Minha história começa com meu avô – Rabino Avraham Sender Nemtzov – na Rússia. Em 1897, após passar seis anos como um recruta no exército do Czar – durante os quais ele conseguiu manter a Torá e comer apenas casher – ele chegou à cidade de Lubavtch, onde o Rebe Rashab, o quinto Rebe de Lubavitch, estava no processo de abrir sua nova yeshivá, Tomchei Temimim.

A princípio, meu avô foi rejeitado pelo administrador da yeshivá, Rabino Yosef Yitzchak, o filho de dezessete anos do Rebe Rashab. O motivo foi que meu avô era então um homem casado com vinte e sete anos, ao passo que a maioria dos outros alunos era formada por adolescentes.

Mas meu avô insistiu em ser aprovado pelo próprio Rebe Rashab. Ele argumentou que poderia ter ido para outra yeshivá, mais estabelecida e mais conhecida, onde teriam recebido um estipêndio. Em vez disso, estava indo a uma nova yeshivá, sem nenhuma reputação, e estava fazendo isso porque tinha vindo de raízes chassídicas e queria que seus descendentes fossem chassidim. Ele disse ao Rebe Rashab: “Não me aceite apenas por mim mesmo, mas pelos meus netos e bisnetos, e todas as gerações vindouras.” E por causa disso, ele recebeu permissão de entrar.

A decisão do Rebe Rashab teve um efeito direto sobre todas as nossas vidas – sobre meu pai, sobre mim mesmo, e sobre meus filhos. Somos todos Lubavitchers e comprometidos a espalhar ensinamentos chassídicos onde quer que estejamos.

Meu avô passou vários anos estudando em Tomchei Temimim, onde se tornou amigo do administrador que inicialmente o tinha rejeitado, o filho do Rebe Rashab, que mais tarde sucederia seu pai como o sexto Rebe e se tornaria conhecido como o Rebe Rayatz.

Mesmo depois que meu avô deixou a yeshivá para se tornar um shochet e imigrar para Manchester, na Inglaterra, ele manteve contato regular com o Rebe Rayatz via correspondência. Eles se viram somente uma vez – em 1937, quando o Rebe Rayatz visitou Paris e meu avô foi lá para encontrá-lo. Naquela reunião, o Rebe Raytz disse a ele: “Du hustu gezucht der emes, du hust gefunen der emes un Du lebst mit der emes – Você procurou a verdade, encontrou a verdade e vive com a verdade.”

Meu avô permaneceu na Inglaterra, ganhando a vida como shochet durante quarenta anos, até se aposentar em 1945. Quando o Rebe Rayatz falecu em janeiro de 1950, meu avô enviou um telegrama aos chassidim em Nova York, concluindo com a célebre frase: “v’Hashem yisborach yinachameinu b’Menachem – Que D'us nos console com Menachem,” referindo-se ao genro do falecido Rebe, Rabi Menachem Mendel Schneerson, também conhecido como o Ramash, que muitos chassidim queriam que se torna-se o próximo Rebe.

Meu avô estava entre os primeiros que discerniam que o Ramash deveria ser o próximo Rebe e sua influência se mostrou significativa. No primeiro aniversário de falecimento do Rebe Rayatz – após se passar um ano sem o Rebe aceitar formalmente o cargo – meu avô foi a Nova York e desempenhou um papel decisivo. Em comemoração daquela ocasião, um farbrenguen foi feito e as pessoas vinham de longe e de perto para testemunhar o evento histórico, em antecipação. A multidão – cerca de 800 homens – encheram o salão da sinagoga de parede a parede, esperando ansiosamente pelo que iria acontecer.

No início, o Ramash fez várias palestras de Torá (sichot) durante as quais ele falou sobre o Rebe Anterior e encorajou todos os chassidim a continuarem a obra que ele havia iniciado. Após cerca de uma hora se passar, meu avô – que na época estava na casa dos 80 anos – levantou-se e disse: “Todos querem ouvir um discurso chassídico (maamar). As palestras de Torá são boas, mas agora precisamos ouvir ensinamentos chassídicos.”

Para a mente do meu avô e as mentes dos chassidim que estavam ali, um discurso chassídico – que geralmente é feito apenas por um Rebe – iria indicar que o manto da liderança estava sendo aceito. Todos entenderam isso, e quando meu avô fez sua declaração, a sinagoga inteira ficou em silêncio. Todos aguardavam com a respiração presa.

E então o Ramash famosamente começou: “No discurso que o Rebe [Rayatz] fez para o dia de seu falecimento, ele começa com Basi l’gani – Cheguei ao meu jardim…”

Ele começou com os ensinamentos do Rebe Anterior sobre este versículo do Cântico dos Cânticos, e então seguiu com seu próprio discurso a partir dali. Em seguida, o Rebe fez uma pausa no discurso, então com grande empolgação meu avô levantou-se e anunciou a todos ali reunidos: “D'us nos ajudou! Temos um Rebe! Vamos todos dizer l’chaim para o novo Rebe!”

A alegria dos chassidim foi indescritível.

Essa é a história do importante evento que houve na história de Chabad. Foi por causa das palavras de chassidim como meu avô que o Rebe aceitou a liderança numa época em que estava relutante em assumir o cargo.

E é assim que minha história faz um círculo total. Se o Rebe Rashab não tivesse permitido ao meu avô ir à yeshivá Tomchei Temimim, ele jamais teria chegado naquele tempo e local onde ficou em prol dos chassidim e implorou ao Rebe para os liderar. Eu ousaria dizer que o Rebe Rashab teve grande previsão – ele sabia exatamente o que estava fazendo.