Em 11 de Nissan de 1982, o Rebe estava completando 80 anos. E assim, é claro, seus chassidim queriam ir a Nova York para celebrar essa data e estarem presentes no farbrenguen que o Rebe faria para a ocasião.
O problema era que todos queriam ir, mas nem todos podiam. Alguns chassidim até escreveram ao Rebe para dizer a ele como se sentiam mal porque não podiam pagar a passagem, ou porque Pêssach seria apenas alguns dias depois. Portanto, algumas semanas antes, o Rebe anunciou que ninguém deveria fazer uma viagem apenas pelo seu aniversário.
Restrições como essa não eram novas. Falando geralmente, o Rebe somente deu permissão para seus emissários de outros países – como meus pais, que eram os emissários do Rebe na França – para visitar a cada dois anos. Para ir em qualquer outra época, eles precisavam de um motivo especial.
Felizmente, tínhamos uma boa desculpa para quem se perguntasse como ainda fazíamos isso em Nova York: meu Bar Mitsvá seria no dia após o aniversário do Rebe em 12 de Nissan – não em Paris, mas em Nova York. Então meus pais, e todos os outros chassidim franceses, não iriam para Nova York naquele ano em homenagem ao aniversário do Rebe, mas em honra do bar mitsvá de Mendel Azimov.
Foi uma experiência incrível. O Rebe fez um farbrenguen na tarde de domingo que durou até a noite, nas primeiras horas do meu bar mitsvá. Quando o farbrenguen terminou, o Rebe anunciou que ele queria agradecer a todos por terem vindo, e iria pessoalmente entregar uma cópia do Tanya para todos os presentes. Ele somente terminou de distribuir os livros às 6 horas da manhã, e depois disso, foi chamado para a Torá pela primeira vez, e então marcamos outro farbrenguen para celebrar meu bar mitsvá. Quando voltamos à França para Pêssach, estávamos repletos de inspiração.
Antes de ir para casa, minha família fez uma visita à Rebetsin Chaya Mushka, a esposa do Rebe. Minha mãe tinha um relacionamento próximo com ela, e às vezes era convidada quando estávamos em Nova York. Naquele ano, fui junto e recebi uma bênção da Rebetsin pelo meu bar mitsvá.
O assunto do banimento da viagem de aniversário do Rebe veio à tona assim que chegamos. “Zalman Jaffe estava ali,” ela declarou, referindo-se ao chassid de Manchester. Ele também tinha decidido ir para a celebração, apesar das objeções do Rebe, e estava incerto se tinha feito a escolha certa. A Rebetsin, porém, tinha assegurado a ele: “Bons amigos,” ela repetiu para nós. Não estavam incluídos no decreto.
Achamos que isso significava que tínhamos feito a coisa certa: Quem não tinha ido a Nova York para o aniversário, não foi, mas quem foi – podia ser considerado “um bom amigo” do Rebe e da Rebetsin.
Um bom amigo sabe estar ali para uma ocasião feliz, mas também sabe como apoiar durante tempos difíceis, como f oi o caso anos depois. 1986 foi um ano difícil, muito difícil para Lubavitch.
Uma disputa envolveu a biblioteca do Rebe. Os livros tenham pertencido ao Rebe Anterior, que possuía uma vasta coleção de obras sagradas e manuscritos que, após seu falecimento, ficaram na posse do Rebe. Em 1985, foi descoberto que livros estavam começando a desaparecer da biblioteca e que o sobrinho do Rebe os estava roubando. Por fim, ele contestou a posse do Rebe sobre a coleção, e num sentido mais profundo, ele desafiou o próprio Rebe.
Por fim, essa disputa foi ao tribunal. O Rebe levou toda a ordem ao coração. Uma das maneiras em que isso era óbvio estava na frequência com a qual o Rebe começou a ir ao Ohel – o local de descanso do Rebe Anterior.
Em tempos normais, o Rebe ia ao Ohel duas vezes por mês, além de outras ocasiões especiais. Portanto fui surpreendente quando, assim que o caso da corte começou, o Rebe começou a ir todo dia. O significado dessas visitas não pode ser entendido. O Ohel é um lugar de grande santidade, o local de enterro não apenas do sogro do Rebe, mas de seu Rebe. Da mesma forma, ele investia muita energia sempre que ia lá. Primeiro, ele imergia nas águas de um micvê, então ia ao cemitério no Queens, onde estava localizado o Ohel. Ele passava muitas horas ali, de pé o tempo todo, antes de voltar ao 770 para a tefilá. Muitas vezes tarde da noite.
O Rebe jejuava durante os dias em que ia ao Ohel, e somente comia após as preces da noite. E então na manhã seguinte, ele fazia novamente a mesma coisa, e essa sequência se repetia.
Para os chassidim, era difícil ver tudo isso. Ficávamos preocupados com a saúde do Rebe e queríamos apoiá-lo em sua luta espiritual. Então tudo que pudéssemos fazer para tornar as coisas mais fáceis e felizes para ele, tentávamos fazer.
Eu era um aluno da yeshivá Lubavitch em Londres na época. Todos os dias, separávamos uma hora e meia cedo pela manhã para recitar o livro inteiro de Tehilim. Fazíamos um estudo extra de Torá, especialmente os ensinamentos do Rebe, junto com outras atividades adicionais. Esperávamos trazer ao Rebe algum consolo e alegria.
Enquanto isso, meu pai, Rabino Shmuel Azimov, viajou da França para Nova York por alguns dias naquele inverno de 1986. Ele estava ali para o início do julgamento e achou-o muito desgostante.
“Não eram apenas os chassidim que estão sentados ali perante o juiz,” ele exclamou. “É o Rebe que foi arrastado até o tribunal!”
O pensamento do Rebe sendo desafiado na corte estava incomodando profundamente o meu pai. Quando ele chegou em casa, decidiu fazer algo para atenuaro sofrimento do Rebe.
Num sábado à noite em paris, meu pai convidou todos os chassidim da cidade para uma grande reunião. Nessa reunião, ele pediu a todos para se comprometerem mais com as campanhas do Rebe: ajudar mais pessoas a colocar tefilin, afixar uma mezuzá em sua porta, acender a chanukyiá, e outras atividades.
Mais tarde naquela noite, meu pai preparou um relato completo sobre o evento. O nome de todos foi escrito, junto com as resoluções que tinham tomado. Então ele enviou ao Rebe via fax.
O dia seguinte era domingo. Como ele sempre fazia antes de ir ao Ohel, o Rebe foi imergir no micvê, e então voltou ao 770, de onde ia para o Queens. Mas antes de ir, o secretário do Rebe, Rabi Binyamin Klein, entregou o relato do meu pai ao Rebe. Ele leu cuidadosamente o relato, e então voltou-se para o Rabino Klein: “Hoje, eu não preciso ir ao Ohel.”
Ele não deu nenhuma explicação, mas tudo que sabemos é que houve uma súbita mudança de planos, e ficamos em Crown Heights naquele dia. Para surpresa de todos, minchá foi feito no horário normal. Para os chassidim essa era uma grande lição a ser aprendida: quando você acrescenta boas ações e toma boas resoluções em Paris, isso pode fazer uma diferença em Nova York. Meu pai usou essa ideia mais tarde muitas vezes para ilustrar o quanto uma pessoa pode fazer para ajudar o Rebe em sua obra, e aproximar mais a vinda de Mashiach.
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