outros. Os resultados são surpreendentes. Perguntei aos chassidim que suportaram décadas de perseguição soviética qual o segredo de sua firme resolução. A resposta provavelmente será os farbrenguens clandestinos que até nas mais escuras das noites espirituais, e apesar do risco mortal envolvido, os chassidim se recusaram a desistir.

Talvez, a lição que aprendemos às vezes com uma determinada experiência seja aquela de que nem sempre precisamos procurar muito longe a resposta aos nossos problemas e dificuldades. As respostas muitas vezes são encontradas na Torá, e na sagrada tradição judaica.