A conexão da minha família com o Rebe começou em 1971 quando meu pai, Tzvi Caspi, trabalhava para o serviço estrangeiro de Israel em Nova York e o Presidente, Zalman Shazar, foi aos Estados Unidos. O Sr. Shazar – que nasceu na Rússia numa família Lubavitch – queria visitar o Rebe, e meu pai recebeu a tarefa de fazer os arranjos.
Eu tinha dez anos na época, e lembro-me bem da visita do presidente. Quando ele estava saindo, o Sr. Shazar disse ao meu pai: “Sabe, o protocolo é que quando o líder de um país viaja para outro país, sua primeira visita é para o líder do pais visitado. Estou visitando nosso líder, e é por isso que minha primeira visita foi para o Rebe.”
A partir dali, desenvolveu-se uma forte conexão entre meu pai e o Rebe. Eles se encontraram muitas vezes, engajando-se em conversas intensas que se prolongavam noite adentro.
Para Simchat Torá de 1971, o Rebe convidou um grande grupo de diplomatas e dignitários israelenses a participar na dança com a Torá no 770 da Eastern Parkway no Brooklyn. Meu pai estava muito feliz por organizar o evento, e ele também me levou.
Lembro-me claramente da densa multidão, do barulho e comoção, olhando de uma alta plataforma para um mar interminável de chapéus pretos. E então, de repente, a sala ficou em silêncio. Você poderia ouvir uma gota de água caindo. E o mar de chapéus se abriu como por mágica, formando um caminho através do qual o Rebe entrava. Assisti pasmado – esse foi meu primeiro encontro com o fenômeno chamado Chabad-Lubavitch – encantando-me com a conexão especial que o Rebe tinha com seus chassidim.
A certa altura durante a noite, meu pai apresentou-me ao Rebe, que me pediu para recitar um dos versos do serviço de Hakafot em voz alta, para ser ouvido na sala inteira. Lembro-me do verso: “D'us é Rei, D'us era Rei, D'us será Rei para todo o sempre.” Depois o Rebe congratulou-me pela tarefa bem feita, dizendo: “Eu não sabia se você iria conseguir, portanto dei-lhe um versículo fácil.”
Este foi meu primeiro encontro com o Rebe.
No ano seguinte, o Rebe novamente convidou os diplomatas para Simchat Torá, e dessa vez eu sabia o que esperar. E novamente, o Rebe me homenageou pedindo para eu recitar um versículo. Dessa vez era: “Que a glória de D'us dure para sempre, que D'us encontre deleite em Suas obras.” Em seguida, o Rebe me disse: “Lembro-me que no ano passado você foi bem, portanto lhe dei um versículo mais difícil dessa vez!”
Meu terceiro encontro com o Rebe ocorreu meio ano depois, quando nossa missão de três anos em Nova York terminou e íamos retornar a Israel. Na época eu tinha doze anos, e meu pai queria que eu recebesse uma bênção do Rebe para meu próximo bar mitsvá. E assim tive o privilegio de encontrar-me novamente com o Rebe.
Dessa vez o encontro ocorreu no escritório do Rebe. Ele perguntou como eu estava me preparando para o Bar Mitsvá, e eu disse que estava aprendendo a Parasha Shemot, a primeira porção no Livro Shemot, que eu esperava ler do Rolo de Torá.
“Ah, Parashá Shemot,” disse o Rebe, “esta é uma porção muito importante. Começa com o início do exílio, mas imediatamente descreve as sementes da redenção. Conta-nos a história de Moshê e menciona como os judeus se voltaram para D'us, e Ele ouviu suas preces. O processo que começou então levou para liberdade da escravidão, o êxodo do Egito e a outorga da Torá no Monte Sinai.”
O Rebe falava comigo em hebraico misturado com algum yidishe, que eu nem sempre entendia. Ao final do encontro o Rebe apertou minha mão e me disse em hebraico: “Brachá vehatzlachá – Bênção e sucesso,” e então acrescentou em yidishe “Zei gezunt un shtark – Seja saudável e forte.” Eu não estava totalmente certo do significado, portanto perguntei ao meu pai: “Aba, o Rebe está me abençoando para que eu seja saudável? Não estou doente.” O Rebe ouviu minha pergunta e esclareceu em hebraico: “Estou abençoando você com saúde robusta.”
Quase quarenta anos depois, cheguei a entender o que o Rebe queria dizer. Comecei a ter problemas sérios com minha coluna vertebral, que piorou até que fiquei paralisado. Eu não podia caminhar e estava confinado a uma cadeira de rodas.
Buscando pela cura, encontrei um hospital nos Estados Unidos – a Clínica Cleveland – onde os médicos usavam um novo tratamento para permitir-me lentamente voltar a caminhar por conta própria.
Durante minha recuperação, meu fisioterapeuta levou-me a um campo de futebol. Para mim era difícil e dolorido me mover, porém aqui fui solicitado a jogar bola. O fisioterapeuta atirou a bola para mim, e consegui pegá-la com as mãos.
Foi um feito para mim, e fiquei repleto de emoção. A tal ponto que comecei a tremer. Naquele momento eu vi, perante meus olhos, o rosto bondoso e compreensivo do Rebe, e lembrei dele dizendo “seja saudável e forte… Estou abençoando você com saúde robusta.”
Graças a D'us, pude retornar a Israel e me recuperar totalmente. Foi assim que mereci ver a bênção do Rebe cumprida.
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