Uma adolescente conta como sua família desesperada
voltou para casa em Israel
7 de setembro, 2022
Cerca de duas semanas atrás, em 24 de agosto, minha mãe, meu irmão e minha irmã mais novos e eu estávamos voando de Nova York para Israel e fizemos uma escala de várias horas em Madri, Espanha. Nosso plano era fazer um passeio agradável pela cidade e parar em uma pizzaria casher para almoçar – uma excursão emocionante para uma jovem de 17 anos como eu!
Aterrissamos em segurança por volta das 8h e pegamos um táxi para a cidade. O motorista não falava uma palavra em inglês, então demos a ele o endereço da pizzaria, mas quando chegamos, descobrimos que ela só abria ao meio-dia. Então decidimos pegar um ônibus de turismo e depois voltar para o almoço. Bem perto da pizzaria, vimos um judeu, um chassid Chabad, voltando de shacharit, preces matinais.
Nós fizemos algumas perguntas a ele sobre a região em que estávamos e ele nos forneceu direções. Caminhamos por um tempo e decidimos parar em um Starbucks para tomar uma bebida e usar o banheiro.
Minha mãe pagou meu café, colocou a bolsa ao lado de minha irmã e de mim e pediu licença para ir ao banheiro. Ao voltar, ela perguntou: “Avital, onde está minha bolsa?” Eu, é claro, não estava preocupada; eu tinha certeza que ela tinha deixado no banheiro ou algo assim. Cresci em um país onde confiamos muito nas pessoas ao nosso redor, e a ideia de alguém pegar a bolsa nem passou pela minha cabeça.
Minha mãe olhou em volta novamente em busca da bolsa e foi quando ela ficou em pânico. “Alguém roubou minha bolsa! Alguém roubou minha bolsa!” minha mãe começou a gritar. A razão pela qual minha mãe estava apavorada era que todos os seus itens valiosos estavam nela. Oito passaportes (israelense e americanos); duas carteiras com os cartões de crédito da minha mãe, dinheiro, identidades israelenses e americanas, carteira de motorista e nossas passagens de avião; dois iPhones; e joias, incluindo dois colares com um significado muito especial para minha mãe – um da avó dela e outro com meus irmãos e meus nomes gravados nele.
Este momento foi terrível. Estávamos em Madrid, longe de casa; não falamos a língua, não tínhamos mais dinheiro conosco, nem passaportes e tínhamos um voo para pegar em algumas horas. Como uma reação natural, minha mãe começou a entrar em pânico e gritar; meus irmãos começaram a chorar; e eu estava tentando entrar em contato com meu pai em Israel. “Emergência”, “responda o mais rápido possível”, “A bolsa da Ima (mamãe) foi roubada e estamos presos na Espanha a menos que encontremos essa bolsa!”
Essa foi a mensagem que enviei ao meu pai. Havia duas mulheres trabalhando no balcão da Starbucks, e minha mãe implorou para que a ajudassem. Uma mulher disse que viu um homem sentado no canto, e ele deve ter visto minha mãe pagar o café, notou que ela deixou a sacola, pegou e saiu.
Aparentemente, é sabido que há batedores de carteira em restaurantes e cafés em Madrid, e outros lugares frequentados por turistas. A primeira coisa que minha mãe fez foi chamar a polícia do telefone da Starbucks, mas não adiantou nada; eles disseram que tínhamos que ir até a delegacia pois não podiam vir até nós. Isso pode parecer um choque para algumas pessoas, mas havia três clientes sentados naquele Starbucks. Eles viram o que havia ocorrido, mas nenhuma ajuda foi oferecida.
Muitos olharam para nós com pena, no entanto não o suficiente para que sentissem a necessidade de ajudar. Continuaram bebendo seus cafés como se nada tivesse acontecido. Esse foi o momento em que soube que estávamos sozinhos. Podemos estar cercados de pessoas, mas estávamos completamente sozinhos nesse desastre.
Depois de perceber que a polícia era inútil, minha mãe se lembrou do homem Chabad que encontramos mais cedo naquela manhã. Peguei emprestado o telefone da Starbucks e procurei rapidamente o número do Chabad de Madri.
Mesmo do outro lado do mundo, D'us estava nos observando, e D'us nos enviou ajuda. Como diz o ditado: “Mesmo na ocultação dentro da ocultação, mesmo lá, Hashem certamente será encontrado”.
O senhor Chabad que conhecemos antes, descobrimos agora, é o rabino Zalman Goldstein. Ele largou o que estava fazendo e veio nos ajudar. Ele nos encontrou perto do Starbucks, acalmou minha mãe, caminhou conosco até seu Beit Chabad, pediu para colocarmos nossos itens pessoais no chão e nos ofereceu comida e bebida. Ele nos disse que a primeira coisa que devíamos fazer era ir até a embaixada israelense a fim de providenciar passaportes para podermos pegar o voo.
Minha mãe se sentiu péssima de pedir isso a ele, mas estávamos presos sem um centavo conosco. O rabino Goldstein colocou a mão no bolso e pegou todo o dinheiro que tinha e o entregou com um sorriso para minha mãe. Eram € 120 (cerca de US$ 120). Ele não perguntou o nome dela, não pediu seus dados bancários para devolver o dinheiro, nem pediu nada em troca, só queria ajudar. Esse foi o dia em que percebi que existem pessoas terríveis neste mundo que fazem coisas por pura maldade, mas há tantas, se não mais, pessoas altruístas e boas neste mundo que agem genuinamente movidas por seus grandes corações.
Chegamos à embaixada de Israel depois de correr e pegar vários táxis apenas para tirar fotos para nossos passaportes. Minha mãe contou à mulher atrás do balcão o que havia acontecido e que tínhamos que embarcar em um voo em apenas algumas horas. A mulher disse que eles poderiam tentar nos colocar no voo. Essa foi uma ótima notícia.
Mas essa notícia foi seguida por mais apreensão. “São 164 euros, senhora”, disse a mulher à minha mãe. Minha mãe caiu em prantos e respondeu que não tínhamos absolutamente nada. Nunca vi minha mãe tão desamparada. Isso me fez sentir muito grata pelo fato de que até aquele momento, eu nunca senti como se não pudéssemos obter algo que precisávamos por causa de um problema financeiro. Tentei entrar em contato com meu pai, e ele fez o possível para transferir o valor para a embaixada, mas transferir dinheiro de Israel para a Espanha em uma hora era algo simplesmente impossível. Então enviei uma mensagem para a única pessoa que nos ajudou: Rabi Goldstein. Trinta segundos depois, ele respondeu e me disse que resolveria isso. Dois minutos depois, a quantia de 164 euros foi transferida para a embaixada e recebemos nossos passaportes. A gentileza que ele nos mostrou foi inacreditável. Ele não apenas pagou e nos ajudou tanto, mas agiu prontamente com tanta facilidade fazendo parecer que não era um fardo para ele. Ele nos salvou naquele dia.
Voltamos então para o Beit Chabad, e o rabino Zalman Goldstein nos ofereceu uma refeição quente, bebidas e um lugar para sentar. Ele até se desculpou pelo fato de “não ter sido suficiente” porque sua esposa não estava em casa para nos servir uma refeição melhor.
O resto do dia incluiu muitas lágrimas, tefilot (orações), corridas de táxi, uma parada na delegacia de polícia, encorajamento, colapsos, mas o mais importante, um voo de volta para Israel.
Sem este homem e sua família estaríamos presos na Espanha e teríamos muito menos confiança e esperança na humanidade. Sempre me perguntei por que Chabad faz o que eles fazem; no passado, eu até os critiquei, sem entender por que precisamos de Chabad nesses lugares pequenos e isolados do mundo. Agora eu sei exatamente por quê.
Eles fazem um grande kidush Hashem, e assumem para si e suas famílias uma responsabilidade tão grande por motivos como este. Os sábios dizem: “Em um lugar onde não há homens, esforce-se para ser um homem”. (Avot 2:5) Isso é o que Chabad faz; eles fazem isso em lugares onde se pensaria que não há pessoas que seguem os caminhos de Hashem, e é aí que eles são as pessoas. Infelizmente, aprendi da maneira mais difícil o que realmente significa que “todo judeu é responsável por todos os outros”.
Na Terra Santa, não apenas sentimos compaixão, não olhamos para outra pessoa que está passando por um momento difícil e apenas lamentamos e sentimos pena dela. Sentimos a dor delas, mas então reagimos como se isso estivesse acontecendo conosco e fazemos o que for preciso para ajudar nossos irmãos e irmãs.
E é isso que Chabad faz – o que puder para ajudar seus irmãos e irmãs onde quer que estejam. Em nome de minha família — meus pais, Kenny e Elana; meus irmãos, Zvi e Yakira; e eu, Avital — agradeço de todo o coração ao rabino Zalman Goldstein e sua família e jamais esquecerei esse enorme chesed (bondade) que fizeram por nós.
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